Virgínia Souza está presa por suspeita de matar pacientes em Curitiba.
Advogado dela diz que irá alegar 'inexistência do fato criminoso'.
213 comentários
Elias Mattar Assad e o filho de Virgínia concederam
entrevista nesta terça (Foto: Fernando Castro/G1)
entrevista nesta terça (Foto: Fernando Castro/G1)
Virgínia, que era chefe da UTI do hospital, está presa desde terça-feira (19), após uma operação policial que também recolheu prontuários médicos. Ela foi indiciada por homicídio qualificado, ou seja, por acelerar a morte de pacientes sem chances de defesa para liberar leitos na UTI do Evangélico.
Após a prisão, o hospital divulgou nota afirmando que o caso é pontual e aconteceu em uma das quatro UTIs do hospital, na qual toda a equipe foi substituída. No total, 47 pessoas, entre 13 médicos e 34 enfermeiros.
A carta coloca em xeque a investigação, questionando a inexistência de provas válidas. “O livre exercício da medicina está em risco no Brasil”, diz trecho do documento. Ela diz que se o modelo de investigação da polícia paranaense obtiver êxito, qualquer morte em UTI poderá ser considerada imperícia ou mesmo homicídio qualificado.
“A ciência médica não pode ser relativizada ou mesmo inviabilizada no seu livre e ético exercício, pelos altos riscos a que doravante estarão expostos os seus profissionais”, diz outra parte da carta. O texto ainda classifica a investigação como “o maior erro investigativo e midiático da nossa história”.
saiba mais
A carta segue a linha de raciocínio que será empreendida pelo advogado
de defesa. Assad afirmou que, em vez de alegar inocência da médica, irá
questionar a inexistência do fato – ou seja, que não há provas que
confirmem assassinatos na UTI do Evangélico. “A polícia não está
conseguindo comprovar a existência de fato criminoso. Exibiram algum cadáver dizendo que a morte dele se deu por causa que não aquela declarada no atestado de óbito? Eu desafio a polícia”, afirmou Assad.
Segundo Assad, o fato de a polícia manter o caso sob sigilo é reflexo desta falta de provas alegada, razão pela qual ele irá pedir a abertura do processo para a população.
“Esse sigilo está se dando não no interesse a minha cliente, está se dando no interesse de quem não conseguiu provar a materialidade de algum crime. Para ter homicídio qualificado, tem que ter um morto, tem que ter um laudo do IML dizendo que aquela morte foi causada por alguém e isso não existe”, disse o advogado.
De acordo com ele, que teve acesso ao inquérito, as investigações da polícia não são baseadas em provas, já que os laudos do Instituto Médico-Legal batem com os laudos feitos no Hospital Evangélico - com assinatura de outros médicos que não Virgínia. "Ela era intensivista, quem assinava a causa de morte eram os médicos de cada paciente", sustenta o jurista.
O advogado de Virgínia ainda desqualificou as denúncias de que ela dava preferência a pacientes de convênio em desfavor de pacientes do SUS. “90% dos pacientes dela eram do SUS, enquanto 10% eram de convênio. A maioria absoluta era SUS e nunca ela tratou alguém de maneira disforme. Nunca se verificou disparidade”, justificou Assad.
Médica é suspeita de mortes no Hospital
Evangélico (Foto: Reprodução/RPCTV)
Evangélico (Foto: Reprodução/RPCTV)
O filho de Virgínia, Leonardo de Souza Marcelino, afirmou que a mãe foi vítima da ação de funcionários que possuíam diferenças de trabalho com ela e a denunciaram. “Ela sempre foi uma pessoa grosseira, e me parece natural que alguém que trabalhe em uma área de emergência, que tem que falar com familiares e depois ir acolher e abraçar, seja naturalmente mais tensa.
Com o passar dos anos, por ter o temperamento forte, ela criou muito mais inimigos, dentro do hospital, do que amigos – e ela poderia ser acusada de várias coisas nesse sentido, mas não de descaso com paciente. Isso é absurdo, e qualquer médico e enfermeiro que trabalhou com ela vai testemunhar isso”, defendeu Leonardo.
Para Leonardo, a suspeita de que Virgínia atuava para receber dinheiro dos pacientes conveniados é absurda, e que nunca ouviu nenhum indício sobre a prática. Apesar de ser professor de música, ele contou que acompanhava a mãe periodicamente no hospital. “Eu vejo muito mais pacientes gratos ao trabalho dela, do que pessoas com rancor de alguma situação”, garantiu.
Ex-enfermeiros defenderam a postura médica de
Virgínia (Foto: Fernando Castro/G1)
Virgínia (Foto: Fernando Castro/G1)
Também estiveram presentes na coletiva ex-funcionários do Evangélico que defenderam a postura de Virgínia como profissional, ainda que ela fosse dura com os trabalhadores. “É óbvio que existem situações de tensão dentro de uma UTI, isso é perfeitamente normal - você está lidando com vida e morte o tempo todo. Tiveram alguns momentos sim (de tensão), até por conta de salvar a vida do paciente”, disse a enfermeira Liliane Andrade.
A enfermeira conta que Virgínia era temida por parte dos funcionários, mas não por conduta irregular, e sim por cobranças rígidas. “Ela sempre cobrou muito da equipe”, lembra Andrade. Para o enfermeiro Claudinei Nunes, essa forma de cobrança fez com que a médica criasse inimizades profissionais, que acabaram resultando nas denúncias. “95% dos funcionários do Hospital Evangélico têm aversão à doutora, justamente por ela ser extremamente rígida, fazer a coisa certa, cobrar e exigir que tudo funcione em tempo real”, afirmou.
O processo corre em sigilo judicial, por isso detalhes sobre o inquérito não foram concedidos pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa).
Nenhum comentário:
Postar um comentário