Ela afirma que tem o sonho de ajudar pessoas com problemas como os dela.
Estudante abandonou o emprego para se dedicar ao curso de enfermagem.
Auristela Viana da Silva, jovem de Brasília que nasceu sem a língua, quer ser dentista ou nutricionista. Estudante do curso técnico de enfermagem, ela afirma que tem o sonho de se formar em uma das áreas que foram importantes para melhorar sua qualidade de vida.
“Pretendo estudar, me formar, para poder ajudar as pessoas que têm a mesma anomalia que eu ou outras anomalias”, diz.
Auristela, de 23 anos, trabalhou durante dois anos em um supermercado. Em 2012 ela decidiu deixar o emprego para se dedicar aos estudos. "Eu quis trabalhar porque queria ter o meu dinheiro, ter experiência de vida. Foi bom, eu gostava de trabalhar, mas queria me dedicar mais aos estudos. Eu gosto de estudar e sempre tiro boas notas. Só tiro 'apto' nas provas", diz a jovem.
“Ela é responsável, comprometida, chegava no horário", diz uma colega de trabalho. "Nunca teve problema. A gente não queria que ela saísse, mas ela não estava conseguindo conciliar o trabalho com o estudo. A gente até tentou mudar o horário de trabalho dela, mas não foi possível”, afirma. Auristela conta que foi necessário escolher. "Eu entrava muito cedo, às 5h. Não dava pra estudar direito", diz.
O tempo para os estudos também pesou no último namoro. “A gente se dava bem, mas eu queria era estudar, e não estava sobrando tempo para ele", afirma. Agora, a intenção dela é se formar primeiro e depois se casar. O curso de enfermagem, com duração de dois anos, deve ser concluído em abril de 2014. Ela diz estar na expectativa de fazer um estágio em um centro de saúde da capital ainda neste ano. "Tem outra coisa que também quero estudar, que é arquivologia", diz.
Estudante
Auristela Viana da Silva, que nasceu sem
a língua, mostra como era a
parte interna de sua boca
antes das duas cirurgias para alargar a
mandíbula
(Foto: Lucas Nanini/G1)
Auristela nasceu com uma anomalia rara chamada aglossia. O caso da estudante de Brasília é um dos três únicos já relatados na literatura médica, de acordo com o cirurgião maxilofacial Frederico Salles. Os outros dois casos ocorreram nos Estados Unidos.
O cirurgião afirma que a menina só sobreviveu porque a mãe conseguia alimentá-la esguichando o leite materno direto na garganta. “Eu achei interessante que no caso da americana [outra paciente que nasceu com a mesma anomalia] a mãe dela fez a mesma coisa que eu”, afirma a mãe da jovem, a dona de casa Adriana Silva.
Novos sabores
Desde pequena, a estudante só consumia alimentos pastosos, triturados no liquidificador ou líquidos. A mudança radical aconteceu quando os pais da menina tiveram uma segunda filha. Auristela tinha 6 anos quando decidiu que “não seria mais a bebê da casa”.
Auristela Silva ao lado do pai, José Silva, e da mãe, Adriana
Silva. Jovem leva vida normal e sonha casar e ter filhos
(Foto: Lucas Nanini/G1)
Silva. Jovem leva vida normal e sonha casar e ter filhos
(Foto: Lucas Nanini/G1)
Apesar de não ter língua, a estudante sabe distinguir sabores desde criança. Segundo a nutricionista Patrícia Costa Bezerra, estudos sugerem que há papilas gustativas, responsáveis por esta percepção, em outras regiões da boca.
Durante testes, Auristela mostrou que identifica os sabores com mais facilidade que pessoas da mesma faixa etária. Nessas avaliações, ela e outros cinco jovens deveriam identificar o doce, o amargo, o ácido e o salgado.
"O que percebemos é que ela tem uma percepção muito apurada. Parece que ela desenvolveu uma habilidade que permite ter maior sensibilidade. O mesmo aconteceu com a americana que também não tem língua", afirma Patrícia.
Os doces, em especial os brigadeiros e bolos, são os alimentos prediletos dela. Ela também diz gostar de chocolates, arroz, frango, peixe, macarrão e outras massas.
O odontólogo Frederico Salles afirma que a jovem conseguiu aprender a falar porque os músculos da parte debaixo da boca dela são três vezes mais fortes que o normal e tocam os dentes. A estudante fez acompanhamento com psicólogo, fonoaudiólogo, nutricionista, dentista e dois cirurgiões durante 16 anos. Atualmente, ela se consulta a cada 15 dias com uma fono e vai uma vez por ano ao dentista para fazer limpeza bucal.
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