1) Como se explica o fato dos brasileiros não lembrarem em quem votaram nas últimas eleições?
R: Vamos começar pelo conceito de memória. Maurice Halbwachs sugere que
toda memória está inserida num contexto grupal, família, comunidade
próxima. Ela pode ser um flash, quando ouvimos uma música ou sentimos um
aroma que nos remete à uma avó; ou pode ser ideológica, quando criamos
uma interpretação a um fato vivido e que reinterpretamos á luz do que
vivemos hoje. A memória é construída socialmente (ou na relação social) e
sem a presença do outro ela permanece como um dado encostado, sem uso.
Ora, a grande maioria dos eleitos no Brasil não reaparecem nos locais em
que pediu votos. Priorizam seus pares ou a grande imprensa. Por outro
lado, a vida política está apartada da vida cotidiana. Em outras
palavras, não há relação direta entre direito, país e política em nosso
país. Somos, neste sentido, uma sociedade dual, onde a vida política
decide, e os eleitores apenas confirmam os interesses de quem quer subir
para esta escala social. Não há relação de representação ou
espelhamento (representação é espelho social).
2) Analise as influências que as pessoas sofrem na hora de escolher o
candidato. Fizemos uma enquete com eleitores e em várias respostas
apareceu o dado de que os eleitores desejam melhorias baseadas em suas
necessidades particulares. Como interpretar esta situação?
R: É uma situação básica da relação política. Primária. As necessidades
são individuais; os interesses são coletivos e somente os direitos são
universais. A situação de relacionar uma necessidade imediata com a
política reafirma minha primeira resposta. No Brasil, a política não
gera noção de direito, de algo vinculado à humanidade. Relaciona-se com
comércio. E não é apenas do eleitor com o candidato, mas é a base da
relação entre eleitos, governantes e parlamentares. É o fundamento do
patrimonialismo. Sem um sistema político efetivamente representativo,
que o mandato fica preso às intenções do eleitor, não há como superarmos
esta relação primária.
3) Por que os candidatos sempre propõem melhorias nas mesmas
questões? E se estas são as reivindicações da população por que não
percebemos melhorias nessas áreas?
R: Porque os candidatos visam sua eleição e não a melhoria de vida da
população. Elaboram plano de campanha e não estratégias de
desenvolvimento. Acompanhe como uma campanha está sendo planejada para
este ano eleitoral. Perceberá que o candidato estuda seu público-alvo,
os gastos que deverá realizar, os apoiadores que terá que conquistar e
pede, quase em súplica, para alguém formular um slogan de campanha e um
discurso básico. Nada mais que isto.
4) Qual sua análise sobre o caso de famílias que revezam seus membros no poder?
R: É a base do patrimonialismo brasileiro. E se renova. Veja ACM Neto,
na Bahia; Rodrigo Mais, no Rio de Janeiro; Rodrigo de Castro, em Minas
Gerais; Aécio Neves e tantos outros. Formam-se dinastias ou tentativas
de formação de dinastias. O que revela que política tem um custo alto e
aqueles que conseguem chegar ao poder, acabam por utilizá-lo como meio
de se diferenciar dos concorrentes. Em outras palavras, quem já atingiu
certo nível de poder, utiliza todos recursos decorrentes desta situação
para sair à frente de concorrentes ou barrar o surgimento de nova
liderança. A renovação política, assim, é estética porque se alteram os
semblantes, mas os objetivos e negócios familiares continuam presentes.
Veja, mais uma vez, que esta lógica rompe com qualquer possibilidade de
representação efetiva. O voto não elege um representante de seu
interesse, mas um representante do clã de origem do candidato.
________________________
Nota: Em Parauapebas, o PT até nisso inovou e amplia o sentido de
família, incluindo os e as "AMANTES" (rsrsrsrsrs), são os "concubineiros
e concubineiras", tamanha a sem vergonhice!!!
Fonte: Blog Sol do Carajás.
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