Apresentadora revelou ao Fantástico que foi vítima do crime. O depoimento provocou discussão em todo o Brasil sobre como é possível identificar casos de abuso e a importância de apoiar medidas para puni-lo.
No domingo de maio (20) à noite, em um depoimento exclusivo ao Fantástico, a apresentadora e cantora Xuxa contou que também foi vítima de abuso sexual. Esse depoimento provocou uma discussão muito útil no Brasil inteiro, sobre como é possível identificar um caso de abuso para proteger uma criança ou um adolescente e a importância de apoiar medidas que coíbam e punam esse crime.
O segredo de um trauma de infância foi revelado no quadro "O que vi da vida", do Fantástico:
“Eu vivi isso. Na minha infância, até a minha adolescência, até os meus 13 anos de idade foi a última vez. Foram algumas pessoas que fizeram isso e em situações diferentes, em momentos diferentes da minha vida" contou Xuxa.
“É um ato de muita coragem poder dizer “eu sofri abuso, eu sou vítima de abuso””, afirma a juíza da Infância e Juventude Cristiana Cordeiro.
Para os psicólogos, o desabafo de Xuxa veio de uma necessidade que costuma acompanhar as vítimas de abuso sexual: falar sobre o problema em um determinado momento da vida. No caso de Xuxa, para ajudar na luta de outros que sofreram o mesmo mal. Uma violência que pode atingir qualquer criança ou adolescente.
“O abuso sexual é uma coisa tão violenta que pode ser comparado com toda certeza a uma tortura”, diz a psicóloga da UERJ Maria Luiza Bustamante.
Nesta segunda-feira (21), em sua página pessoal na internet, Xuxa fez um apelo para que as crianças denunciem os abusos e para que as mães ouçam os filhos e prestem atenção às mudanças no comportamento deles.
“Se a criança está sofrendo um abuso, ela acaba tendo um comportamento mais esquivo, um comportamento mais estranho e muitas vezes esse tipo de comportamento é dirigido a um tipo de pessoa em particular", explica o doutor em psiquiatria Eduardo Ferreira Santos.
“Ao invés de eu falar para as pessoas, eu tinha vergonha, me calava, me sentia mal, me sentia suja, me sentia errada", declarou a apresentadora.
“Nós queremos cada vez mais diminuir a omissão, o silêncio que cobre os atos de violência contra criança e adolescente. Eles têm o direito à proteção social e todos devem saber que abusos ainda existem no Brasil e são contra a lei, são crimes e que devem ser denunciados e punidos”, afirma a pediatra Evelyn Eisenstein.
Cristiana Cordeiro diz que mudanças no Código Penal brasileiro em 2009 trouxeram avanços.
Qualquer ato libidinoso passou a ser considerado estupro e a pena de seis a dez anos de prisão. E, quando a vítima tem até 14 anos, a punição aumenta de oito a 15 anos de cadeia:
"Se não for possível conseguir alguém da família, que seja alguém próximo, alguém de confiança, um vizinho, uma madrinha, um professor até, alguém que possa levar isso até as autoridades. É claro que o Ministério Público vai ter condições de agir mais rapidamente, mas pode ser uma outra autoridade qualquer que encaminhe esse caso para a delegacia de polícia ou para o Ministério Público".
O principal canal do governo federal para recebimento de denúncias é o Disque 100. Só em 2012 foram mais de 34 mil ligações, 71% a mais do que no mesmo período de 2011.
“É uma escuta, que mesmo que seja uma linha telefônica, nós estamos à disposição para receber um telefonema, apoiar essa pessoa e buscar por todos os caminhos apoiar. A Xuxa mesmo tem participado ao longo de muitos anos dessa campanha de divulgação do Disque 100”, fala a secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário.
Xuxa viu seus irmãos apanhando do pai, por isso sempre se engajou em projetos que protegem as crianças e os adolescentes contra qualquer tipo de violência. A apresentadora apóia a campanha "Não bata, eduque". Em maio de 2011, ela esteve no congresso com a rainha Sílvia, da Suécia, pediu rapidez na aprovação do projeto de lei 7672, que proíbe castigos físicos, tratamento cruel ou degradante contra crianças e adolescentes e fez um apelo: “Amar a criança, respeitar a criança”.
O projeto já foi aprovado em uma comissão especial da Câmara e está agora na Comissão de Constituição de Justiça à espera de um relator.
Xuxa há tempos também apóia a luta contra o turismo sexual, especialmente que atinja crianças e adolescentes. Ela empresta sua imagem para o Sesi, que tem um programa chamado "Vira Vida". O objetivo é educar crianças e adolescentes explorados nas ruas e dar a eles um emprego.
A apresentadora atende hoje 450 menores na Fundação Xuxa Meneghel, no Rio de Janeiro, com atividades culturais e de reforço escolar.
Depois do depoimento exibido no domingo (20) no Fantástico, Xuxa disse que vai se empenhar, ainda mais, no congresso e em novos fóruns, na luta em defesa dessas causas.
"Como a gente trabalha com a esperança, a gente espera que tenha sido um exemplo no sentido de que é possível superar essa situação, para todas as pessoas que viveram, inclusive a Xuxa", diz a diretora da Fundação Xuxa Meneghel, Angélica Goulart.
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