Em São Domingos, no nordeste goiano, temperatura ultrapassa os 40ºC.
Educadores acreditam que mudança vai melhorar desempenho escolar.
Creche é uma das unidades que vai ter ar-condicionado (Foto: Divulgação/Ministério Público)
Todas as salas das escolas municipais de São Domingos, cidade onde os
termômetros chegam a marcar mais de 40 graus de temperatura nos meses
mais quentes do ano, passarão a contar com aparelhos de ar-condicionado
dentro da sala de aula a partir da próxima segunda-feira (25). Mais de
mil estudantes e professores serão beneficiados por uma iniciativa do
Ministério Público de Goiás,
que destinou recursos provenientes de multas por crimes ambientais e
delitos de menor potencial ofensivo para comprar 22 equipamentos.Os aparelhos de ar-condicionado não são comuns na cidade, principalmente nas residências, e a novidade já está mexendo com os ânimos dos educadores. Eles acreditam que a mudança poderá ter um impacto positivo no desempenho escolar dos alunos, que obteve Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 3,2 em 2009. A nota do estado foi 4,9 e a do país, 4,6. Parte desse benefício viria da climatização do ambiente por si só e pelo provável fim da necessidade de dispensar os estudantes uma hora antes do fim das aulas, nos meses mais quentes do ano, entre agosto e outubro.
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São Domingos
é uma cidade de 159 anos com 11.272 habitantes, localizada na região
nordeste de Goiás. Segundo o Índice de Pobreza do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), 61,66% da população vive na pobreza. A
economia é baseada na pecuária, mas parte da população também trabalha
em usinas hidrelétricas instaladas na região. A maioria dos habitantes
economicamente ativos é de assalariados. Um grande contingente vive com
um salário mínimo ou menos.Climatização
Para o promotor Douglas Roberto Ribeiro de Magalhães Chegury, a medida representa muito para a comunidade. Ele acredita que, ao climatizar o ambiente, dará mais condições para o desempenho escolar de crianças e adolescentes. “Pretendemos acompanhar esse desenvolvimento e comparar com o período anterior a aquisição dos aparelhos”, diz.
Segundo Chegury, o sofrimento dos estudantes que saem da zona rural para a cidade começa em casa. Eles saem ainda de madrugada, por volta das 4h e 5h, e chegam à escola somente às 7h30. Os alunos permanecem em sala de aula até a hora do almoço, fazem a refeição e retornam para casa. “O ar-condicionado faz parte de um pacote mais amplo de ações para dar mais dignidade às crianças e professores da região nordeste de Goiás. Tivemos a oportunidade de realizar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e ao pensar para onde direcionar o recurso, decidiu-se pelas escolas”, antecipa.
No dia 22 de março deste ano, Douglas Chegury ficou conhecido no estado por ter sido alvo de um atentado, entre os municípios de Campos Belos e São Domingos. O carro dele foi alvejado por pelo menos três tiros, mas nenhum o atingiu. Ele contou que conseguiu correr no meio da vegetação e foi encontrado somente a 5 km de onde teria passado pela emboscada.
Os 22 aparelhos de ar-condicionado foram entregues
na semana passada (Foto: Divulgação/MP)
Na quinta-feira (14) da semana passada a Secretaria de Educação do município recebeu 22 aparelhos do modelo split, que são mais silenciosos. A contrapartida da prefeitura municipal será providenciar forros para que as escolas possam receber os equipamentos. Em uma primeira etapa, as três escolas da cidade (distribuídas em quatro unidades) serão beneficiadas, mas o projeto visa atingir também aos seis estabelecimentos de ensino da zona rural. A previsão é de que os aparelhos das escolas da zona rural sejam custeados pelo município.
A secretária de Educação de São Domingos, Júnia Costa Madureira Silva, também acredita que a iniciativa vai ajudar a melhorar o desempenho dos alunos e servir como incentivo aos professores. “Não é utopia, é fato. O calor excessivo realmente interfere no processo de aprendizagem. Os alunos do período matutino costumam ter melhor desempenho que os estudantes do turno vespertino”, afirma.
Segundo ela, no Setor Aeroporto, localizado na periferia da cidade, muitas casas são feitas de placas de concreto - comumente usadas para fazer muros. Ela conta que a escola do bairro já é uma atração para as crianças por ser um local de estudo e pelas atividades extraclasse como aulas de balé. “Agora, com o ar-condicionado, a escola vai ser melhor lugar ficar: pelas atividades e pelo ambiente”, acredita.
Ajuda
A diretora da Creche Municipal Infância Feliz, Joana D’Arc Soares Barbosa, comemora o benefício concedido às escolas. “A cidade é muito quente. Muito mesmo. Com certeza, esse ar-condicionado vai ser uma ajuda muito boa”, diz.
A unidade funciona nos períodos matutino e vespertino. Durante todo o dia, 21 funcionários entre merendeira, porteira, serviços gerais, professor e coordenador se revezam nos cuidados a 140 crianças de seis meses a cinco anos de idade.
Além do conforto em sala de aula, Joana D’Arc também gostaria de melhores condições do lado de fora. “A creche precisa de uma cobertura para o pátio. Dessa forma, as crianças vão ter mais espaço para brincar. O único local que temos hoje é pequeno e muito quente”, observa a diretora.
Percepção
A destinação do dinheiro de TACs para comprar aparelhos de ar-condicionado foi decidida após reunião com a comunidade de São Domingos, mas a semente foi lançada antes. Na cidade, não existem colégios particulares e os filhos do promotor estudam em escolas públicas. “Um dia, o meu filho de 7 anos percebeu que um coleguinha dormia na sala de aula pela jornada cansativa. Ele chegou em casa e me contou o fato e terminou dizendo que a escola era realmente muito quente e que deveria ter um ar-condicionado. Começamos a conversar com professores, alunos, pais e a prefeitura até chegarmos a ideia de utilizar o dinheiro do TAC”, conta o promotor.
Segundo Chegury, os aparelhos custaram em torno de R$ 22 mil. “Isso é pouco dinheiro se lembrarmos que praças são construídas por até R$ 200 mil”, observa.
Apesar de desejar que o exemplo de São Domingos seja seguido por outras prefeituras e estados, o promotor acha difícil lidar com o dinheiro público, devido à cultura do “desvio do recurso público”.
Para Chegury, esperar por recursos públicos para realizar esse tipo de ação parece ser o caminho mais lógico, mas acaba sendo o mais complicado devido à burocracia e da necessidade de realizar licitações para a compra de material e equipamentos. “O que pode dar margem ao superfaturamento, à corrupção e ao travamento da máquina pública”.
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