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'Ele me tocou', diz ex-seminarista que acusa arcebispo de Belém de abuso sexual. |
Quatro
ex-seminaristas denunciam Dom Alberto Taveira Corrêa de usar seu poder
para investidas sexuais não consentidas em encontros privados. A Polícia
Civil e o Vaticano investigam o caso.
'Ele me tocou', diz ex-seminarista que acusa arcebispo de Belém de abuso sexual.
Uma autoridade da Igreja Católica no Brasil acusada de abuso sexual.
A
reportagem é o resultado de dois meses de apuração jornalística.
Os
repórteres Fabiano Villela e James Alberti ouviram quatro
ex-seminaristas que denunciam Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de
Belém do Pará.
Eles dizem que Dom Alberto usou de seu poder para
investidas sexuais não consentidas em encontros privados.
A Polícia
Civil abriu inquérito para apurar as suspeitas contra o arcebispo, a
pedido do Ministério Público do Pará.
O Vaticano também investiga o
caso.
Assista à reportagem no vídeo acima.
A casa onde vive o arcebispo metropolitano de Belém, Dom Alberto
Taveira Corrêa, é o lugar onde ex-seminaristas dizem ter passado por
seus piores dias.
A menos de um quilômetro de lá, fica o escritório do
arcebispo: a Cúria Metropolitana.
É lá que os arcebispos, em geral,
costumam receber seminaristas para conversar sobre vocação religiosa,
uma prática considerada comum na Igreja.
Os jovens aspirantes a padres que frequentavam esses encontros vêm de famílias simples e muito religiosas.
“Eu sempre fui um rapaz de igreja, fiz catequese.
A minha vida se dividia entre estudar e igreja”, diz um ex-seminarista.
“Desde muito pequeno fazendo primeira comunhão, crisma, etc.
E, junto
com isso, sendo coroinha por muitos anos”, conta outro ex-seminarista.
Além das conversas na Cúria, segundo ex-seminaristas, Dom Alberto também tinha o hábito de receber os jovens em casa.
“Ele dizia: 'Quero conversar contigo tal dia, lá em casa e tal', afirma um ex-seminarista.
"Parecia algo inalcançável.
‘Nossa!
Eu fui chamado para ir à casa do
arcebispo’.
Você se sente importante naquele momento”, conta outro
ex-seminarista.
Mas entre o fim de outubro e o início de novembro de 2020, o Fantástico
ouviu quatro ex-seminaristas que denunciaram abusos nesses encontros
privados com Dom Alberto.
Eles contam histórias muito parecidas: tinham
entre 15 e 18 anos de idade, quando frequentaram a residência do
arcebispo de Belém, entre 2010 e 2014.
São relatos de assédio moral e sexual.
Parte dessas acusações foi
publicada pelo jornal "El País" em dezembro, mas o Fantástico traz o
conteúdo completo das denúncias, apuradas nos últimos dois meses.
Os ex-seminaristas pediram que suas identidades fossem preservadas
nesta reportagem, por medo de represálias.
Vamos chamá-los por letras,
que não têm relação com as iniciais de seus nomes reais.
“Z” conta que tinha apenas 15 anos quando conheceu o arcebispo em 2011.
"Eu era coroinha.
Servi com ele na missa.
No final, eu tive uma
alegria, que posso dizer, na época, de conhecer o arcebispo", diz o
ex-seminarista.
Depois de uma primeira conversa, o arcebispo tinha encaminhado “Z” ao
seminário menor, para iniciantes, onde ele também cursaria o Ensino
Médio.
A partir daí, segundo o relato de “Z”, eles começaram a se ver na
residência oficial de Dom Alberto.
Os ex-seminaristas dizem que os encontros na casa do arcebispo
aconteciam em três lugares: na capela, onde a conversa era sobre vocação
religiosa; na sala, o assunto era focado na família e nos estudos; e,
geralmente no fim da noite, no quarto.
Lá, falavam sobre intimidades e,
segundo os jovens, era onde ocorriam os abusos.
Fantástico: Como se davam esses encontros no quarto dele?
Z:
Era sempre sobre a sexualidade. O primeiro ponto que ele sempre tocava
era sobre a masturbação.
Era sobre toque, se eu sentia desejo, por quem
que eu sentia desejo.
E, numa dessas conversas, o arcebispo teria cometido o primeiro abuso
contra “Z”: “Quando ele me tocou, na minha parte íntima, disse que
aquilo ali era normal, coisa do homem.
Mas, assim, eu não via maldade,
porque confiei muito, por ele ser uma autoridade, também não tinha
experiência.
Mas aquilo foi se tornando já permanente e já mais
agressivo.
Ele já me recebia na porta e já ia logo pegando”, conta o
ex-seminarista.
“Z” diz que os abusos se repetiram muitas vezes: “Comigo foram 2 anos, em média, de 3 em 3 meses”.
Agora, o relato da segunda vítima, que vamos identificar com a letra
“X”.
Ele conta que também conheceu Dom Alberto na época em que era
coroinha. “X” afirma que o primeiro contato já provocou estranheza.
X: É
uma conversa que vai fluindo em diversos assuntos e ele acaba
perguntando se você namora, se já namorou, se tem atração por meninas ou
se tem atração por meninos, embora a gente se sinta estranho, a gente
acaba respondendo de forma bem objetiva.
Foram alguns encontros até que, segundo a denúncia de “X”, o arcebispo teria ido mais longe.
X: Perguntava
muito sobre masturbação. Primeiro, mostrava no dedo dele.
Como a gente
fica muito constrangido, então sempre se muda de assunto.
Em outro
momento, retorna, até que ele pede para que você mostre.
No meu caso,
houve um momento em que ele, ele mesmo abaixou as minhas calças, porque
eu estava perplexo, e tocou e também rezou.
Fantástico:
Tocou no seu pênis?
X: Sim.
Fantástico: Como é que foi isso? Dom Alberto ficou nu na sua frente?
X: Sim.
Primeiro eu.
Depois, ele.
Eram orações para curar, se encostando, abraçando e ele se deitou na cama e… complicado.
Com a terceira vítima, “S”, o assédio teria começado assim que ele
conheceu o arcebispo, em 2010, na Cúria Metropolitana.
Mais uma conversa
sobre virgindade e relações sexuais.
S:
Ele pediu para que eu mostrasse como eu me masturbava no dedo dele.
Isso na hora me chocou bastante, porque você não espera uma coisa dessa,
né?
“S” conta que eles se encontraram novamente um ano depois.
S:
Ele pediu para que eu ficasse de pé na frente dele, no meio das pernas
dele.
E pediu que eu fechasse meus olhos.
Eu fechei os olhos, aí ele
começou a rezar e foi quando ele pegou em meus órgãos genitais, acho que
esperando alguma reação, sei lá, mas não houve nada.
Ele me abraçou,
deu um beijo próximo da minha boca e disse que é assim, que tinha que
rezar.
Além dos abusos, “S” também diz ter sido ofendido por Dom Alberto Taveira.
S:
Quando eu comecei a falar para ele que eu queria sair do seminário por
isso, isso e isso, comecei a chorar.
Ele mudou o humor, repentinamente.
Bateu na mesa, me xingou de viado, disse que chorar era coisa de viado,
que eu tinha que ser homem, que eu tinha que ser forte.
E isso tudo
gritando, assim, de maneiro que até chegou a me assustar.
E aí nesse dia
que ele levantou da mesa dele e me abraçou.
Ficou pegando nos meus
órgãos genitais, apalpando. Me abraçou, me deu outro beijo perto da
boca, disse que gostava muito de mim, que queria me ver ordenado padre.
Os jovens falaram sobre outra situação que se repetia: as conversas
sobre uma suposta cura da homossexualidade.
Segundo os ex-seminaristas, o
arcebispo entregou a eles um livro em que são descritos procedimentos
para o que Dom Alberto chamava de tratamento.
A quarta vítima, “V”, diz
não ter chegado a sofrer abusos, mas sim assédio.
De acordo com o
relato, Dom Alberto afirmava que ele precisava de ajuda.
V: Você lia o livro e dizia assim, que ser homossexual é uma doença, que a gente precisava ser tratado e ajudado.
No livro, há um questionário que o arcebispo teria pedido que os jovens
respondessem.
E, de acordo com três deles, Dom Alberto também mandava
acrescentar duas perguntas.
X: O tamanho do órgão genital.
S: E o tamanho do meu pênis ereto.
“S”, a terceira vítima, diz que recebeu o livro pouco depois de se
arrepender de ter deixado o seminário.
Ele sentiu falta da vida
religiosa e pediu para voltar.
Segundo o ex-seminarista, foi quando Dom
Alberto teria cometido mais um abuso.
S:
Ele pediu pra baixar as minhas calças, baixei a calça, até mais ou
menos o meio da coxa.
Ele pediu para baixar mais.
Eu baixei até, mais ou
menos, o joelho.
E aí ele ficou apalpando.
Até que Dom Teodoro bateu na
porta e foi ele que me salvou dessa situação.
Dom Teodoro era o então bispo auxiliar de Belém. “V” diz que Dom Alberto fazia ameaças para que eles ficassem calados.
V: Não fale nada para ninguém que vai ser pior para você, era muito recorrente.
A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.
Mas numa conversa de dois desses jovens com um padre, em 2017, o
assunto veio à tona.
Logo depois, os outros dois também decidiram
denunciar.
Todos os quatro já tinham deixado o seminário.
Três deles
disseram que desistiram do seminário, e um deles foi expulso por motivos
disciplinares.
Z:
Guardei isso por muito tempo e eles também.
Nós fizemos também amizade,
na época do seminário que continuaram e contaram a mesma história, que
continua da mesma forma, então a gente não poderia deixar isso.
Não
podia ser conivente.
Mas o ex-seminarista ainda não teve coragem de contar para a família.
“Seria um baque maior para os meus pais.
Eu contar tudo isso, de um
filho dele, eles confiarem na vida da Igreja e a Igreja entregar o seu
filho do jeito que ela entregou”, relata “Z”.
A denúncia foi feita a dois padres de Belém, entre o fim de 2017 e
2018.
Em junho de 2019, os padres registraram os depoimentos dos quatro
ex-seminaristas e escreveram uma carta.
Tudo foi entregue a Dom José
Azcona, bispo emérito do Marajó, conhecido por sua luta contra o abuso e
exploração sexual de crianças e adolescentes.
No documento, os padres dizem que têm certeza da veracidade dos fatos
narrados pelos ex-seminaristas.
Encerram afirmando que estão preocupados
com os rumos da Igreja em Belém e pedem que tudo seja investigado.
Segundo os padres, ainda em 2019, Dom Azcona teria denunciado o caso a
outro bispo, Dom Pedro Conti, como recomenda a Igreja Católica, para que
o caso fosse levado ao Vaticano.
Em fevereiro de 2020, ainda de acordo com os padres, Dom Azcona teria
ido à sede da Nunciatura Apostólica de Brasília, que é a representação
diplomática da Santa Sé no Brasil, para pedir investigações.
Por
telefone, Dom Azcona informou que não comentaria o caso.
Em 2019, o Papa Francisco lançou a carta apostólica “Vós sois a luz do
mundo”, com novas regras para investigação de denúncias de abuso sexual
dentro da Igreja.
Segundo o documento, os casos devem ser investigados
pela Igreja e levados às autoridades civis.
Em agosto, os ex-seminaristas procuraram a Polícia Civil e o Ministério
Público do Pará.
O Ministério Público disse, por nota, que recebeu a
denúncia e encaminhou à Polícia Civil para investigação.
A Polícia Civil
afirmou, também em nota, que instaurou inquérito para apurar os fatos
que correm em sigilo.
Por isso, ninguém poderia dar entrevista sobre o
caso.
O Fantástico teve acesso a informações que revelam que um bispo
representante da Santa Sé, no Vaticano, esteve em Belém para apurar as
denúncias em dezembro.
Ele teria ouvido os ex-seminaristas, os padres
que acompanharam o caso e também teria se encontrado com o arcebispo Dom
Alberto Taveira.
A visita ocorreu mais de um ano depois de a Igreja
tomar conhecimento das denúncias e na mesma semana em que a produção do
Fantástico pediu um posicionamento da Nunciatura e da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre o caso.
A Nunciatura Apostólica do Brasil informou, por telefone, que o
Fantástico deveria procurar a CNBB para falar sobre as acusações contra o
arcebispo.
Já a CNBB afirmou não ter sido informada oficialmente das
denúncias e disse que a instância competente da Igreja para averiguar
denúncias é o representante oficial do Vaticano, a Nunciatura.
Há quase um mês, numa carta enviada aos sacerdotes, Dom Alberto confirmou a visita de um representante da Santa Sé.
O arcebispo também publicou um vídeo para se defender do que ele chama
de falsas acusações de imoralidade, mas não disse do que estava sendo
acusado.
“Digo a vocês que recebi com tristeza há poucos dias a
informações da existência de procedimentos investigativos com graves
acusações contra mim, sem que eu tenha sido previamente questionado,
ouvido, ou tido qualquer oportunidade para esclarecer esses pretensos
fatos postos nas acusações”, disse no vídeo.
Dias depois, durante uma missa, o arcebispo falou novamente sobre o
caso: “Deus me deu a coragem de furar o olho do escândalo.
O escândalo
que estava sendo montado.
Deus nos deu a graça de passar na frente.
E
devo dizer-lhes que essa força só pode vir do alto, porque se vocês
conseguirem imaginar o sofrimento pelo qual eu passo, vocês nem têm
jeito de calcular.
Mas devo dizer-lhes uma coisa, a oração, a
solidariedade...
Se alguém, porventura, pensasse, por ação do demônio,
acabar com a Igreja Católica e com a Igreja de Belém, enganou-se
radicalmente.
Deus vai fazer muito mais do que nós possamos imaginar e,
hoje, Nossa Senhora está esmagando, mais uma vez, a cabeça da serpente”.
Dom Alberto Taveira tem 70 anos. Foi ordenado padre em 1973, em Belo
Horizonte.
Em 1991, tornou-se bispo auxiliar em Brasília e, 5 anos
depois, tomou posse como primeiro arcebispo metropolitano de Palmas, no
Tocantins.
Dom Alberto é assistente nacional da Renovação Carismática
Católica em nome da CNBB e grão-chanceler da Faculdade Católica de
Belém, entre outros cargos.
No sábado (2), o advogado do arcebispo falou ao Fantástico.
Disse que
Dom Alberto ainda não foi ouvido pela polícia ou Ministério Público, mas
está à disposição.
“Obviamente que a primeira coisa a ser dita é a negativa e o repúdio a
essa denúncia.
Todo católico paraense conhece a lisura, a honestidade, a
honradez com que se porta Dom Alberto, que doou meio século de vida à
Igreja Católica, passando já por três estados e o Distrito Federal,
coordenando seminários, ordenando como padre mais de 200 seminaristas.
Nós vamos provar ao final desse inquérito, que diferente do que se
pensa, os denunciantes não são quatro pessoas isoladas.
São um grupo de
pessoas, que têm um profundo recalque, um profundo sentimento de
vingança por Dom Alberto.
E por que tem esse sentimento?
Justamente pela
grande característica da gestão de Dom Alberto, que era uma gestão
austera.
Pessoas foram afastadas do seminário por comportamento
incompatível com a vida religiosa”, declarou o advogado do arcebispo.
Depois da divulgação dos vídeos, Dom Alberto recebeu a solidariedade de
ex-seminaristas e padres, entre eles, Marcelo Rossi e Fábio de Melo.
“Dom Alberto já me amparou muitas vezes.
Eu gostaria que as minhas
orações e o meu carinho fizessem o mesmo por ele, neste momento”, disse o
padre Fábio de Melo.
“Nessa hora de combate, estamos juntos em oração”, declarou o padre Marcelo Rossi.
O arcebispo também recebeu o apoio de instituições ligadas à Igreja: a
direção do seminário São Pio X, em Belém, divulgou uma nota de repúdio
contra as acusações.
A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil disse ter
tomado conhecimento das ocorrências que causam sofrimentos grandes ao
arcebispo e que acompanha o percurso doloroso com orações e fraterna
amizade.
Na semana passada, outras instituições se manifestaram sobre o caso: 37
entidades civis e de Direitos Humanos, entre elas a Associação
Brasileira dos Juristas pela Democracia e a Comissão de Justiça e Paz da
Arquidiocese de Santarém, no Pará, assinaram um manifesto pedindo o
afastamento do arcebispo da arquidiocese de Belém até o fim das
investigações.
COMENTÁRIO:
"Ele me tocou", diz ex-seminarista que acusa arcebispo de Belém de abuso sexual.
Esse tipo de crime sexual, entre alguns líderes religiosos pertencencentes as religiões tanto católicas como evangélicas, virou cultura a nível mundial.
Eu conheço um líder religioso americano evangélico, que prestava serviço para uma denominação evangélica nos Estados Unidos que foi enviado para o Brasil como missionário, e se instalou no município de Barretos, São Paulo, que apesar de casado, mantinha relação homoafetiva com homens, até que foi descoberto seu comportamento incompatível com o que nos ensinam as Sagradas Escrituras, e logo foi convidado pela organização evangélica que ele estava ligado para retornar ao seu país de orígem.
Por acaso, nos conhecemos através de rede social, e ele me confidenciou seu desvio de conduta.
Por isso faço um apelo as autoridades que estão investigando a denúncia dos quatro
ex-seminaristas da matéria em apreço, apurem com o rigor que este caso requer, porque tem 100% de verdade o que os ex-seminaristas relatam.
Porque o problema é que esses líderes religiosos por ostentarem uma posição de influência, de destaque, e de autoridade religiosas nas comunidades, intimidam suas vítimas, e buscam desacreditar as mesmas perante a sociedade e as autoridades policiais.
Valter Desiderio Barreto.
Barretos, São Paulo, 04 de janeiro de 2021.