Rodríguez falou com a imprensa, pela primeira vez, no início da noite
desta segunda-feira (26), durante uma recepção em homenagem a ele, na
universidade particular em Londrina, no norte do Paraná, onde trabalha.
Ele mora na cidade com a família.
Para o futuro ministro, a discussão de gênero é um pouco abstrata.
"Olha, eu não concordo por uma razão muito simples: quem define gênero é
a natureza.
É o indivíduo.
Então a discussão da educação de gênero me
parece um pouco abstrata, um pouco geral", declarou.
Ele citou o exemplo do Canadá, onde esteve em julho visitando parentes.
Disse que o país decretou a educação de gênero por lei federal, mas as
províncias autônomas começaram a debater o tema localmente e algumas,
onde o governo é conservador, derrubaram a lei.
“Então eu acredito que quando consultadas as pessoas onde moram,
enxergando o indivíduo, a educação de gênero é um negócio que vem de
cima para baixo, de uma forma vertical e não respeita muito as
individualidades.
A culminância da individualização qual é?
A
sexualidade.
Então, se eu brigo com um indivíduo, vou brigar com a
sexualidade e vou querer regulamentar a sociedade por decreto, o que não
é bom.
Eu acho que é um tiro fora do alvo”, afirmou.
Veja abaixo outros trechos da entrevista:
“Escola sem partido”.
Sobre o projeto de lei “Escola sem partido”, Rodríguez explicou porque discorda da doutrinação.
“Eu acho que a doutrinação não é boa ao aluno, nos primeiros anos, no
ensino básico, fundamental, tem que ser educado fundamentalmente para
integrar-se na sua comunidade, no seu país, que é um país
suprapartidário.
Não é um partido político que vai fazer com que o
menino, o jovem tenha consciência cidadã”, disse.
O futuro ministro contou que assistiu a uma sessão da Câmara Federal,
quando foi conversar com Bolsonaro, na qual se discutia o projeto de
lei, e pontuou que a discussão está sendo muito aberta.
“Acho que está acontecendo uma discussão muito aberta e vai haver uma
moderação na regulamentação disso.
Não acredito que haja violação dos
direitos das pessoas para se exprimirem”, declarou.
Enem.
Sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Rodíguez afirmou que a
prova precisa ser preparada com isenção, para que não seja veículo de
disseminação de determinadas posições ideológicas ou doutrinárias.
“Tem que ser uma prova que avalie realmente os conhecimentos, e que não
obrigue o aluno a assumir determinada posição com medo de levar ‘pau’.
Tem muito aluno que me falou: Professor, eu tento responder certo, não
quero levar ‘pau’ por isso, porque tento responder o que eu espero que
os questionadores, eu respondo”, detalhou
Perguntado se a prova poderia passar pelo crivo do presidente, ele respondeu que ninguém vai impedir.
“Se o presidente se interessar, né?
Ninguém vai impedir.
Ótimo que o
presidente se interesse pela qualidade das nossas provas”, disse.
Universidade pública.
Na opinião do futuro ministro, as universidades precisam melhorar a gestão, com cobrança de eficiência e resultado pessoal.
“Eu acho que a universidade pública tem que permanecer pública.
Mas com
uma gestão eficiente, uma gestão em que o cidadão veja que o que está
pagando tem resultado.
E nossa estrutura de universidade pública sai
quatro, cinco vezes mais caro que universidade particular.
Precisamos
justificar isso perante o eleitorado que é quem financia”, pontuou.
Prioridades no Ministério da Educação.
De acordo com Rodríguez, a prioridade na sua gestão frente ao Ministério da Educação será pensar nas pessoas.
“Para mim o valor fundamental é servir as pessoas.
Então, vou tentar
dar importância às pessoas, ao aluno em sala, aos professores que se
sentem oprimidos pela violência que há em sala, isso precisa ser
equacionado”, afirmou.
O futuro ministra da Educação acredita que as universidades ficaram
reféns de uma doutrinação de “cunho marxista”, e que é preciso “abrir a
mente e o espírito para que haja compreensão de outras formas de ensino e
educação”.
Rodríguez acredita que há muito a se fazer pela educação, melhorando
principalmente as condições do ensino nas escolas municipais.
“É aí onde se forma a consciência cidadã, a educação para cidadania, e
onde se pode começar a resgatar a qualidade do nosso ensino.
Acho que
temos a necessidade de voltar os olhos para o cidadão, para o aluno,
para a pessoa, para as pessoas individuais, com suas diferenças, suas
preocupações”, disse.
Colégios militares.
Perguntado sobre a experiência em colégios militares, Rodríguez afirmou
que valoriza muita a disciplina e a eficiência que eles têm.
“Os colégios militares, hoje, representam para o Brasil, o que há de
melhor em termos de qualidade, exigência, de disciplina.
É interessante
visitar um colégio militar, a gente fica surpreendido como professor”,
declarou.
Ele disse ainda que, acha que Bolsonaro tem uma grande ideia ao colocar
os colégios militares como exemplo para a sociedade civil.
“Não para que virem colégio militar, não.
Mas para que olhem que é
possível ter eficiência, disciplina, sem sacrificar a alegria de viver.
Eu sempre valorizei a Escola de Estado Maior do Exército e o Centro de
Estudos do Exército, porque em qualquer disciplina a gente é avaliado no
final.
E lhe apresenta a possibilidade de ver os seus erros e de
corrigi-los.
O que eu acho maravilhoso, a gente só tem a crescer com
essa modalidade de ensino disciplinar”, pontuou.
O futuro ministro da Educação.
Rodríguez foi anunciado como ministro da Educação
pelo presidente eleito na última quinta-feira (22).
Nascido na Colômbia
e naturalizado brasileiro em 1997, o futuro ministro é autor de mais de
30 obras e, atualmente, é professor emérito da Escola de Comando do
Estado Maior do Exército.
Rodríguez é mestre em pensamento brasileiro pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ); doutor em pensamento
luso-brasileiro pela Universidade Gama Filho; e pós-doutor pelo Centro
De Pesquisas Políticas Raymond Aron.
Em carta divulgada na sexta-feira (23),
Rodríguez afirma que sua gestão à frente da pasta buscará preservar
"valores caros à sociedade brasileira" que, segundo ele, é
"conservadora".
Crítico dos últimos governos do país, Rodríguez disse que é contra
"discriminação de qualquer tipo" e afirmou que, nos últimos anos, a
"instrumentalização ideológica da educação" polarizou o debate sobre o
tema.
Na ocasião, escreveu que o órgão responsável pela aplicação do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) entende as provas "mais como
instrumentos de ideologização do que como meios sensatos para auferir a
capacitação dos jovens no sistema de ensino".