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domingo, dezembro 18, 2016

'Ele não merece perdão', diz mulher agredida por marido de delegada

Agressor da segurança e sua esposa


 

Vítima trabalhava como segurança em clube de Três Corações, MG.
Comerciante foi levado para presídio da cidade acusado de lesão corporal.

 

Daniela Ayres e Régis Melo Do G1 Sul de Minas

Tudo aconteceu em menos de 5 minutos, mas na memória de Edvânia Nayara Ferreira Rezende, de 23 anos, a dor e a indignação com as agressões sofridas neste sábado (17), quando levou socos e chutes do marido de uma delegada em Três Corações (MG), devem permanecer. 

"Ele não merece perdão", disse a segurança, que estava no horário de trabalho em um clube e tentava prestar socorro à esposa do suspeito, identificado pela PM como sendo o comerciante Luiz Felipe Neder Silva.

"Quando ele veio para cima de mim, eu fiquei com medo. 

Tanto que eu encostei no carro e foi por isso que ele conseguiu me acertar. 

Eu não tinha para onde fugir. Mas quando eu caí no chão, eu queria voar nele. 

Eu só não parti para cima dele porque não deixaram", relembra. 

"Não importa se ele estava bêbado. 

Não tem como justificar o que ele fez", afirma sobre o agressor, que foi autuado pela Polícia Civil por lesão corporal e permanecia preso neste domingo (18) no Presídio de Três Corações.
Edvânia Nayara Ferreira Rezende em foto tirada logo após ser agredida no clube onde trabalhava neste sábado (17) em Três Corações, MG: Quero justiça (Foto: Arquivo pessoal/Edvânia Nayara)Edvânia Nayara Ferreira Rezende em foto tirada logo após ser agredida: 'Quero justiça' (Foto: Arquivo pessoal/Edvânia Nayara)
 
 
Imagens da agressão divulgadas em redes sociais e na internet mostram o momento em que a vítima é abordada pelo homem. 

O comerciante pede a chave do carro, que havia sido jogada para a segurança pela delegada, que queria evitar que o marido dirigisse.

"O carro dele passou por mim", relembra Edvânia, que estava em uma área próxima à piscina do clube. 

"Nisso, ele parou mais à frente. 

Eu não sei se ela pulou do carro, mas ele desceu atrás dela e começou a puxá-la pelo cabelo para que ela entrasse no carro. 

Aí eu saí atrás e disse que iria chamar a polícia. 

Foi então que ela jogou a chave do carro para mim. 

Eu me livrei da chave e ele veio me dizer que estava com vergonha dela, que queria levá-la para casa, mas, como eu neguei entregar a chave, ele me bateu", afirma.

A sequência de imagens choca

Após gritar com a segurança, Luiz Felipe desfere um soco no rosto dela.

Edvânia cai, é puxada pelos cabelos e leva um chute na altura da cabeça. 

Só então o agressor se afasta e a vítima é amparada por algumas pessoas. 

Ele é preso minutos depois pela Polícia Militar. (Clique aqui para ver o vídeo.)
Homem agrediu segurança de clube de Três Corações, MG, neste sábado (17); na imagem, momento em que ele dá um soco no rosto da vítima de 23 anos (Foto: Reprodução/Redes Sociais)Homem agrediu segurança de clube de Três Corações, MG, neste sábado (17); na imagem, momento em que ele dá um soco no rosto da vítima de 23 anos (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
 
 
De acordo com o boletim de ocorrência, registrado pela Polícia Militar por volta das 18h, a mulher do suspeito, identificada como Ana Paula Kich Gontijo, de 44 anos, saiu do local antes da chegada dos policiais. 

No entanto, o boletim informa que ela entrou em contato com a PM cerca de 1h depois confirmando ter sido agredida.

O G1 tentou contato com a delegada e com algum representante do marido. 

No entanto, até esta publicação, ninguém havia atendido as ligações ou retornado os pedidos de entrevista.
Edvânia momentos antes de começar o expediente deste sábado (17) em clube de Três Corações, MG: ela estava há um mês no emprego de segurança (Foto: Arquivo pessoal/Edvânia Nayara)Edvânia momentos antes de começar o expediente deste sábado (17) em clube de Três Corações, MG: ela estava há um mês no emprego de segurança (Foto: Arquivo pessoal/Edvânia Nayara)
 
 
Emprego havia sido conquistado há pouco tempo

Edvânia se tornou segurança há um mês. 


Depois de vender sua parte na sociedade de uma lanchonete, esse foi o emprego que ela encontrou. 

Sabia dos riscos, mas nunca pensou que vivenciaria uma situação como a de sábado.

Saiba mais

"Nunca sofri qualquer tipo de agressão. 

A gente sabe que, quando está em um trabalho assim, tudo pode acontecer, mas a gente nunca acha que vai ser com a gente. 

Agora eu estou me recuperando, depus na delegacia, fui medicada. 

Tô com o corpo bem inchado ainda. 

Se ele [o agressor] está acostumado a bater em mulher, comigo é diferente. 

Não vou deixar ficar por isso mesmo", garante a segurança.
Mulher de 23 anos, que prestava serviço como segurança para um clube de Três Corações, MG, foi agredida por um homem de 34 anos neste sábado (17); ao derrubar mulher no chão, agressor a puxa pelos cabelos (Foto: Reprodução/Redes Sociais) 
Ao derrubar mulher no chão, agressor a puxa pelos cabelos (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
 
 
Agressor ainda quebrou dentes de outra pessoa

O motorista de caminhão Enioberto José de Jesus, de 30 anos, também disse ter sido agredido pelo comerciante. Sócio do clube, ele estava de saída do local quando se deparou com Edvânia caída no chão, recebendo um chute.


"Ele estava chutando o rosto dela. Foi quando ele saiu de perto dela e sacou um canivete para um outro segurança. 

Eu fui pedir para ele acalmar, porque ele estava muito nervoso", cont, recordando que Luiz Felipe foi se tornando cada vez mais agressivo. "Aí eu fui sair de perto. 

Quando eu saí de perto, que eu virei para buscar meu carro, ele foi e me acertou um murro de lado, pegou eu costas, saindo assim e me acertou um murro na boca." 

Enioberto perdeu dois dentes.
Já caída no chão, segurança de clube de Três Corações, MG, ainda é chutada por agressor; homem atacou segurança de clube neste sábado (17) (Foto: Reprodução/Redes Sociais) 
Já caída no chão, segurança de clube de Três Corações, MG, ainda é chutada por agressor (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
 
 
Segundo Fabiana Custódio, de 21 anos, que também é segurança do clube e foi sócia de Edvânia, o agressor e a mulher não era sócios do local e estavam lá a convite de um aniversariante. 

Ela se lembra que a colega pediu apoio pelo rádio-comunicador. 

"Ela disse que um casal estava brigando na direção do estacionamento e que o homem batia muito na mulher. 

Depois disso, minha colega não respondeu mais. 

Quando cheguei lá, ela já estava no chão."

Por telefone, a direção do Clube Atalaia, onde as agressões ocorreram, disse que não iria se pronunciar sobre o caso neste domingo. 

Na Delegacia de Polícia Civil, ninguém quis comentar sobre as investigações.































 







sábado, dezembro 17, 2016

Justiça aceita denúncia e Lula vira réu na Operação Zelotes

O petista é acusado de praticar lobby entre 2013 e 2015 em favor da empresa sueca Gripen na última licitação para a compra de caças pela Força Aérea Brasileira (FAB)

© Reuters / Fernando Donasci
 
Política Ex-presidente Há 17 Horas  
 
POR Notícias Ao Minuto
 
17 de dezembro de 2016.
 
A Justiça Federal do Distrito Federal aceitou denúncia do Ministério Público e abriu ação penal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o filho dele Luis Cláudio Lula da Silva e do casal Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, sócios da consultoria M&M (Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia), pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A denúncia foi aceita pelo juiz Vallisney Souza Oliveira como parte da Operação Zelotes.

Deflagrada em março de 2015, a Zelotes desbaratou um grande esquema de corrupção, iniciada no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf).

O órgão, vinculado ao Ministério da Fazenda, é responsável por julgar recursos administrativos de autuações contra empresas e pessoas físicas por sonegação fiscal.

A Polícia Federal descobriu que conselheiros cobravam propina para fazerem as autuações desaparecerem.

Lula é acusado de praticar lobby entre 2013 e 2015 em favor da empresa sueca Gripen na última licitação para a compra de caças pela Força Aérea Brasileira (FAB).

A licitação foi bastante disputada pelos EUA e França, mas acabou sendo vencida pela Suécia, que se comprometeu a transferir tecnologia para montagem dos caças.

O ex-presidente da República já é alvo de ação na Operação Lava Jato, no Paraná, e de duas ações na Justiça de Brasília — uma por suspeita de tentar prejudicar delação premiada e outra por tráfico de influência envolvendo a Odebrecht.

Com informações do Sputnik Brasil.

Mineradora: Vale detona pré-história amazônica


 

Texto: RONALDO BRASILIENSE

Fotos: Wanderley Pozzebon

Especial QuidNovi.com.br

Maior mineradora de ferro do planeta, a brasileira Vale tem batido recordes de produção em sua principal jazida de exploração, na Serra dos Carajás, no sul e sudeste do Pará, mas vem nas últimas décadas detonando parte importante da pré-história da Amazônia, destruindo centenas de cavernas de puro ferro que, entre 10 mil e 11 mil anos atrás, serviram de morada aos primeiros habitantes da região. A destruição consentida das cavernas, realizada nas barbas do Poder Judiciário, do Ministério Público Federal, da União e do governo do Pará, com a conivência e omissão da imprensa brasileira, vem sendo acompanhada pari passu por uma das maiores instituições de pesquisa da Amazônia, o Museu Paraense Emilio Goeldi, com sede em Belém. Desde a década de 90 do século XX o Museu Goeldi mantém em Carajás o Projeto Arqueológico de Carajás (PACA), comandado por um dos maiores e mais conhecidos arqueólogos da Amazônia, o professor Marcos Magalhães. Sob a regência de Magalhães, o PACA comprovou a destruição pela Vale da Gruta do Gavião às vésperas da
“Projeto Arqueológico de Carajás comprovou a destruição da Grupa do Gavião às vésperas da Conferência da ONU, a Rio-92”
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Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), num escândalo escondido pela grande imprensa mundial. De lá para cá, a Vale – maior multinacional de minérios do Brasil – só fez aumentar o ritmo da destruição das cavernas, destruídas com explosões e gigantescas pás mecânicas, para produzir o ferro de grande ter que garante à Vale o título de maior exportadora brasileira, enviando seu principal produto para os mercados asiático – China e Japão, principalmente – europeu e norte-americano. “Se nada for feito, essas cavernas vão desaparecer, com um dano incalculável à pré-história amazônica”, pondera o arqueólogo Marcos Magalhães (leia entrevista a partir da página 16), que tem discutido há anos com a direção da Vale caminhos e alternativas para se preservar algumas das cavernas que deram abrigo aos, digamos assim, primeiros “amazônidas”. Na Serra Sul no corpo do mega Projeto S11D, um testemunho do rico patrimônio natural e cultural formado pelo conjunto de cavernas posicionadas na borda do lago denominado “Violão”, muitas com vestígios de fragmentos de artefatos arqueológicos na superfície, uma fauna cavernícola bem diversificada, vários tipos de ecossistemas, exemplares da flora endêmicos, fato não registrado em outras áreas, o que eleva o local a um status de um  verdadeiro “santuário ecológico”.
“Se nada for feito, essas cavernas de Carajás vão desaparecer, com um dano incalculável à pré-história amazônica”
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O presidente da Sociedade Brasileira de  Espeleologia, Marcelo Rasteiro, diz que  a instrução normativa que rege a  proteção de cavernas deverá ser modificada.  “As instruções normativas  passam  por um processo de revisão a cada dois  anos. A briga é entre os  que querem  preservar as cavernas e os  empreendedores querendo fazer  seus  empreendimentos”, disse. Os resultados  do obrigatório Estudo de  Impacto  Ambiental -Relatório de Impacto Ambiental  (EIA-Rima), embora  contratado pela  Vale, não foram considerados favoráveis à  mineradora.  Com cerca de cinco mil  páginas – em seis volumes, o documento foi  elaborado pela Golder Associates, de São Paulo. A empresa lista as cavidades  que deverão ser destruídas no corpo D de Serra Sul. “O impacto potencial nessas 106 cavidades foi avaliado como real, de natureza negativa, de duração permanente, incidência direta, de média longo prazo, de ocorrência irreversível, pontual, de alta importância, de alta magnitude e, portanto, de alta significância”, diz o texto. A existência de “testemunho de interesse arqueológico da cultura paleoameríndia do Brasil” é uma das condições para a classificação da caverna como de relevância máxima, ou seja, protegida da destruição. Se a característica for rebaixada no quesito relevância, numa eventual mudança na regulação, a cavidade poderá ser destruída. Pela proposta da Vale, em situações assim, todo o material arqueológico de importância seria retirado, em uma operação conhecida internacionalmente como “de salvamento”. A empresa se comprometeria ainda a desenvolver ações mitigadoras e, se possível, preservar cavernas mais afastadas das áreas principais de mineração. Vale não se pronunciou oficialmente sobre a questão. O Departamento de Comunicação Corporativa e Imprensa da mineradora tem se limitado a divulgar que a empresa “ainda está aprofundando os estudos ambientais relativos neste período fazia parte do território do município de Marabá, pois ainda não havia sido criado o então município de Parauapebas. Foram realizados inicialmente estudos mais detalhados de geologia, climatologia e biologia das já conhecidas Grutas do Gavião (PA-AT 69), N1 e da Onça, além da Gruta dos Anões, descoberta durante a prospecção na encosta leste do platô N1, área de exploração de minério de ferro pela Vale.

A Gruta do Gavião revelou, à época, através de detalhados estudos arqueológicos, o mais antigo sítio arqueológico da Amazônia – com datação de oito mil anos – descoberta de enorme importância, pelo fato de evidenciar uma ocupação humana de grupos caçadores-coletores pré- -ceramistas, na ocasião pouco conhecidos na Amazônia. A gruta do Gavião foi destruída pela exploração mineral: transformou-se em pó, literalmente, por se encontrar na frente da lavra da mina de minério de ferro que estava sendo explorada pela então estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), mas antes da detonação o Departamento de Arqueologia do Museu Emilio Goeldi conseguiu realizar o salvamento arqueológico. Até pouco tempo atrás existia uma maquete no parque Zoobotânico de Carajás da Gruta do Gavião, o que de nenhuma forma recuperava esta perda irreparável para o patrimônio histórico/ cultural da Amazônia. Em 2004 foi firmado convênio entre a Vale e a FCCM visando atender a Legislação de Proteção ao Patrimônio Cultural Nacional e Ambiental. Foi quando o GEM iniciou as atividades espeleológicas na Serra dos Carajás, mais especificamente na região conhecida como Serra Sul no Corpo D e surpreendeu a comunidade espeleológica com o início da descoberta de centenas de cavernas e grutas inseridas em um tipo de rocha pouco conhecida, o minério de ferro e a canga.
 As cavernas se tornaram um impedimento para a exploração imediata do maior  projeto de exploração de ferro da Vale para os próximos 40 anos – com uma  mina estimada em 3,4 bilhões de toneladas do minério – que a inclui entre as  maiores reservas mundiais a céu aberto descobertas no mundo, localizada na  vertente sul da Serra de Carajás, no sudeste do Pará. RB


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Mudanças na legislação só beneficiaram a Vale Qualquer impacto em cavernas localizadas em sítios arqueológicos somente poderá ocorrer mediante processo de licenciamento ambiental, mas isso está sendo ignorado em Carajás

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Uma forma para viabilizar a exploração das jazidas de ferro da Serra Sul, em  Carajás, no sudeste paraense, foi a alteração do Decreto 6.640 de 07 de  novembro de 2.008 que modificou significativamente o status jurídico referente à  proteção das cavernas brasileiras. Antes, toda caverna era protegida pela  legislação brasileira. Com a mudança, acrescentou-se uma classificação das  cavernas segundo quatro graus de relevância: máximo, alto, médio e baixo. Os  parâmetros que definem o grau máximo de relevância encontravam-se esboçado  no referido decreto, que previa conservação integral da cavidade inserida neste  contexto. Os critérios para definição dos graus de relevância alto, médio e baixo,  por sua vez, foram definidos na Instrução Normativa nº. 2. As cavernas  classificadas como de relevância média e alta poderiam ser impactadas – parcial ou integralmente – mediante compensação ambiental a ser definida pelo órgão ambiental. Cavernas de baixa relevância poderiam ser impactadas sem compensação. Qualquer impacto em cavernas somente poderá ocorrer mediante o processo de licenciamento ambiental (Art. 4 do Decreto 6.640). Considerando o total de 172 cavidades estudadas apenas na área do Projeto S11D, um investimento de US$ 17 bilhões no município de Canaã dos Carajás, o maior da história da Vale (a área ainda engloba os corpos A, B e C) os estudos de análises de relevância das cavernas, integrando os atributos físicos/histórico-culturais e biológicos, apontaram que 15 cavernas foram classificadas como de relevância máxima, representando 9% do total, o que praticamente inviabiliza o projeto. Para o então coordenador de licenciamento do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan, Rogério José Dias, se fosse constatado, por meio de estudos científicos, que as cavernas da Serra Sul de Carajás tinham importância histórica, o maior projeto de mineração da Vale na Serra dos Carajás – justamente o SD11, que entra em operação ainda este ano – correria o risco de jamais vir a ser implantado. “Se houver sítios com características significativas, vamos dizer à Vale que o projeto é inviável”, afirmou Rogério Dias, anos atrás, antes de Inês ser morta, para usar a expressão do poeta português Luiz de Camões. No caso das cavernas, a Vale identificou 187 delas na área do S11D, das quais 16 de máxima relevância (os graus de relevância são determinados com base em características físicas e no material arqueológico encontrado nas cavidades). Estas serão integralmente preservadas. No entanto, haverá “impactos negativos irreversíveis em 35 cavidades de alta relevância”.
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Segundo Martins, há apenas três ou quatro cavernas na Serra Sul de Carajás onde habita uma espécie de morcego chamada Natalus, e uma delas está na área do projeto S11D. Para compensar as cavernas que serão suprimidas, a Vale terá que preservar 70 cavernas da mesma categoria em outra região, na Serra da Bocaina, área contígua à Flona. — São cavernas com as mesmas características. A ideia que estamos discutindo com o Ibama é a possível extensão da unidade de conservação da Flona para a Serra da Bocaina. Já compramos 2.700 hectares lá, para compensar os cerca de 2.700 hectares de área que o S11D vai ocupar — diz Rodrigo Dutra, gerente de Meio Ambiente Ferrosos, Ferrovia e Porto da Vale. Segundo a Vale, a área que será desmatada para o S11D inclui 37% de pastagem, 34% de savana (ou canga) e 27% de floresta. Martins demonstra preocupação com a savana que será suprimida, pois essa configuração de canga no meio da floresta tropical é única no país.
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A Vale diz que, com o S11D, a atividade mineral em Carajás ocupará 3,3% dos  4.119,5 Km² da Flona, incluindo savana e floresta. O problema, para Martins, é  que boa parte dessa ocupação se dará sobre a canga e, com o S11D, 30% dessa  vegetação estariam comprometidos. — Meu receio é que, se a gente não  conseguir impor limites, acabe extinguindo todo um ecossistema. Defendemos  um zoneamento para que tenhamos clareza dos riscos. RB

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Ibama: preservação em megaprojeto

Na Floresta Nacional de Carajás (Flona), onde o Projeto S11D está sendo implantado pela Vale, há 943 espécies de vertebrados, que bebem água nas lagoas batizadas de Violão e Amendoim

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Manobrando politicamente, a Vale conseguiu junto ao Ibama a emissão da Licença de Instalação do projeto de minério de ferro S11D, na Serra Sul de Carajás (PA), o maior da história da mineradora e da indústria mundial da mineração mundial. Encravado no meio da Floresta Amazônica, no sudeste paraense. o projeto S11D exibiu os desafios ambientais da magnitude dos investimentos necessários para tirá-lo do papel. Serão US$ 19,6 bilhões, dos quais US$ 8 bilhões na mina e em uma unidade de processamento e US$ 11,6 bilhões em logística. Para que esses recursos sejam executados, no entanto, a Vale precisaria cumprir uma série de condicionantes impostas pelo órgão ambiental relativas à preservação de lagoas e cavernas que, numa primeira avaliação da companhia, poderiam comprometer metade da reserva considerada no cálculo de viabilidade econômica do projeto. O Projeto S11D tem reservas provadas e prováveis de 4,2 bilhões de toneladas de minério de ferro. O desafio da Vale, especialmente no caso das lagoas, é mantê-las com uma área de preservação em seu entorno, possivelmente menor que a determinada pelo Ibama. Na Floresta Nacional de Carajás (Flona), onde o S11D será implementado, há 943 espécies de vertebrados. Muitas bebem água nessas lagoas, batizadas de Violão e Amendoim. Sua importância deve-se ao fato de servirem como um reservatório perene para matar a sede da fauna local, num lugar onde boa parte das lagoas some no período seco. Como estão no topo da serra e distantes dos lençóis freáticos, são abastecidas pela água da chuva. Por isso, uma das 20 condicionantes que constam da LI é que sejam preservadas as lagoas e as áreas de recarga (que ficam em torno das lagoas, por onde a chuva escorre até alcançá-las). A distância mínima entre a borda da lagoa e a cava que será aberta pela Vale para extrair o minério deve ser de 500 metros, segundo o Ibama. A Vale deu entrada no pedido de licença para o S11D em novembro de 2009. No seu estudo de impacto ambiental (EIA-Rima) estava prevista a exploração de minério em área que, na avaliação do Ibama, poderia interferir nas lagoas, além da supressão de dezenas de cavernas e mais de mil hectares de vegetação — entre floresta e canga, que é a vegetação típica de áreas com afloramentos de minério de ferro. Em seu parecer técnico, o Ibama recomendou que as lagoas e as áreas de recarga fossem preservadas, e que fosse respeitado o limite de 250 metros de distância das “cavernas de máxima relevância”. Na sua resposta ao órgão ambiental, a Vale informou que “as perdas de reserva de minério de ferro em decorrência da obrigatória manutenção dos perímetros de proteção das cavidades de relevância máxima e as áreas de contribuição das Lagoas do Violão e do Amendoim, representariam uma redução (…) que corresponde a, aproximadamente, 52% de toda a reserva considerada para a viabilidade econômica do Projeto Ferro Carajás S11D”. (…) “Tal fato representaria o comprometimento da viabilidade econômica do Projeto Ferro Carajás S11D”, disse em documento, disponível na internet, encaminhado ao Ibama. A resposta da Vale é anterior à emissão da Licença Prévia (LP, emitida em junho de 2012) e da LI, emitida no início deste mês. As recomendações do Ibama foram mantidas nas duas licenças. Mas o órgão ambiental abre uma brecha para flexibilização da condicionante relativa às lagoas, ao dizer que tal restrição “será objeto de avaliação quando da conclusão de estudos de funcionalidade ecológica”. A Vale prevê concluir os estudos até o fim deste ano e informa que os primeiros cinco anos de lavra ocorrerão na porção leste da mina. Como as lagoas estão na outra ponta, ao menos por esse período, o limite de 500 metros será respeitado. — As lagoas são de extrema importância para a região. Não podemos correr o risco de perdê-las — diz Frederico Martins, crítico do projeto e chefe da Flona, unidade de conservação ambiental mantida pelo ICMBio, em parceria com a Vale. RB
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S11D, maior projeto da história da Vale, destrói os sítios arqueológicos

Mais preocupada em aumentar a produção de minério de ferro de Carajás para compensar a queda dos preços do minério no mercado internacional, Vale detona sítios arqueológicos milenares

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Idealizado para ser a redenção da Vale nos próximos trinta anos, capaz de  aumentar a produção de minérios de ferro da empresa em 90 milhões de  toneladas anuais, em seu esforço exportador para compensar a queda dos  preços do ferro no mercado internacional, o Projeto S11D – um investimento de  US$ 17 bilhões – provocará danos irreversíveis em dezenas de sítios  arqueológicos milenares, já identificados na Serra Sul, de Carajás, no sudeste  do Estado do Pará. A inauguração do projeto S11D ocorre ainda neste segundo  semestre, no município de Canaã dos Carajás, o que mais gerou empregos no  Brasil, proporcionalmente, em 2015. Quando estive operando com 100% de sua  carga, o S11D terá capacidade para praticamente duplicar a atual produção  de Carajás – produção que deverá ser atingida de forma gradual ao longo dos próximos anos. Se é um exemplo mundial de tecnologia exploratória de ferro, o S11D é um desastre em termos de preservação do meio ambiente e da cultura milenar da região, demolindo sem dó nem piedade sítios arqueológicos onde viveram os primeiros amazônicos, há 11 mil anos, destruindo cavernas e registros históricos. Segundo a direção da Vale, já no fim de janeiro passado foi ligado o Transportador de Correia de Longa Distância (TCLD), com 9,5 quilômetros de extensão. O TCLD integra uma das principais soluções tecnológicas do S11D – o chamado sistema “truckless”-, composto também por escavadeiras e britadores, que permitem substituir os caminhões fora de estrada utilizados nas minas. O sistema introduzido pela Vale vai permitir reduzir em 70% o consumo de óleo diesel e em 50% as emissões de gases de efeito estufa, segundo a mineradora. Mas, antes mesmo do S11D entrar e operação, a Vale bateu recordes de produção de minério de ferro em Carajás – alcançando 77,5 milhões de toneladas no primeiro trimestre de 2016, o que representou a maior produção para um primeiro trimestre de sua história. Com um detalhe: a produção da Serra dos Carajás alcançou um recorde de produção para um primeiro trimestre de 32,4 milhões de toneladas, um aumento de 4,9 milhões de toneladas (ou 17,7%) em relação ao primeiro trimestre de 2015, principal – mente por causa do forte desempenho das minas de N4WS e N5S. Segundo a mineradora, nos pá – tios da usina, onde será estocado o mi – nério de ferro, os equipamentos estão em fase final de montagem. Serão 14 máquinas de grande porte que farão a movimentação do produto. A mina, por sua vez, está com sua terraplanagem concluída e as máquinas do sistema “truckless” estão sendo montadas. No total, quatro sistemas serão construídos no local. No ramal ferroviário, que liga – rá o S11D à Estrada de Ferro Carajás (EFC), 23 quilômetros de linha férrea estão em fase de alinhamento. Trens de construção operam no transporte de trilhos e dormentes para a montagem da grade ferroviária nos demais trechos. O ramal terá 101 quilômetros de extensão e o fim das obras está pre – visto para agosto de 2016. Por este novo ramal ferroviário serão encaminhados ao porto da Ponta da Madeira, em São Luís, Maranhão, milhões de toneladas de minério de ferro destinados ao exterior, principalmente para a China – maior cliente da Vale. Lá, na Chi – na, ficarão estocadas em montanhas de ferro os últimos resquícios dos nossos ancestrais, uma tragédia sem precedentes para a pré-história da Amazônia.
“Se é um exemplo mundial de tecnologia exploratória de ferro, o S11D é um desastre em termos de preservação do meio ambiente e da cultura milenar da região”
Especial QuidNovi.com.br

“É fundamental que os sítios sejam preservados”

Coordenador do Projeto Arqueológico de Carajás (PACA), o arqueólogo Marcos Magalhães, do Museu Paraense Emilio Goeldi revela, nesta entrevista exclusiva, que a preservação dos sítios arqueológicos descobertos na Serra dos Carajás é fundamental para que as futuras gerações tenham conhecimento de como viviam os primeiros habitantes da Amazônia, há 11 mil anos.


PEF – Professor Magalhães, resumidamente o que conta o livro “Amazônia Antropogênica”?
MARCOS MAGALHÃES – Insere a Carajás na arqueologia da Amazônia através de uma proposta teórica com hipóteses testadas em campo. Essa teoria propõem, filosófica e cientificamente, a divisão histórica da ocupação humana da Amazônia antes da conquista em dois longo períodos: o da Cultura Tropical iniciada desde 11000 anos atrás, representada por populações nômades que viviam da caça, da coleta, da pesca e da seleção e manejo de diversas planta. Com o tempo, foram capazes de iniciar a domesticação de algumas e, inclusive, mais tarde, no cultivo delas; este período que durou aproximadamente 6000 anos, foi sucedido pelo o da Cultura Neotropical. Assim, cerca de 5000 anos atrás as populações amazônicas evoluíram para sociedades sedentárias que faziam uso sistemático do cultivo de plantas domesticadas e do manejo de grandes extensões de florestas. Elas constituíram culturas social e poli Coordenador do Projeto Arqueológico de Carajás (PACA), o arqueólogo Marcos Magalhães, do Museu Paraense Emilio Goeldi revela, nesta entrevista exclusiva, que a preservação dos sítios arqueológicos descobertos na Serra dos Carajás é fundamental para que as futuras gerações tenham conhecimento de como viviam os primeiros habitantes da Amazônia, há 11 mil anos. Politicamente complexas e seu processo civilizador só chegou ao fim com a colonização europeia. O grande legado da Cultura Neotropical foi o manejo de grande extensões de florestas, as tornando verdadeiros artefatos sociais, repletas de plantas para as mais diversas atividades. Por conta disto, possivelmente, mais de 60% das florestas conhecidas na Amazônia são de origem humana.
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PEF – Qual a importância dos sítios arqueológicos de Carajás para a história da arqueologia na Amazônia?
MAGALHÃES – Os sítios arqueológicos de Carajás, especialmente os mais antigos, reúnem evidências de que o Homem desde a sua chegada na região e de modo cada vez mais crescente, usava recursos da floresta. Isto é contrário ao que se pensava sobre a Amazônia: que seria indomável, um inferno verde, escassa de recursos e inadequada para populações sem agricultura sistemática. Pois bem, os sítios mais antigos de Carajás mostram que o Homem superava uma possível escasses natural através da seleção e dispersão de espécies úteis concentradas em suas áreas de circulação social e cultural.
PEF – A datação da caverna da Capela – 11.600 anos – é a mais antiga já encontrada na região?
MAGALHÃES – A Gruta S11D47 ou Gruta da Capela é, até agora, o sítio arqueológico mais antigo de Carajás. Não é o mais antigo, mas sem dúvida, está entre os mais antigos da Amazônia. Com uma vantagem, foram obtidas 8 datações no mesmo sítio com mais de 11000 anos. Ou seja, não dá para duvidar da sua antiguidade.
PEF – Como viviam os primeiros “amazônidas”: eram caçadores/coletores ou já tinham agricultura e criação de animais? MAGALHÃES – Os primeiros “amazônidas” viviam da caça, da coleta e da pesca. Mas foi através da coleta de plantas que eles começaram a perceber que elas cresciam a partir de sementes e que frutificavam cada ano a partir de determinado nível de crescimento. Como eles levavam as plantas preferidas de um lugar para outro, acabaram por fazer um seleção cultural de espécies, contribuindo firmemente para a distribuição geográficas delas. Além, é claro, de terem ampliado a distribuição delas através de trocas com povos vindos de outras regiões. Com o tempo a seleção cultural resultou no aprimoramento de algumas e na domesticação de outras. Isto levou tempo, mas quando foi popularizado eles puderam conhecer as vantagens do cultivo, especialmente em áreas mais adequadas, onde os solos eram naturalmente férteis e não alagáveis. Foi o uso regular de plantas cultivada, por sua vez, que levou as populações pioneiras a um novo patamar histórico, o da Cultura Neotropical. Os animais não foram domesticados, mas eram feitos currais em terra e em igarapés onde diversos animais eram confinados, como porcos, tartarugas e alguns peixes. Esta prática está mais relacionadas às populações da Cultura Neotropical, por serem mais sedentárias.
PEF – Qual o futuro dessas cavernas encravadas nas jazidas de ferro da Serra dos Carajás, em área de exploração mineral da Vale?
MAGALHÃES – Elas dependem da evolução da mina. De modo geral as consideradas de importância máxima, quer espeleológica ou arqueologicamente, são protegidas. No entanto, o critério para definir a importância de um sítio só pode ser alcançado depois dele ser escavado. Para complicar, muitas vezes uma cavidade aparentemente insignificante abriga um tipo de manifestação cultural bastante peculiar, revelando tratar-se de um sítio cerimonial. Assim, a melhor coisa a fazer é o estudo preventivo dos sítios, estabelecendo critérios territoriais de importância. Feito com antecedência, o planejamento de avanço da mina (no caso de Carajás) pode ser associado ao conhecimento arqueológico da região, sem prejuízo para ambos.
PEF – O senhor defende a preservação desses sítios arqueológicos e cavernas de Carajás. Como isso pode ser feito? MAGALHÃES – Sim! É fundamental que os sítios considerados mais significativos (e para isto temos que estabelecer critérios bem definidos, pois há várias equipes de arqueólogos trabalhando lá) sejam preservados. O estudo antecipado deles (isto é, antes do planejamento da implantação ou expansão da mina ou estruturas relacionadas) é importante para podermos identificar entre os sítios, aqueles que uma vez preservados, também preservem a evolução histórica das populações que lá viveram. Lembre-se que foi através da arqueologia que descobrimos a antiguidade da origem antrópica das florestas amazônicas e a importância da sua biodiversidade seletivamente voltada para as necessidades humanas. E este conhecimento vale tanto quanto o ferro retirado de lá. (RB)

Especialista indiano teme que a Vale seja a nova Petrobras

Aswath Damodaran, um dos maiores especialistas em avaliação de empresas do mundo
Aswath Damodaran, um dos maiores especialistas em avaliação de empresas do mundo



   

 




Alice Lee/The New York Times

Para o indiano Aswath Damodaran, considerado um dos maiores especialistas em avaliação de empresas do mundo, um investidor precisa ir onde "a coisa está preta" e, por isso, este é o momento de olhar para o Brasil. 

Mas com cautela. 

Dono de ações da Vale desde o final do ano passado, sua preocupação não é o preço do minério de ferro, mas se o governo brasileiro aumentará a ingerência na companhia.

"Meu medo é que, agora que a Petrobras está tão prejudicada e não se pode mais abusar dela, a atenção se vire para a Vale", diz. 

Segundo Damodaran, o estrago feito pelo governo na Petrobras foi tão grande que levará tempo para que ela possa se reerguer. 

"A Petrobras cavou um buraco profundo e será difícil sair dele agora", afirma.
*
Folha - Em fevereiro, o senhor classificou a Petrobras como uma "calamidade" e um exemplo perfeito de como destruir valor. 

A situação ainda pode piorar?  
DAMODARAN - Mesmo sem corrupção, as peças estavam colocadas para que a companhia fosse destruída. 

Sempre fiquei impressionado com os engenheiros da Petrobras. 

A pergunta era: como pessoas tão inteligentes e bem treinadas podem destruir uma empresa? 

Bem, desde que a Petrobras está aí, o comando é escolhido a dedo por Brasília. 

E a motivação da diretoria, dada pelo governo, era fazer da Petrobras a maior companhia de petróleo do mundo. 

É um objetivo muito ruim de se ter ao tocar uma empresa, o de transformá-la na maior em vez de na mais eficiente, na mais bem gerida e na mais valiosa. 

Ter como meta tornar-se a maior é algo ruim ou foi a forma como se buscou isso?
 

Eles [o comando da Petrobras] estavam tentando fazer o que foi pedido: tornar a Petrobras a maior petroleira da face da terra. 

E como se faz isso? 

Busca-se reservas mesmo se não houver sentido econômico. 

Você fica tão focado em erguer um império que se esquece de que é um negócio e você tem de fazer dinheiro para que ele siga em frente. 

Investiram sem olhar as consequências.

A Petrobras anunciou nova venda de ativos. 

É o melhor caminho?
 

Nesse estágio, a Petrobras não tem outra escolha. 

Ela deve bilhões, o barril está a US$ 50 dólares e o governo não pode resgatá-la. 

Então, ela tem de fazer o que é necessário para sobreviver. 

Mas deveria fazer isso de maneira mais organizada. 

Em vez de vender em pedaços toda vez que precisa de dinheiro, deveria pensar nos ativos que realmente quer ficar. 

Na hora da venda, ir atrás de quem está disposto a pagar um valor razoável. 

Se você seguir colocando os ativos no mercado, abertos para qualquer interessado, que é como a Petrobras está fazendo agora, vai encontrar ofertas ruins. 

Ela está oferecendo sempre que precisa de dinheiro e as pessoas sabem que ela está desesperada. 

Também não venderia nada para os chineses. 

São famosos por barganhar muito.
 
Quem tem ação da Petrobras, deve vender?

Bem, eu não compraria por causa do tamanho da dívida. 


Mesmo se o barril for a US$ 78, que é um cenário otimista, ela não gerará receita suficiente para cobrir a dívida. 

A Petrobras cavou um buraco e será difícil sair dele agora. 

Mas é como um quebra-cabeça complexo. 

Você não pode consertar somente uma peça. 

A Petrobras precisa realmente de um recomeço. 

Então, não pode pagar dividendos gordos. 

Precisa dar aos que possuem ações preferenciais o direito a voto e aí dizer "não podemos pagar os dividendos". 

Os acionistas não vão concordar com um corte nos dividendos se não tiverem algum controle da empresa. Não há solução por partes. 

No caso da Petrobras, a solução tem de ser tudo ou nada. 

A empresa tem de se tornar uma petroleira com ações de mercado comandada como um negócio privado ou tem de voltar a ser uma petroleira estatal - neste caso, o governo pode fazer o que quiser com ela. 

O que a Petrobras está tentando fazer é ter as duas coisas. 

Não vai sobreviver assim.

O senhor evitou analisar o impacto da corrupção no caso da Petrobras. Por quê?

Corrupção é um problema sério, mas torna-se pior quando num país como o Brasil. 


Empresários brasileiros sempre reclamam das diversas camadas de regulação, de licenças e de regras. 

O Brasil não é mais ou menos corrupto. 

Mas, quanto mais regras diferentes existem, maior a chance de haver corrupção em cada etapa. 

A corrupção vem da forma como a Petrobras foi estruturada. 

Ela é um sintoma do problema. 

Se você não o conserta, pode pegar todos e colocar na cadeia e, em cinco ou dez anos, você vai repetir todo o processo. 

O que me assusta é que a estrutura da Vale não é tão diferente à da Petrobras. 

Sou acionista da Vale. 

O governo tem ação de ouro ["golden share", que dá direito a veto] e muita influência sobre quem comanda a empresa. 

A situação da Vale hoje é como estar num família na qual o filho mais velho estava sendo castigado e ela, por ser caçula, escapou. 

Meu medo é que, agora que o mais velho está no hospital, eles pensem: talvez devêssemos fazer o mesmo com o mais novo. 

Ou seja, agora que a Petrobras está tão prejudicada e não se pode mais abusar dela, a atenção se vire para a Vale, onde a estrutura é tão similar.

Na Vale, há sócios como Bradesco e Mitsui. 

Não é mais difícil fazer tal estrago?

Apesar das demais forças na Vale, o governo brasileiro é dominante. 


Tem mais poder que qualquer outra entidade. 

Seria mais difícil fazer o que fizeram na Petrobras, porque muitos dos projetos da Vale estão fora do Brasil. 

Replicar o sistema de corrupção e pagamento de propina, por exemplo, no Canadá, onde Vale tem projetos, é mais difícil.

O senhor disse que perdeu dinheiro com Vale, mas decidiu manter a ação mesmo assim. 

Por quê?

Não ganhei dinheiro ainda, mas estou disposto a manter. 


Vejo a Vale como uma mineradora global, mais barata que rivais e sem o endividamento da Petrobras. 

Mas estou atento, buscando algum sinal de que a empresa possa estar embarcando em algo destrutivo.

O senhor disse que talvez estivesse deixando seu desejo de estar certo se sobrepor ao bom senso no caso da Vale. 

Como o investidor comum pode identificar que não está sendo levando pela emoção?

É algo muito difícil. 


Talvez fazer um trato: serei honesto comigo por pelo menos cinco minutos do dia. 

Em nossa mentes, tendemos a mudar o porquê de termos comprado tal ação e culpar os outros quando as coisas vão mal. 

Então, mantenha um diário. 

Todo dia escreva como seu portfólio está. 

Duas ou três linhas. 

E, quando comprar, seja claro sobre as razões que o fizeram escolher a ação. 

Não precisa fazer como eu faço, usando o método de "valuation" [análise matemática do valor que a ação deve ter]. 

Se você escolhe ações ouvindo seu especialista na TV ou no rádio, escreva isso. 

E releia. 

Se você estiver cometendo o mesmo erro muitas vezes, vai aparecer no diário.

Está avaliando ação de outra empresa brasileira?

Estarei no Brasil em algumas semanas e olharei algumas. 


Estou buscando empresas menores. 

Olho para companhias como Natura e penso: se o mercado está sendo atingido, empresas grandes serão atingidas também. 

É a contaminação. 

Lembre-se que o governo brasileiro fez da Petrobras a joia da coroa. 

A mensagem era: "o que acontecer com Petrobras, acontece com Brasil também". 

Fizeram isso nos tempos de bonança. 

Agora essa ligação está prejudicando o país. 

As pessoas olham e pensam: "veja o que está acontecendo com o símbolo do país, vou vender tudo e seguir em frente".

A quebra das empresas de Eike Batista afetou a credibilidade do país?

As pessoas têm memória curta. 


Daqui a alguns anos, vão se esquecer do escândalo da Petrobras também. 

Eike Batista tinha um ego enorme. 

Ele é como Elon Musk. 

Você não pensa na Tesla [fabricante de veículos elétricos] sem pensar em Musk. 

Batista era maior que suas companhias e isso é sempre problemático. 

Humanos com grandes egos tendem a fazer coisas estúpidas e ele fez coisas estúpidas. 

Naquele momento, avaliaram que era um problema de Eike Batista, não do setor ou do mercado como um todo. 

Acho que estavam errados sobre isso. 

Você chegou investir em ações de alguma empresa de Eike?
Não (risos). 


Tento evitar ações em que a personalidade do dono é a empresa. É sempre arriscado. 

Não compro nem Berkshire Hathaway, porque estaria comprando Warren Buffet. 

E pessoas fazem coisas estúpidas, envelhecem e morrem.
 
O governo brasileiro está tentando ganhar a confiança dos investidores com medidas de ajuste fiscal. 

Elas ajudarão a restaurar a confiança nas empresas brasileiras?

Confiança demora pra se recuperar. 


Meu conselho para o governo brasileiro é que às vezes menos é mais. 

Menos coisas bem feitas têm um efeito melhor. 

O Brasil não voltará à década de 90. 

Vocês darão três passos adiante e dois passos para trás. 

Esse é o momento dos dois passos para trás. 

Os investidores vão se esquecer e voltar. 

Mas vai demorar um pouco. 

Assim que o assunto Petrobras for colocado para trás, o processo de recuperação poderá começar. 

Nesse momento, o governo brasileiro pode anunciar todas as coisas boas que quiser, mas aí você tem prisões e outros bilhões [em fraudes] sendo descobertos. 

É preciso que o caso da Petrobras chegue ao fim. 

Enquanto estiver lá, será uma ferida aberta.
 
O que tem hoje em seu portfólio?
 

É sempre bem diverso e nunca muito concentrado em um setor ou mercado. Compro quatro ações ao ano. 

Mantenho em média por oito a dez anos. 

Vez ou outra invisto numa empresa como Facebook por um período mais curto. 

Não tenho medo de tomar riscos e ir a mercados emergentes. 


Tenho, por exemplo, Lukoil [petroleira russa]. 

Nas minhas aulas digo sempre para ir onde está "a coisa está preta". 

Por isso, estou interessado no Brasil neste momento.


COMENTÁRIO: 

Não aceitaria investir em ações da mineradora Vale nem que fosse para lucrar bilhões de reais, porque me sentiria cúmplice de ficar bilionário com a destruição da natureza e do meio ambiente que esta mineradora provoca no planeta terra.


Valter Desiderio Barreto.

Temer cancela viagem para inaugurar complexo da Vale devido à chuva


Cerimônia de inauguração do complexo S11D Eliezer Batista, da Vale, em Canaã dos Carajás, sem a presença do presidente Michel Temer (Foto: Reprodução/site Vale)


 

Ele faria primeira visita à região Norte como presidente da República; com cancelamento da viagem, Temer foi representado no evento pelo ministro de Minas e Energia.

 



O presidente Michel Temer decidiu neste sábado (17) cancelar viagem ao município de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, onde participaria da inauguração de um projeto da Vale. 


De acordo com a assessoria da Presidência da República, ele decidiu não viajar devido à forte chuva na cidade paraense. 


A viagem ao Pará seria a primeira de Temer para a região Norte desde que ele assumiu como presidente da República. 


Inicialmente, a previsão era de que o presidente participasse da cerimônia de inauguração do complexo S11D Eliezer Batista, o maior projeto de minério de ferro da história da Vale. 

Depois, Temer faria um pronunciamento e retornaria à Brasília. 


No evento, ele foi representado pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coêlho Filho. 


De acordo com a assessoria da Presidência, Temer permanecerá durante todo o fim de semana em Brasília, sem compromissos oficiais.

Projeto S11D



A previsão da Vale é que o projeto entre em operação comercial em janeiro, com produção de até 90 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. 


No total, a Vale deve investir no projeto US$ 14,3 bilhões, dos quais US$ 6,4 bilhões aplicados na implantação da mina e da usina e US$ 7,9 bilhões referentes à construção de um ramal ferroviário de 101 quilômetros, à expansão da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e à ampliação do Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís (MA). 


A estrutura da mina e da usina de processamento de minério de ferro conta com três linhas de produção, cada uma com capacidade de processamento de 30 milhões de toneladas por ano.







Mina do projeto S11D, da Vale, em Canaã dos Carajás (PA) (Foto: Agência Vale).


















COMENTÁRIO:

A mineradora Vale vai destruir o município de Canaã dos Carajás como destruiu o município de Parauapebas.


Valter Desiderio Barreto, direto de Barretos, São Paulo, para o mundo.
 

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