Circulação começa domingo (5); trecho vai da rodoviária ao Santos Dumont.
Trem vai conviver com carros, pedestres e ônibus na Av. Rio Branco.
Ele é uma atração enquanto cruza, quase sem ruído, a Avenida Rio
Branco, no Centro do Rio, numa manhã chuvosa de outono.
Não há pescoço
que fique parado, nem celular que fique guardado.
E para quem tem mais
de 60 anos, é uma viagem de volta no tempo.
Foi assim que se sentiu o advogado aposentado, Marcos Muniz, 73 anos,
ao entrar pela primeira vez no Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), na
última quinta-feira (2), convidado pela reportagem do G1.
O passeio reuniu jornalistas que acompanharam os últimos acertos do VLT
antes da entrada em circulação do primeiro trecho – rodoviária ao
Aerporto Santos Dumont – neste domingo (5).
O advogado carioca disse que achou o VLT moderno e bem mais confortável
do que os bondes antigos.
Enquanto conhecia o trem, ele relembrou os
tempos em que usava o antigo meio de transporte, que parou de circular
no final dos anos 1960.
Tudo bem vivo na memória.
"Tô muito feliz, viu.
Como carioca, vivi minha infância nos Pilares, no
Méier, e viajando de bonde o Rio de Janeiro.
A volta, sinceramente,
está me deixando encantado", afirmou Muniz.
Atenção no trajeto
O VLT, com sua modernidade e tecnologia, é o mais novo integrante de
uma já tumultuada paisagem onde estão ônibus, carros, motos, bicicletas e
pedestres.
E esse será um dos grandes desafios para Elivelton da Silva Alves, 38
anos, ex-motorista de caminhão-reboque da Ponte Rio-Niterói, um dos 28
condutores dos trens.
Ele vai ter que usar todos os conhecimentos do curso que fez durante um
mês na França para evitar situações como as que nossa equipe flagrou
durante o teste nesta quinta: pedestres que atravessam fora da faixa;
ônibus que ficam parados sobre os trilhos; e entregadores de mercadorias
que invadem o espaço do VLT com suas bicicletas.
Por isso, Elivelton
passa boa parte do percurso com o dedo na buzina do trem.
"Existem diversas pessoas que ainda não se acostumaram com esse modal
de transporte.
Ainda vai levar algum tempo para as pessoas se
acostumarem.
Temos que tomar cuidado com relação a tudo que está na
nossa volta.
O mais importante na nossa condução é sempre visualizar o
exterior para qualquer eventualidade", explicou.
Elivelton Alves é um dos 28 condutores do VLT (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
Segundo ele, a buzina é acionada uma ou duas vezes em cada cruzamento
dependendo da quantidade de pessoas em cada cruzamento.
Ele confessa que
durante os testes já usou muito o freio, principalmente por causa das
selfies dos curiosos.
"Nossa intenção é que a pessoa olhe para nós e
veja que o VLT vai passar".
No dia do teste, Elivelton usou velocidades entre 5 e 27 km.
Além da
buzinha, guardas do Centro de Operações da prefeitura orientam pedestres
e motoristas sobre a aproximação do trem.
O período em que ele fica
mais tempo parado é no cruzamento da Avenida Rio Branco com Avenida
Presidente Vargas .
Entregador em bicicleta não respeita passagem do trem do VLT durante testes (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
Um novo personagem no Centro
Essa convivência com o VLT também divide opiniões dos taxistas que
circulam no Centro da cidade.
Arlécio dos Santos Rosa, 63 anos, andou de
bonde quando era criança e diz que agora está preocupado com a
segurança.
"Usei bastante quando era pequeno, com 12 anos de idade, mas não era
tão perigoso como agora.
Não tinha tanto veículo nas ruas, não tinha
tanto ônibus e as pessoas eram mais cuidadosas.
Acho que o carioca não
está preparado", disse
Tô muito feliz, viu.
Como carioca, vivi minha infância nos Pilares, no
Méier, e viajando de bonde o Rio de Janeiro.
A volta, sinceramente,
está me deixando encantado"
Marcos Muniz, advogado
Já o taxista Luciano de Souza, 53 anos, está curioso e quer
experimentar uma viagem assim que os trens começarem a circular.
"Acho
que esse VLT vai dar certo no Centro da cidade devido ao número de
linhas de ônibus que sobrecarrega o centro.
Acho que vai dar uma
melhorada nisso aí, vai ficar bom", avaliou.
Polêmica
A inauguração do VLT estava marcada para o dia 22 de maio.
No entanto, a
prefeitura adiou para que as pessoas que circulam pelo Centro tivessem
mais tempo para se acostumar com o novo meio de transporte.
No início da semana, o Ministério Público pediu que a circulação fosse
mais uma vez adiada sob a alegação de que a sinalização no trecho em que
o trem vai circular nesta primeira fase precisa ser testada e aprovada
para integridade e segurança dos passageiros, pedestres e pessoas que
vão circular pelas imediações do VLT.
Trens na Parada dos Museus, na Praça Mauá (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
Na quinta-feira (2), a Justiça negou o pedido feito pelo Ministério
Público.
Uma audiência especial foi realizada na quarta-feira (1º),
quando a prefeitura esclareceu que a CET-RIO já monitora a sinalização
semafórica instalada pela Concessionária do VLT Carioca.
Na decisão, a juíza destacou que há riscos em qualquer lugar em que
haja tráfego de veículos e pedestres, mas que podem ser reduzidos com a
instalação de sinalização adequada – o que a prefeitura afirma ter
cumprido.
VLT circula na Avenida Rio Branco durante testes (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
Funcionamento em etapas
De acordo com a prefeitura, serão oito fases de implantação até o
início da Olimpíada, no dia 5 de agosto.
Nesta etapa que inaugura
domingo, serão oito paradas — Parada dos Museus (ao lado do Museu de
Arte do Rio), São Bento, Candelária, Sete de Setembro, Carioca,
Cinelândia, Antônio Carlos e Santos Dumont.
Quando estiver totalmente
pronto, o percurso terá 28 paradas e três estações.
O passageiro vai viajar de graça até 1º de julho, durante esse período
de funcionamento. Inicialmente, batedores da CET-Rio acompanharão os
VLTs, para alertar as pessoas na rua.
Na primeira semana, a circulação será de três horas (de 12h as 15h),
com meia hora de intervalo entre as viagens e somente nos dias úteis.
Três trens vão fazer esse percurso.
A circulação será entre a Parada dos
Museus, na Praça Mauá, até o Aeroporto Santos Dumont.
Na segunda semana, o horário será ampliado para 11h até 16h.
Na terceira semana, os trens vão sair da Parada dos Navios até o Santos
Dumont, de 10h até 16h, com intervalo de 30 minutos.
Na semana
seguinte, os trens partem da parada da Praia Formosa, no Santo Cristo,
até o Santos Dumont, de 9h até 17h, com intervalo de 15 minutos e sete
veículos.
Máquina validadora de bilhetes no interior do trem do VLT (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
Na sexta e na sétima semana, também será ampliado o horário de início e
de término das viagens.
Primeiro eles vão circular das 7h às 21h, com
intervalo de 15 minutos.
Em seguida, das 6h às 24h.
E no início do período olímpico, a circulação será feita da Parada dos
Navios ao Santos Dumont, nos horários de pico, com intervalo de 15
minutos e três veículos.
Haverá nessa fase a conexão com outros
transportes.
Tarifa x Bilhete Único
Com passagens a R$ 3,80, os novos trens terão integração com todos os
outros transportes públicos da cidade: trens da SuperVia, metrô, barcas,
teleférico do Morro da Providência, ônibus e BRT.
Em operação plena, a capacidade do VLT deve chegar a 300 mil
passageiros por dia.
O VLT vai operar 24 horas por dia nos sete dias da
semana.
Cada vagão vai comportar 420 passageiros.
Avisos ao longo da Avenida Rio Branco alertam pedestres (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
Agentes uniformizados estarão em todas as paradas orientando os
usuários sobre o novo sistema. Não haverá cobrador no trem e por isso o
passageiro terá que validar o seu bilhete em máquinas instaladas dentro
das composições.
Quem não validar o bilhete dentro do VLT, poderá ser multado no valor
de R$ 170. A secretaria alerta que não será possível comprar o bilhete
dentro dos trens.
Para isso, serão instalados postos de vendas próximos
das paradas na Avenida Rio Branco.
O mecanismo de pagamento será diferenciado.
Será adotado o sistema de
validação voluntária no qual, o passageiro, ao entrar no veículo, deve
utilizar um dos autenticadores disponibilizados no vagão para efetuar o
pagamento da passagem.
A segunda etapa de implantação do VLT – entre a Central do Brasil e a
Praça 15 – está prevista para o segundo semestre, após as Olimpíada.
Guardas de trânsito trabalham durante passagem do VLT na Avenida Rio Branco (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)