Iniciativa do pai da modelo melhorou qualidade da água em Horizontina.
Outras ações no estado tentam garantir que não falte água para população.
A crise hídrica registrada em São Paulo deu visibilidade para o debate
sobre como estamos fazendo uso da água e cuidando dos nossos rios.
No
Rio Grande do Sul, uma das iniciativas que pode servir de exemplo na
área foi idealizada pela família da modelo Gisele Bündchen, como mostra a reportagem do Teledomingo, da RBS TV (veja o vídeo).
Coordenado pelo sociólogo Valdir Bündchen, pai da modelo, o projeto
Água Limpa é voltado para a preservação da qualidade da água em Horizontina,
terra natal da família.
Em poucos anos, a iniciativa recuperou o Rio
dos Pratos e mais seis nascentes que compõem a bacia, na Região Noroeste
do estado.
O pai da modelo conta que a iniciativa começou em 2004, com uma
pesquisa para construir um projeto ambiental próprio.
No estudo,
constatou-se que os principais problemas das microbacias da região eram o
assoreamento dos rios e afluentes, desmatamento em áreas de preservação
e mau uso do solo pelos agricultores.
A situação era crítica.
As margens estavam caindo para dentro do rio,
por causa do assoreamento.
E a cada ano, a quantidade de água disponível
para abastecer a cidade de 19 mil habitantes era menor.
Projeto de Valdir Bündchen melhorou qualidade da água em Horizontina (Foto: Reprodução/RBS TV)
“O rio, assim como diversos cursos d’água da nossa região, se
encontrava em uma situação de degradação bem acentuada, em alguns pontos
havia inexistência da mata ciliar, muito pontos também com concentração
alta de poluentes orgânicos e inorgânicos, e em outros nós tínhamos
apenas uma área degradada”, lembra o engenheiro florestal Emerson
Sichinel.
O jeito foi conscientizar os agricultores.
E em parceria com eles, o
projeto garantiu o reflorestamento para recuperação das margens.
Foram
plantadas quase 40 mil mudas nativas.
Preservação das nascentes, combate
à poluição e ações de educação ambiental em escolas também foram
feitas.
Com o envolvimento de toda comunidade, os resultados apareceram
em sete anos.
E a qualidade da água do rio melhorou.
“Os resultados já existem e a partir de agora sempre serão maiores.
Quando você a situação em que esta reduzida a cidade de São Paulo, as
nascentes do São Francisco e tanta coisa que você pode ver, você entende
a importância de um projeto como esse que esta sendo feito aqui”,
comemora Valdir Bündchen.
Incentivado pela filha Gisele Bündchen, conhecida por defender as
causas ambientais, Valdir agora tem um objetivo ainda maior: expandir o
projeto recuperar a água de outros rios do país, em parceria com um
banco público.
“Como seria importante se eles chefiassem uma ideia simples: adote uma
nascente.
Vamos cuidar da nascente remunerando o agricultor que vai ter a
maior alegria se ele tiver uma pequena remuneração.
Quando a gente quer
e se dedica tudo é possível”, afirma o sociólogo.
Estado sofre com falta de reservatórios
Essencial para a vida humana, a água, por enquanto, é o que não falta
no Rio Grande do Sul.
O estado tem rios e arroios espalhados por todas
as regiões, em 25 bacias hidrográficas, uma situação privilegiada em
relação a outras regiões do país.
Mas o volume de chuvas tem um papel
fundamental na disponibilidade dela para a população.
“Nós vivemos em uma fronteira climática, em uma transição do sistema
tropical e subtropical.
Então a gente está sujeito a certas oscilações, e
principalmente quando ocorrem fenômenos como El Niño e La Niña, esse
regime nosso é afetado, chuvas acima ou abaixo do normal”, explica o
diretor de Recursos Hídricos do estado, Marco Mendonça.
É em épocas de estiagem que um dos maiores problemas do estado fica
evidente: a falta de reservatórios para abastecer a população,
principalmente em áreas críticas, como nas bacias dos rios do Sinos e
Gravataí, onde moram 2,5 milhões de pessoas.
Maioria dos reservatórios de água do estado é destinado à agricultura e geração de energia
(Foto: Reprodução/RBS TV)
“Esse problema que está acontecendo em São Paulo tem seu lado positivo,
a gente só se lembra da água quando ela falta.
No Brasil inteiro, a
grande maioria dos reservatórios são para a geração de energia.
Aqui no
Rio Grande do Sul, na Metade Sul as estruturas são para garantir a
lavoura de arroz e na Metade Norte são para a geração de energia”, diz
Marco.
A questão é saber quanta água temos disponível, ao longo do tempo, para
depois gerenciar o uso dela. Em busca desta informação, o Estado
investe em uma rede de mapeamento dos recursos hídricos.
Já estão
funcionando 12 estações que medem a quantidade de chuva e o
comportamento dos rios.
O regime de chuvas de todo o estado vem sendo monitorado de forma
permanente pela Secretaria do Meio Ambiente.
Os técnicos têm condições
de saber a cada 15 minutos se a quantidade de chuvas em cada região do
estado está acima ou abaixo da média e o impacto disso para o nível dos
rios.
Os dados gerados são acessados em tempo real pela Defesa Civil,
que tem a responsabilidade de tomar medidas para proteger a população.
“No Sinos, nós instalamos três estações e duas delas tem um acordo do
comitê que diz que, quando chegar no nível critico x, suspende o
bombeamento para lavoura de arroz e garante o abastecimento para a
cidade.
A intenção é fornecer este tipo de informação para que a
população saiba quem pode e quem não pode utilizar água”, diz Marco.
Tecnologia como aliada.
Mas não basta ter água em abundância.
Ela precisa ter qualidade.
Nesse
sentido, o estado não tem muito do que se orgulhar. Só 18% dos
municípios gaúchos tratam seu esgoto.
E dos 10 rios mais poluídos do
Brasil, três são gaúchos: Gravataí, Sinos e Caí, poluídos com esgoto,
lixo e resíduos industriais.
Limpar esta água custa caro.
E depende de tecnologia.
Como a que vem sendo testada pela Universidade Feevale, em Novo Hamburgo,
em parceria com uma universidade do Canadá e com o Polo Petroquímico de
Triunfo.
A água que já foi utilizada e tratada pelas indústrias passa
por um novo processo de filtragem.
O sistema utiliza membranas plásticas e é semelhante ao usado para
retirar o sal da água do mar.
Depois de dois dias, a água que sai no
final do processo é pura e cristalina, pronta para ser reutilizada pela
indústria ou até mesmo devolvida para o Rio Caí, mas desta vez sem
causar nenhuma poluição.
“Pode ser tratado também água potável, pode ser tratado esgoto, pode
ser tratado efluente de curtume, pode ser tratado efluente de
galvanoplastia e outros tipos de indústrias”, diz Fabrício Celso,
pesquisador do projeto.
“O principal beneficio é a redução da captação
de agua pelas indústrias do Polo Petroquímico.
A ideia é reduzir em
torno de 20%, 500 metros cúbicos hora, o volume de agua captada dos
rios”, acrescenta.