Famílias temem que a economia entre em longo ciclo de inflação alta com
baixo crescimento, fatal ao emprego e à renda, até na indústria naval.
Teria o sonho acabado?
Nem o maior crítico das
decisões de Dilma quando acumulou nos governos Lula o Ministério de
Minas e Energia e a Casa Civil com a presidência do Conselho de
Administração da Petrobras podia supor que a empresa fecharia 2014 em
situação tão dramática.
Sem o lastro de gigantes campos de petróleo
(mais de dois milhões de barris/dia e mais de 16 bilhões de barris em
reservas), refinarias, petroquímica, navios e plataformas próprias ou
arrendadas, poderia seguir o destino da petroleira de Eike Batista, a
OGX, com um só campo de produção, inviável.
Entre a descoberta provada
do pré-sal — em 2007, quando o barril valia US$ 105 (chegou a US$ 160 no
mercado futuro, em agosto de 2008, quando o estouro da bolha financeira
de Wall Street jogou a economia mundial ao chão) — e dezembro de 2014
(US$ 59, com a redução da demanda nos EUA, após exploração do shale gas), tudo o que podia ser feito de errado aconteceu na Petrobras, a “tempestade perfeita”.
Certa
de que o Brasil ganhara na loteria e garantira seu futuro no século 21
(embora sem base educacional e produção industrial sofisticada ou
tecnologia de ponta), Dilma convenceu Lula a suspender os leilões da
ANP, a rever o marco regulatório e dar à Petrobras posição obrigatória
mínima de 30% em cada novo poço.
Manteve o rígido controle dos preços
dos derivados, incluindo o GLP, que dá popularidade, mas mina as
receitas da estatal.
Confiante, o governo fez do petróleo o novo motor
da economia e lançou ambicioso programa de produção de barcos de apoio,
plataformas, navios de transporte, tudo com alto índice de
nacionalização.
Moleza para empreiteiras e fornecedores.
Quando
as entregas atrasavam, ou tinham defeito (caso do navio João Cândido,
posto ao mar, com soldas mal feitas no Estaleiro Atlântico Sul, em maio
de 2010, em Pernambuco, para servir de palanque ao lançamento oficial da
candidatura Dilma), dizia-se que era “o preço da curva de
aprendizagem”.
Véu que encobria tenebrosas transações.
Como informou O
GLOBO, a manobra teve bis em Angra dos Reis (no estaleiro Toyo Setal,
com executivos na delação premiada) entre o primeiro o segundo turnos de
2010, ao custo extra de US$ 25 milhões para antecipar a entrega da
plataforma P-57 (custou US$ 1,2 bilhão), majestoso palanque da eleição
de Dilma.
O pré-sal serviu para costurar alianças com políticos dos
estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, dando-lhes maior fatia na
redistribuição dos royalties do óleo do mar, prejudicando Rio de Janeiro
(responsável por 80% do petróleo do país), Espírito Santo e São Paulo.
E
atrelou 75% dos recursos à saúde e à educação.
Daí, a forte votação de
Dilma no Norte/Nordeste em 2010 e 2014.
Na crise de 2008/2009, o
governo dobrou as fichas no petróleo.
Estimulou a venda de carros à nova
classe C em até seis anos e manteve gasolina e álcool congelados.
Gerou
engarrafamentos diários e superendividamento das famílias.
Agora,
hesita em agir.
As famílias temem que a economia entre em longo ciclo de
inflação alta com baixo crescimento, fatal ao emprego e à renda, até na
indústria naval.
Teria o sonho acabado?
A desmoralização da Petrobras
fez seus ativos valerem menos que as dívidas para tocar o pré-sal.
Com
os problemas da estatal e a queda vertiginosa do petróleo (e dos
minérios e das commodities agrícolas), além de sérios problemas na
balança comercial e nas contas externas, a sonhada redenção do Brasil,
via petróleo e a educação de qualidade, corre risco de se limitar a uma
segunda época no Pronatec.
Gilberto Menezes Côrtes é jornalista