"Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito,
para que te guardem em todos os teus caminhos."
(Salmos 91:11)
No dia em que compreendemos quem seja Deus, Sua obra e Seu propósito
para conosco, indubitavelmente somos conduzidos a Ele.
Mas essa não é uma jornada semelhante em todas as experiências e cada um
precisa discernir sua própria história, assim como as diretrizes por meio das
quais Deus nos atrai a si.
Eu tive meus tropeços e não foi fácil chegar ao ponto que me acho.
Vários foram os obstáculos que precisei transpor e na presente análise
dos mesmos, gostaria de dividir com você leitor (a), como se deu minha
trajetória de fé e quais são os sólidos fundamentos da minha decisão de
pertencer a Cristo Jesus.
O problema da história de vida: o meu sistema de vida familiar era
bastante contrário aos rumos cristãos, o que tornava improvável meu encontro
pessoal com Deus.
Mesmo tendo sido criado dentro de um sistema religioso tradicional, não
havia em nosso lar uma experiência sincera e prática de observância daquilo que
oralmente se pronunciava.
Rituais, crendices, superstições e imposições religiosas não traziam
nenhuma contribuição real e eu sempre me senti distante e ignorante acerca de
Deus e Suas verdades.
Isso era muito desanimador.
O problema da personalidade: eu nunca fui o que se pode chamar de
"uma pessoa fácil".
Gênio forte, senso crítico apurado, humor ácido e espírito
revolucionário, faziam de mim, desde a infância, o "sujeito diferente da
turma".
Quando criança preferia brincar isolado, na adolescência adotava gostos
e preferências opostos a tudo que minha geração prestigiava e questionava
profundamente o sistema religioso que se denominava cristianismo.
O problema da intelectualidade: aos 12 anos de idade eu li meu
primeiro livro, que foi "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens
Paiva.
Foi a experiência mais extraordinária que vivi até então e posso
assegurar que poucas coisas que se deram no futuro foram mais marcantes que
esse evento.
Vários foram os impactos que essa leitura me proporcionou.
Os livros se tornaram meu vicio e eu dedicava mais de 6 horas diárias à
leitura de tudo que conseguia obter.
Foi algo tão forte, que mesmo hoje, décadas após, ainda não consigo
ficar um dia inteiro ser ler e escrever.
Obviamente isso me proporcionou uma bagagem intelectual interessante,
sedimentando em mim o espírito crítico das amplas análises e o aguçamento de
minhas tendências questionadoras.
Uma vez que o aprofundamento filosófico-científico, em geral, afasta o homem
da crença num Deus pessoal e bíblico, eu também nutria profundas dificuldades
para acreditar nas tradições e relatos religiosos que chegavam ao meu
conhecimento.
O problema dos maus exemplos: no conjunto de minhas observações,
lembro que sempre me interessei por pesquisar as vidas daqueles que se diziam
representantes de Deus.
Sacerdotes, fiéis eram o alvo de minha mira analítica e não poucas vezes
eu os vi reduzidos às cinzas da vergonha e do escárnio público, por conta de
suas quedas morais e espirituais.
Naturalmente, isso dava grande contribuição para que eu me mantivesse
desinteressado por tudo quanto tivesse qualquer conotação religiosa.
O problema das decepções: evidentemente nem todos que pertenciam ao
universo religioso eram reprováveis.
Quando aos 16 anos de idade eu me tornei evangélico (por razões que
ainda direi aqui), pude conhecer pessoas que me encantaram e nas quais me
espelhei.
Infelizmente, o passar dos anos me mostraram os agudos espinhos que se
ocultavam nas flores visíveis.
Muitas dessas pessoas desertaram, tombaram, seguiram as veredas da
apostasia.
Outras se voltaram contra mim, me condenaram quando tropecei, me
abandonaram e me decepcionaram amargamente.
Seguir adiante nessas circunstâncias não foi fácil.
O problema da solidão teológica: quando todos os problemas citados
acima são superados e fica como saldo derradeiro uma firme convicção de tudo
aquilo que aprendemos e carregamos na alma, ainda resta o enfrentamento das
concepções contrárias.
E quando essas concepções contrárias se multiplicam a ponto de se
tornarem padrão corriqueiro - fica um vazio solitário, uma sensação de que
estamos sozinhos no campo de batalha das ideias mais íntimas e fundamentais da
fé.
Muitos são os que desistem de tudo, quando, por desânimo, atingem esse
estágio.
Dentro de uma lógica avaliativa, todos esses problemas deveriam ter me
impedido de chegar a Deus e permanecer em Seu Caminho, porém não foram capazes
de bloquear os planos e propósitos que o Senhor tinha e ainda tem para
mim.
Meu encontro com Deus se deu por razões que estão acima da lógica, do
racionalismo, da visão concreta dos obstáculos ou da gravidade das
atribulações.
Deus cuidou de mim, me preservou, me preparou e permitiu que eu
atravessasse todos esses viés, justamente para que hoje eu tivesse a aptidão
necessária para citá-los, não como um abismo intransponível, mas como um meio
pelo qual aprendemos a depender do poder de Deus em nossas vidas.
É por isso que sou um cristão. Porque aprendi a depender de Deus.
Não sou cristão por interesses materialistas, pela satisfação do ego,
pela busca do reconhecimento humano.
Já tive essa oportunidade, mas foram justamente as vitórias nos
problemas acima citados, que me ensinaram a purificar minha fé a ponto de fugir
dessas armadilhas e repugná-las com toda força de minha alma, denunciando,
inclusive, seus resultados desastrosos, assim como seus patrocinadores e
protagonistas.
Eu sou cristão porque amo o mundo que me rodeia e o quero curado de suas
crises e cegueiras.
Sou cristão porque minha visão não se limita às imperfeições desse
presente século e meu coração não está atrelado às visibilidades passageiras
dessa dimensão.
Eu sou cristão porque Deus me amou primeiro e quis em Sua infinita sabedoria
que eu assim me tornasse, para que com toda alegria e satisfação pudesse
publicar ao mundo que não me envergonho da cruz de Cristo!