É impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao local’, aponta laudo.
Estudo preliminar aborda impactos ambientais e sociais em MG e no ES.
Fotógrafo registra imagens dos impactos da lama da Samarco no Rio Doce (Foto: Leonardo Merçon/ Últimos Refúgios)
O documento, com data de 26 de novembro, abrange áreas afetadas em Minas Gerais e no Espírito Santo.
Além dos danos à vegetação, o estudo, divulgado nesta terça-feira (1º) pelo jornal 'O Estado de S.Paulo', também destaca os impactos à fauna, à qualidade água e socioeconômicos.
O laudo indica que, a execução das medidas de reparação de danos, quando viáveis, durará pelo menos dez anos.
Em relação aos animais, o documento não traz dados animadores.
“O nível de impacto foi tão profundo e perverso ao longo de diversos estratos ecológicos, que é impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao local, visando o reequilíbrio das espécies na bacia do rio Doce”, traz o documento.
Segundo informações apresentadas pelo Ibama, mais de 80 espécies habitavam a bacia hidrográfica antes do desastre ambiental.
Dentre elas, 11 estavam ameaçadas de extinção e 12 são exclusivas ao rio.
Somente no período entre 16 e 23 de novembro, no trecho entre as cidades capixabas de Baixo Guandu e Linhares, quase 7,5 mil peixes mortos foram recolhidos.
Entretanto, de acordo com o laudo, a mortandade de animais pode ser ainda maior do que a aparente.
Como a maioria dos peixes do rio é de pequeno porte, eles podem se decompor rapidamente ou talvez não flutuem após perderem a vida.
Além disso, o rompimento da barragem ocorreu justamente na época de reprodução de peixes e crustáceos.
Segundo o Ibama, os danos chegam a toda cadeia alimentar, afetando desde plânctons até os mamíferos.
“Essas alterações poderão até provocar um aumento no grau de ameaça de extinção das espécies [já ameaçadas] (...), bem como tornar ameaçadas espécies antes abundantes”.
O Parque Estadual do Rio Doce, maior área preservada de Mata Atlântica de Minas Gerais, também está ameaçado, conforme o estudo.
A lama de rejeitos, segundo o Ibama, tem potencial de extravasar a calha do rio e atingir o sistema de lagoas e florestas ciliares da reserva.
Conforme o relatório, 34 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério vazaram da barragem de Fundão, no dia 5 de novembro.
Outros 16 milhões de metros cúbicos seguem sendo carreados por mais de 663 quilômetros e, por isso, segundo o Ibama, “pode-se dizer que o desastre continua em curso”.
Distrito
de Paracatu foi tomado por lama, mas extensão da área atingida ainda
não foi calculada pelo Ibama (Foto: Raquel Freitas/G1)
Esse levantamento, entretanto, ainda não foi feito em outras localidades como Paracatu de Baixo, a segunda mais atingida.
Ao longo do caminho percorrido pela lama, ao menos 1.249 pescadores foram afetados em mais de 40 cidades mineiras e capixabas.
Em relação ao impacto na qualidade da água, além da suspensão do abastecimento nos municípios afetados, a presença de metais e alteração de outros parâmetros indica a necessidade de monitoramento contínuo do ambiente afetado.
O laudo é finalizado com uma enumeração de medidas de recuperação que devem ser tomadas.
Entre as ações voltadas para o meio ambiente, estão a elaboração de planos de recuperação e conservação do solo e da água, de gerenciamento do material retirado do rio Doce e de monitoramento ambiental da bacia.
Com relação aos impactos sociais, além da reconstrução das estruturas afetadas e realojamento de pessoas, o estudo recomenda a execução de pesquisa social, visando ao conhecimento da percepção de riscos de rompimento de barragens.
O laudo ainda ressalta que deve ser dada atenção especial a populações indígenas, àqueles que trabalham com ecoturismo e a comunidades de pescadores e de pequenos agricultores.
Fotógrafo registra imagens dos impactos da lama da Samarco no Rio Doce (Foto: Leonardo Merçon/ Últimos Refúgios)