Com a previsão de que a onda de lama chegasse ao
Estado na madrugada de hoje, o governador Paulo Hartung sobrevoou a região
nesta segunda-feira (9), de onde coordena as ações que buscam amenizar os impactos
dos rejeitos.
Peixes e algas devem sumir, e destruição pode chegar ao mar.
O rastro de destruição no Rio Doce deixado pela lama proveniente das
barragens de Mariana demorará décadas para ser revertido.
Além de deixar a água
imprópria para consumo por um período indeterminado, espécies de peixes, algas
e plantas devem sumir do local por alguns anos e o acúmulo de material no fundo
do rio pode provocar enchentes no período chuvoso.
“Serão décadas para recuperar toda fauna e flora, não tem como saber
quanto tempo.
São peixes que fazem sua reprodução ali e estão morrendo
toneladas”, diz o biólogo Marco Bravo.
Sem oxigênio na água, as algas que alimentam os animais aquáticos também
morrem, o que deixa o ambiente mais inóspito ainda.
Fotógrafa flagrou rastro de destruição em cidades do interior de Minas
Gerais - Crédito: Elvira Nascimento
Para o ambientalista André Ruschi, o Rio Doce “está morto” e o material
que está percorrendo ele poderá causar malefícios também ao mar.
“Vai tudo
parar no oceano e vai atingir a corrente marinha Giro de Vitória, o maior
criadouro do Atlântico”, afirma Ruschi.
Reverter o dano demandará limpeza de fundo de barragens criadas ao longo
do rio e dragagens, que ainda assim são procedimentos complexos que podem não
ser tão efetivos.
As matas ciliares das nascentes também precisam ser
intensificadas para que a água ganhe força e ajude o Rio Doce a retomar seu
ciclo.
“A gente espera com muita fé que não aconteça de ter presença de
poluentes mais graves”, destaca o doutor em Engenharia Agrícola, Abrahão
Elesbon.
Ele explica que, ainda assim, não há como saber quanto o efeito da
lama na água irá cessar para que ela volte a ser usada em consumo humano.
A fotógrafa Elvira Nascimento vive no Vale do Aço, em Minas Gerais, e
fez fotos impressionantes da passagem da lama de rejeitos pelo Rio Doce
mineiro.
As fotos foram feitas entre as cidades de Coronel Fabriciano e
Marliéria, nas regiões de Ponte Queimada, Ponte Perdida e Ponte Metálica.
As fotos foram tiradas mais de 24 horas depois da tragédia e cerca de
200 km rio abaixo.
Nas imagens é possível observar a textura da água, além de
vários peixes mortos.
“Encontramos muitos animais mortos.
É uma tristeza sem
fim, porque para a gente o rio está morto”, diz a fotógrafa.
“A nossa equipe de governo e as equipes das
prefeituras vêm trabalhando de uma maneira coordenada, com todos os setores,
como Defesa Civil e o setor de água.
Nós unimos os técnicos da Cesan e os
técnicos dos SAAEs na região do [Rio] Doce.
Esse trabalho tem o intuito de
amortecer o impacto no ponto de vista da população naquilo que está ao nosso
alcance, infelizmente tem muita coisa que não está, numa tragédia como essa”,
explica Hartung.
O primeiro trabalho realizado pela Defesa Civil foi de
monitorar a população ribeirinha durante o fim de semana.
Os habitantes de
Baixo Guandu e Colatina que vivem próximos ao Rio Doce foram retirados das
áreas de perigo.
Equipes de análise monitoram a qualidade da água nos
três municípios capixabas por quais passam Rio Doce.
Caso seja constatado que a
água é imprópria para consumo, o abastecimento será interrompido imediatamente.
O governo pediu a ajuda de empresas para que forneçam
caminhões-pipa, que serão usados caso haja interrupção.
Vejam imagens da destruição abaixo.
Lama eliminada por barragens devastou região de Bento Rodrigues |
Distrito de Bento Rodrigues, a cerca de 2km do acidente, foi o mais afetado
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"Ora,
quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai
as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima." (Lucas 21:28)
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Região de Mariana tremeu horas antes de rompimento de barragens |
Rompimento da barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (Foto: Luis Eduardo Franco/TV Globo) |
Rompimento de barragem liberou 'mar de lama' que soterrou diversas casas |
Estradas foram interrompidas e acesso a áreas é realizado apenas por helicópteros |
Fotógrafa Elvira Nascimento registra desastre em parte mineira do Rio Doce - Crédito: Elvira Nascimento |
Sobreviventes foram socorridos na quinta-feira à noite, mas teme-se que haja mais feridos e soterrados
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