O ritmo é forte. O serviço é pesado. Mas a aposentada Rita Graczyk sempre foi uma daquelas pessoas apaixonadas pelo trabalho. “Eu gosto. Imagina se eu não gostasse. Gosto muito”, diz.
Ela aprendeu a combinar capricho e economia. “Não é o produto que limpa, mas sim o esfregar, o capricho e a boa vontade”, resume.
Rita costumava fazer 14 faxinas por semana. Ela limpava uma casa de manhã e outra à tarde. No sábado, ainda deixava os corredores e as escadarias de três prédios brilhando. Como ela conseguia fazer tanta coisa em tão pouco tempo?
“Acelerando e trabalhando sempre em cima do relógio”, responde. “Tudo eu economizo, até meu tempo.”
Para varrer a casa? Quinze minutos. Para tirar o pó? Vinte minutos. Para lavar o banheiro? Mais 20. O passo acelerado é outro segredo de economia de Rita.
“Sempre fui trabalhar a pé. Nunca utilizei ônibus. Nunca fui de carro, sempre a pé. Ando até 40 minutos, mas o segredo era levantar mais cedo para chegar no horário”, conta.
Com um bom humor danado e muita disposição, a faxineira construiu um patrimônio de dar inveja. A duas quadras de uma das praias mais badaladas de Santa Catarina está o apartamento de 155 metros quadrados que Rita também limpa com gosto, mas por puro prazer: no local, ela faz o papel da dona de casa.
"Quando eu vim morar para cá, eu me beliscava. Será que isso é nosso mesmo? Será que isso não era um sonho?", lembra Rita.
Para comprar a beleza de apartamento, Rita não pediu dinheiro em banco. Fez uma "matemática".
“Nós guardamos dinheiro, compramos três terrenos, esperamos os terrenos valorizar e depois vendemos e pagamos com mais um pouco de dinheiro que nós juntamos. Foi o que a gente fez”, explica.
Na época, ela ainda deu um jeitinho de não vender o antigo apartamento. Viu nele uma boa fonte de renda. “Não se deve vender o que a gente tem. A gente tem que adquirir para comprar outro, não vender”, ensina.
A lógica de Rita não parece lição de economia? Ela completou 60 anos e há dois meses decidiu parar de fazer faxina na casa dos outros. Mas só pôde se dar ao luxo porque a vida inteira controlou cada tostão. Ela nunca atrasou uma conta.
“Se você deixa hoje atrasar, amanhã tem duas. O condomínio é a mesma coisa. Você tem desconto de 20% pagando em dia. Você junta o ano todo, consegue pagar as duas últimas parcelas só com o desconto que teve durante o ano”, explica.
A filha, a pedagoga Josiani Graczyk, aprendeu com o exemplo: “Não pode gastar mais do que tem. Isso não pode.”
Rita só faz compras à vista. Teve paciência para juntar dinheiro e pagou todos os eletrodomésticos do apartamento novo de uma vez só. Faturou um desconto de R$ 1.050 mil. “Dá para dizer que praticamente a máquina de lavar roupa veio de graça”, reflete.
Ela não usa cheque nem cartão de crédito. Comida, ela sempre faz em casa. Ela precisa pensar para se lembrar da última vez que foi a um restaurante. “Agora lembro. Nós fomos comer fora quando a gente fez 25 anos de casado. Isso faz uns seis anos. Isso aí ajuda muito na economia de cada um, por isso a gente consegue comprar as coisas. Não é porque ganha um monte de dinheiro, não.”
Na hora de comprar roupa, Rita ensina: para fazer economia, é preciso gastar um pouco mais. “Eu compro roupa boa, pago um pouquinho mais caro, lavo ela no tanque, não coloco na máquina. Posso até botar para centrifugar e depois eu passo ela do avesso. A roupa dura mais.”
Rita cobrava R$ 50 por faxina. Juntando o salário dela com o do marido, que é pedreiro, a soma chegava perto de R$ 3 mil. Rita pode se esbaldar agora porque sabe direitinho quanto custa ganhar e guardar o dinheiro.
“Você vai trabalhar, acha seu trabalho tão pesado e aí você gasta à toa? Não pode”, ressalta.
O aposentado Valfredo Schmitt também é da turma que economiza no centavo. Ele conta até vantagem na padaria! “Dei uma moeda de R$ 1 e ela me voltou com R$ 0,50. Estou no lucro com R$ 0,03”, calcula. “Já fiz minha economia do dia. Ou parte da economia.”
Esse jeito de levar a vida rendeu uma fama e tanto: “Chorão”, define a dona de loja. “Casquinha”, diz a dona da padaria Bernadete Maria Boss.
Valfredo e a mulher ganharam a vida como operários de indústria têxtil. Ele recebia pouco mais de dois salários mínimos por mês, o equivalente, hoje, a R$ 4 por hora. Ela, também. Juntos, definiram um limite: os gastos da casa não podiam ultrapassar a renda de um deles - o salário do outro virava poupança.
“Eu trabalhava em média 24, 25, 26 horas por semana de hora extra”, lembra Valfredo.
Para comprar a primeira casa própria, Valfredo passou três anos folgando apenas uma vez por mês. Oportunidades para economizar? Ele sempre viu, por toda parte.
“Eu acho que se eu puder ir a pé ou de bicicleta, é exercício. E isso está me trazendo saúde.”
Os filhos cresceram ouvindo: “Apaga a luz, economiza água, só põe no prato aquilo que vai comer”, relata consultor de informática Sidnei Schmitt.
“Eles tinham no máximo cinco minutos para tomar banho”, revela Valfredo. “Se passasse de cinco minutos, eu ia lá cobrar. Bati na porta várias vezes cobrando.”
As regras sempre foram muito claras. Na hora de fazer compras... “Só se compra aquilo que realmente necessita. No máximo um sapato por ano. Quando ele aguenta, passa de um ano tranquilamente”, diz o aposentado.
E na hora de pagar... “Meu hábito é ir falar com a gerente, principalmente a dona. A dona é mais prático de a gente convencer, sabe?”, brinca, olhando para a gerente de loja. “É um segredo”, ri ela.
Segredo para conseguir desconto. É o rei da economia. Mesmo com um salário modesto, Valfredo e a mulher deram um empurrãozinho na vida financeira dos filhos.
“Sem dívida e sem mexer na poupança. Fizemos festa de casamento, festa de formatura, compra de casa para a Luciana, boa poupança para o Sidnei, e isso sem mexer no capital, no especial. Só economizando”, diz.
Um esforço que emociona. “Muito orgulho, muita gratidão, sempre”, elogia, emocionada, a assistente de vendas Luciana Schmitt.
No fim das contas, Valfredo conseguiu uma proeza: quitou a casa onde mora hoje e ainda comprou um apartamento na praia. Isso tudo sem nunca ter feito um empréstimo bancário. “Fizemos isso só na força da poupança, guardando dinheiro.”
A fórmula de Valfredo seria a mesma de Rita? Qual o segredo?
“Muito amor ao trabalho, muito amor à vida, muito amor ao capricho, uma luta diária”, conclui Valfredo.
Rita e Valfredo, os nossos dois mestres na arte de economizar, têm mesmo muita coisa em comum. Eles são irmãos, filhos de agricultores, cresceram em uma família grande e aprenderam desde cedo o que fazer, não só em tempos de vacas magras, mas também em época de fartura.
“A nossa mãe sempre dizia: meus filhos, guardem na fartura que vocês têm na necessidade”, diz Valfredo.
A vida na roça foi uma escola. A família Schmitt só via dinheiro uma vez por ano. “Tínhamos que gastar aos poucos. Tinha que sobreviver com aquilo”, lembra Valfredo.
Foi assim que Rita e Valfredo descobriram o caminho para conquistar um belo lugar ao sol. Hoje, Valfredo usa o dinheiro da aposentadoria para se aventurar pelo mundo. Já fez dois cruzeiros e planeja ir ainda mais longe.
“Temos o projeto de ir mais uma vez ano que vem, quem sabe a gente vai fazer um cruzeiro para a Espanha. Estamos projetando para ir para a Espanha ano que vem”, revela.
Rita ainda está se acostumando com esta vida boa. “Eu sempre falava, para todas as minha patroas, que eu ia querer ser dona de casa de manhã e uma madame de tarde. Olha só. Está começando”, ri.