Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters |
O
historiador Marco Antônio Villa publicou, nesta semana, o texto "Vou-me
embora para Bruzundanga".
Reproduzido
pelo blog de Augusto Nunes, de Veja, o texto gerou polêmica pelo seu teor e
repercutiu nas redes sociais.
Leia
abaixo e manifeste sua opinião a respeito:
Vou-me
embora para Bruzundanga
O
Brasil é um país fantástico.
Nulidades
são transformadas em gênios da noite para o dia.
Uma
eficaz máquina de propaganda faz milagres.
Temos
ao longo da nossa História diversos exemplos.
O
mais recente é Dilma Rousseff.
Durante
o regime militar militou em grupos de luta armada, mas não se destacou entre as
lideranças.
Fez
política no Rio Grande do Sul exercendo funções pouco expressivas.
Tentou
fazer pós-graduação em Economia na Unicamp, mas acabou fracassando, não
conseguiu sequer fazer um simples exame de qualificação de mestrado.
Mesmo
assim, durante anos foi apresentada como “doutora” em Economia.
Quis-se
aventurar no mundo de negócios, mas também malogrou. Abriu em Porto Alegre uma
lojinha de mercadorias populares, conhecidas como “de 1,99″.
Não deu certo.
Não deu certo.
Teve logo de fechar as portas.
Caminharia
para a obscuridade se vivesse num país politicamente sério.
Porém,
para sorte dela, nasceu no Brasil.
E
depois de tantos fracassos acabou premiada: virou ministra de Minas e
Energia.
Lula
disse que ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de um
laptop.
Ainda
mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar de incompreensíveis,
impressionaram favoravelmente o presidente eleito.
Foi nesse cenário, digno de O Homem que Sabia Javanês, que Dilma passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas e Energia.
Deixou
como marca um absoluto vazio.
Nada
fez digno de registro. Mas novamente foi promovida.
Chegou
à chefia da Casa Civil após a queda de José Dirceu, abatido pelo escândalo do
mensalão.
Cabe
novamente a pergunta: por quê?
Para
o projeto continuísta do PT a figura anódina de Dilma Rousseff caiu como uma
luva.
Mesmo não deixando em um quinquênio uma
marca administrativa ─ um projeto, uma ideia ─, foi alçada a sucessora de Lula.
Nesse
momento, quando foi definida como a futura ocupante da cadeira presidencial, é
que foi desenhado o figurino de gestora eficiente, de profunda conhecedora de
economia e do Brasil, de uma técnica exemplar, durona, implacável e
desinteressada de política.
Como
deveria ser uma presidente ─ a primeira ─ no imaginário popular.
Deputado Roberto Freire diz que, com apenas 36% de aprovação, Dilma
perderá a eleição
Senador Mário Couto defende o impeachment da presidente Dilma; assista
Senador Mário Couto defende o impeachment da presidente Dilma; assista
Deve
ser reconhecido que os petistas são eficientes.
A
tarefa foi dura, muito dura.
Dilma
passou por uma cirurgia plástica, considerada essencial para, como disseram à
época, dar um ar mais sereno e simpático à então candidata.
Foi
transformada em “mãe do PAC”.
Acompanhou
Lula por todo o País.
Para
ela ─ e só para ela ─ a campanha eleitoral começou em 2008.
Cada
ato do governo foi motivo para um evento público, sempre transformado em
comício e com ampla cobertura da imprensa.
Seu
criador foi apresentando homeopaticamente as qualidades da criatura ao
eleitorado.
Mas a enorme dificuldade de comunicação
de Dilma acabou obrigando o criador a ser o seu tradutor, falando em nome dela
─ e violando abertamente a legislação eleitoral.
Com
base numa ampla aliança eleitoral e no uso descarado da máquina governamental,
venceu a eleição.
Foi
recebida com enorme boa vontade pela imprensa.
A
fábula da gestora eficiente, da administradora cuidadosa e da chefe implacável
durante meses foi sendo repetida.
Seu
figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da
corrupção.
Também, pudera: não há na História
republicana nenhum caso de um presidente que em dois anos de mandato tenha sido
obrigado a demitir tantos ministros acusados de atos lesivos ao interesse
público.
Com
o esgotamento do modelo de desenvolvimento criado no final do século 20 e um
quadro econômico internacional extremamente complexo, a presidente teve de
começar a viver no mundo real.
E
aí a figuração começou a mostrar suas fraquezas.
O
crescimento do produto interno bruto (PIB) de 7,5% de 2010, que foi um
componente importante para a vitória eleitoral, logo não passou de uma
recordação.
Independentemente
da ilusão do índice (em 2009 o crescimento foi negativo: -0,7%), apesar de
todos os artifícios utilizados, em 2011 o crescimento foi de apenas 2,7%.
Mas
para piorar, tudo indica que em 2012 não tenha passado de 1%.
Foi
o pior biênio dos tempos contemporâneos, só ficando à frente, na América do
Sul, do Paraguai.
A
desindustrialização aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor cresceu
negativamente: -2,1%.
O
saldo da balança comercial caiu 35% em relação à 2011, o pior desempenho dos
últimos dez anos, e em janeiro deste ano teve o maior saldo negativo em 24
anos.
A
inflação dá claros sinais de que está fugindo do controle.
E a dívida pública federal disparou:
chegou a R$ 2 trilhões.
As
promessas eleitorais de 2010 nunca se materializaram.
Os
milhares de creches desmancharam-se no ar.
O
programa habitacional ficou notabilizado por acusações de corrupção.
As
obras de infraestrutura estão atrasadas e superfaturadas.
Os
bancos e empresas estatais transformaram-se em meros instrumentos políticos ─ a
Petrobrás é a mais afetada pelo desvario dilmista.
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Não
há contabilidade criativa suficiente para esconder o óbvio: o governo Dilma
Rousseff é um fracasso.
E
pusilânime: abre o baú e recoloca velhas propostas como novos instrumentos de
política econômica.
É
uma confissão de que não consegue pensar com originalidade.
Nesse ritmo, logo veremos o ministro
Guido Mantega anunciar uma grande novidade para combater o aumento dos preços
dos alimentos: a criação da Sunab.
Ah,
o Brasil ainda vai cumprir seu ideal: ser uma grande Bruzundanga.
Lá,
na cruel ironia de Lima Barreto, a Constituição estabelecia que o presidente
“devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado
mostrar que tinha alguma inteligência; que não tivesse vontade própria; que
fosse, enfim, de uma mediocridade total”.
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Lígia
Ferreira
Folha
Política