Memorando da agência de inteligência americana afirma que o ex-presidente Ernesto Geisel autorizou a execução de opositores durante a ditadura militar.
Por G1, Brasília
O secretário nacional de Segurança Pública, general Carlos Alberto Santos Cruz, disse nesta sexta-feira (11) que o documento produzido pela CIA
"não arranha em nada o prestígio das Forças Armadas".
O memorando
afirma que o ex-presidente Ernesto Geisel sabia e autorizou a execução
de opositores durante a ditadura militar.
Membro das Forças Armadas há 47 anos, o general afirmou que, em um ano
eleitoral, a divulgação das informações pode ter sido motivada por
interesses políticos.
"Este é um ano eleitoral.
Foram publicadas várias notícias de um número
maior de militares participando nessa próxima eleição, e tem que ver
também interesses políticos nesse tipo de divulgação.
Tem que analisar
em profundidade o que diz o documento original e não ficar somente na
manchete da interpretação", afirmou durante o lançamento da Operação
Tiradentes II (leia mais sobre a operação no final desta reportagem).
Presente ao lançamento, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann,
disse que o governo não vai se pronunciar sobre o memorando da CIA
enquanto não tiver acesso ao documento original.
"O governo não tem o conhecimento oficial de nada que diz respeito a
isso.
Para se ter um pronunciamento oficial a respeito desse assunto é
preciso ter um acesso oficial, de governo a governo, para se poder fazer
um comentário que se possa e que se deva fazer no caso das informações
serem, de fato, confirmadas", disse o ministro.
O documento sobre Geisel, de 11 de abril de 1974, foi elaborado pelo
então diretor da CIA, William Egan Colby, e endereçado ao secretário de
Estado dos EUA Henry Kissinger.
Tornado público recentemente pelo governo americano, o documento foi
revelado nesta quinta-feira (10) pelo pesquisador Matias Spektor, da
Fundação Getulio Vargas (FGV).
O memorando relata um encontro entre Geisel, João Batista Figueiredo,
então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), e os generais
Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, ambos na
ocasião no Centro de Inteligência do Exército (CIE).
O general Milton Tavares, segundo o documento, disse que o Brasil não
poderia ignorar a "ameaça terrorista e subversiva", e que os métodos
"extra-legais deveriam continuar a ser empregados contra subversivos
perigosos".
No ano anterior, 1973, 104 pessoas "nesta categoria" foram
sumariamente executados pelo Centro de Inteligência do Exército".
Ainda segundo o relato, o presidente Geisel disse ao general Figueiredo
que a "política deve continuar mas deve-se tomar muito cuidado para
assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados".
Operação Tiradentes II
Em sua segunda fase, a Operação Tiradentes II, lançada nesta sexta pelo
ministro Raul Jungmann, é uma força-tarefa que reúne todas as
corporações militares do país, além de Polícia Federal, Polícia
Rodoviária Federal e polícias civis dos estados.
Durante 24 horas, a operação vai realizar ações de segurança pública integradas em todo o território nacional.
Segundo o ministro Jungmann, a iniciativa será uma referência para outras operações coordenadas entre diversas polícias.
No ano passado, na primeira edição, também em um período de 24 horas, a
operação contou com um efetivo de 97 mil policiais e atendeu pouco mais
de 43 mil ocorrências.
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