Em sua proposta de delação, José Antunes Sobrinho revelou que fez pagamentos a lobistas, autoridades brasileiras e venezuelanas para que uma subsidiária do grupo fizesse os reparos da fragata Warao
DANIEL HAIDAR
29/04/2016 - 21h46
O navio Warao se aproximou demais do Porto de Fortaleza, no Ceará, e
encalhou no litoral brasileiro no dia 3 de agosto de 2012.
A embarcação fora entregue havia um ano para a Marinha da Venezuela, a Armada Bolivariana. Depois do acidente, a fragata foi transportada para o Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro, onde está atracada desde então.
Mas onde está o prejuízo de uns está também a oportunidade de alguém lucrar.
José Antunes Sobrinho, um dos donos da construtora Engevix, revelou em sua proposta de delação premiada, obtida com exclusividade por ÉPOCA, que pagou propina a lobistas, autoridades brasileiras e venezuelanas para que uma subsidiária do grupo, a Ecovix, fizesse os reparos da fragata Warao, em um contrato de US$ 160 milhões.
A fragata Warao (no topo) e trecho de auditoria pedida por sócio da Engevix.
Em depoimentos a procuradores da República e documentos enviados aos investigadores da Operação Lava Jato, conforme ÉPOCA revelou, Antunes fez acusações contra o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), o ministro da Secretaria de Comunicação Social do Governo, Edinho Silva, a ex-ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula, Erenice Guerra, e o ex-marido da presidente Dilma Rousseff, Carlos Araújo.
Antunes também disse que houve pagamento de propinas para conseguir o contrato com a Marinha venezuelana e garantir que a armada bolivariana teria onde atracar o navio em águas brasileiras.
Um dos empreiteiros do petrolão recorreu a ex-marido de Dilma para tentar salvar negócios
A empreitada para o conserto do Warao começou ainda em 2012.
Segundo Antunes, para levar o negócio, a Engevix adotou o mesmo modo de atuação do petrolão e de outros esquemas de estatais em que a empreiteira era partícipe do cartel que fez fortuna nos governos Lula e Dilma.
Era preciso pagar propina às pessoas certas.
Era preciso recorrer a operadores que unissem as pontes entre corrompidos e corruptores.
Assim, surgem na cena Henrique Welisch e Francisco Carrasqueiro, dois lobistas argentinos que prometiam conseguir o contrato para a Engevix – desde que recebessem, cada um, uma comissão de cerca de 10% do valor do negócio.
Antunes disse que Welisch e Carrasqueiro pediram US$ 32 milhões para garantir o reparo da fragata.
A propina, segundo Antunes, foi distribuída pela Engevix para duas empresas deles, a Glamox Incorporate e a Dunston Industries.
A proposta de delação não esclarece o período dos pagamentos.
Mas nem tudo saiu como o planejado.
A Marinha da Venezuela, combalida pela falta de recursos durante o final do governo de Hugo Chávez, atrasou parcelas do pagamento pelo conserto da fragata para a Engevix – e, consequentemente, o repasse de propina aos operadores desandou. Antunes diz que foram pagos US$ 8 milhões à dupla argentina.
Na parte brasileira do negócio, segundo Antunes, também houve propina.
O sócio da Engevix diz que fez pagamentos ao contra-almirante Mário Ferreira Botelho, diretor do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro.
Novamente, Antunes ainda não explicou quando nem como pagou ao contra-almirante.
Botelho, segundo Antunes, foi o responsável pela assinatura de um contrato entre a Marinha e a Ecovix para a locação de um espaço e da infraestrutura para que a fragata ficasse atracada na zona portuária do Rio, onde permanece até hoje.
De acordo com a proposta de delação de Antunes, o contrato de locação entre a Emgepron, uma estatal da Marinha, e a Ecovix foi assinado em 8 de fevereiro de 2013 – não foi informado o valor.
“Houve efetivamente o pagamento de propina feito ao contra-almirante Mário Ferreira Botelho, que foi quem assinou o contrato de uso do píer do Arsenal e que foi responsável por permitir a atracação da fragata avariada no Rio de Janeiro”, diz Antunes em sua proposta de delação.
Quanto custa um encontro com o ex-marido de Dilma
A proposta de delação de Antunes também faz menção a uma auditoria contratada pela Ecovix para investigar irregularidades na empresa.
A investigação independente foi solicitada pela Mitsubishi Heavy Industries, que era sócia da Engevix na subsidiária Ecovix até janeiro deste ano.
No documento, obtido por ÉPOCA, os auditores constataram que a Ecovix superfaturou despesas para a manutenção de 16 autoridades da Marinha da Venezuela no Brasil durante os reparos.
“A Ecovix pagou por acomodação (aluguel de imóveis e melhorias) e aluguéis de veículos para autoridades em valores maiores do que os estipulados em contrato”, diz o texto da auditoria.
A auditoria também identificou pagamentos de propina para Samuel Fayad Filho, um filiado ao PSB e um dos diretores da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) em 2003.
Fayad foi demitido em março de 2013.
A propina, segundo a auditoria, foi paga disfarçada em um contrato de R$ 4,5 milhões, assinado com uma empresa de Fayad.
“O contrato com a S.L. Fayad foi realizado de maneira fictícia, tão somente para justificar a saída de dinheiro da Ecovix e pagamento de compromissos assumidos pela Ecovix junto a agentes militares que possuíam ingerência na operação de locação do espaço e infraestrutura na Marinha do Rio de Janeiro”, diz o documento.
Antunes confirma os pagamentos a Fayad: diz que foram pagos pelo menos R$ 3,1 milhões entre agosto de 2013 e janeiro de 2015.
Procurada, a Marinha brasileira informou que não conhecia a proposta de delação da Engevix.
Ferreira Botelho e Fayad não foram localizados.
A embarcação fora entregue havia um ano para a Marinha da Venezuela, a Armada Bolivariana. Depois do acidente, a fragata foi transportada para o Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro, onde está atracada desde então.
Mas onde está o prejuízo de uns está também a oportunidade de alguém lucrar.
José Antunes Sobrinho, um dos donos da construtora Engevix, revelou em sua proposta de delação premiada, obtida com exclusividade por ÉPOCA, que pagou propina a lobistas, autoridades brasileiras e venezuelanas para que uma subsidiária do grupo, a Ecovix, fizesse os reparos da fragata Warao, em um contrato de US$ 160 milhões.
ENCALHADA
A fragata Warao (no topo) e trecho de auditoria pedida por sócio da Engevix.
Ele acusa os intermediários de levar US$ 8
milhões (Foto: Reprodução)
Em depoimentos a procuradores da República e documentos enviados aos investigadores da Operação Lava Jato, conforme ÉPOCA revelou, Antunes fez acusações contra o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), o ministro da Secretaria de Comunicação Social do Governo, Edinho Silva, a ex-ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula, Erenice Guerra, e o ex-marido da presidente Dilma Rousseff, Carlos Araújo.
Antunes também disse que houve pagamento de propinas para conseguir o contrato com a Marinha venezuelana e garantir que a armada bolivariana teria onde atracar o navio em águas brasileiras.
Um dos empreiteiros do petrolão recorreu a ex-marido de Dilma para tentar salvar negócios
A empreitada para o conserto do Warao começou ainda em 2012.
Segundo Antunes, para levar o negócio, a Engevix adotou o mesmo modo de atuação do petrolão e de outros esquemas de estatais em que a empreiteira era partícipe do cartel que fez fortuna nos governos Lula e Dilma.
Era preciso pagar propina às pessoas certas.
Era preciso recorrer a operadores que unissem as pontes entre corrompidos e corruptores.
Assim, surgem na cena Henrique Welisch e Francisco Carrasqueiro, dois lobistas argentinos que prometiam conseguir o contrato para a Engevix – desde que recebessem, cada um, uma comissão de cerca de 10% do valor do negócio.
Antunes disse que Welisch e Carrasqueiro pediram US$ 32 milhões para garantir o reparo da fragata.
A propina, segundo Antunes, foi distribuída pela Engevix para duas empresas deles, a Glamox Incorporate e a Dunston Industries.
A proposta de delação não esclarece o período dos pagamentos.
Mas nem tudo saiu como o planejado.
A Marinha da Venezuela, combalida pela falta de recursos durante o final do governo de Hugo Chávez, atrasou parcelas do pagamento pelo conserto da fragata para a Engevix – e, consequentemente, o repasse de propina aos operadores desandou. Antunes diz que foram pagos US$ 8 milhões à dupla argentina.
Na parte brasileira do negócio, segundo Antunes, também houve propina.
O sócio da Engevix diz que fez pagamentos ao contra-almirante Mário Ferreira Botelho, diretor do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro.
Novamente, Antunes ainda não explicou quando nem como pagou ao contra-almirante.
Botelho, segundo Antunes, foi o responsável pela assinatura de um contrato entre a Marinha e a Ecovix para a locação de um espaço e da infraestrutura para que a fragata ficasse atracada na zona portuária do Rio, onde permanece até hoje.
De acordo com a proposta de delação de Antunes, o contrato de locação entre a Emgepron, uma estatal da Marinha, e a Ecovix foi assinado em 8 de fevereiro de 2013 – não foi informado o valor.
“Houve efetivamente o pagamento de propina feito ao contra-almirante Mário Ferreira Botelho, que foi quem assinou o contrato de uso do píer do Arsenal e que foi responsável por permitir a atracação da fragata avariada no Rio de Janeiro”, diz Antunes em sua proposta de delação.
Quanto custa um encontro com o ex-marido de Dilma
A proposta de delação de Antunes também faz menção a uma auditoria contratada pela Ecovix para investigar irregularidades na empresa.
A investigação independente foi solicitada pela Mitsubishi Heavy Industries, que era sócia da Engevix na subsidiária Ecovix até janeiro deste ano.
No documento, obtido por ÉPOCA, os auditores constataram que a Ecovix superfaturou despesas para a manutenção de 16 autoridades da Marinha da Venezuela no Brasil durante os reparos.
“A Ecovix pagou por acomodação (aluguel de imóveis e melhorias) e aluguéis de veículos para autoridades em valores maiores do que os estipulados em contrato”, diz o texto da auditoria.
A auditoria também identificou pagamentos de propina para Samuel Fayad Filho, um filiado ao PSB e um dos diretores da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) em 2003.
Fayad foi demitido em março de 2013.
A propina, segundo a auditoria, foi paga disfarçada em um contrato de R$ 4,5 milhões, assinado com uma empresa de Fayad.
“O contrato com a S.L. Fayad foi realizado de maneira fictícia, tão somente para justificar a saída de dinheiro da Ecovix e pagamento de compromissos assumidos pela Ecovix junto a agentes militares que possuíam ingerência na operação de locação do espaço e infraestrutura na Marinha do Rio de Janeiro”, diz o documento.
Antunes confirma os pagamentos a Fayad: diz que foram pagos pelo menos R$ 3,1 milhões entre agosto de 2013 e janeiro de 2015.
Procurada, a Marinha brasileira informou que não conhecia a proposta de delação da Engevix.
Ferreira Botelho e Fayad não foram localizados.