ANDREZA MATAIS, FÁBIO FABRINI
BRASÍLIA7
O doleiro Alberto
Youssef afirmou a investigadores da Operação Lava Jato que "só sobram dois
no PP" ao reforçar o envolvimento de políticos do partido no esquema de
corrupção da Petrobrás.
Youssef voltou a citar integrantes do partido em delação
premiada aos procuradores da força-tarefa que apura crimes relacionados a
negócios da estatal.
O doleiro é o principal acusado de lavar dinheiro desviado
de contratos superfaturados da Petrobrás para a legenda.
O PP tem
papel de protagonista no escândalo, segundo a investigação.
A força-tarefa da
Lava Jato acredita que os desvios na petrolífera ocorrem há pelos menos 15
anos.
Mas foi o ex-deputado José Janene (PP-PR), réu no processo do mensalão
morto em 2010, quem organizou a corrupção na estatal, fazendo com que as
cúpulas das siglas envolvidas fossem beneficiadas diretamente.
Nas
palavras de um investigador, "Janene transformou a corrupção no varejo em
esquema de organização partidária".
O modelo que ele teria criado
consistia em concentrar a negociação e o pagamento de propinas num diretor, e
não mais em vários agentes públicos dentro da estatal.
Em
depoimentos no processo que tramita na Justiça Federal no Paraná, o ex-diretor
de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o doleiro afirmaram que ao
menos 1% do valor dos contratos da Diretoria de Abastecimento era repassado
para o PP.
A ideia teria sido copiada por PT e PMDB, os dois principais
partidos da coalizão governista.
Caberá ao
Supremo Tribunal Federal autorizar a investigação sobre o suposto envolvimento
de autoridades com direito a foro privilegiado, como ministros de Estado e
congressistas, no esquema da Petrobrás.
O ministro do Supremo Teori Zavascki é
o relator do processo.
Os nomes dos políticos estão sendo citados em delações
premiadas, cujo conteúdo integral está sob sigilo.
Com o fim
da contribuição de Youssef, que prestou seu último depoimento na semana
passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pretende começar a
pedir as primeiras aberturas de inquérito ao STF.
Para Janot, já há elementos
para que a participação de políticos seja apurada.
© Joedson
Alves/Estadão
Início.
De acordo com a investigação, o esquema organizado
por Janene começou em 2004 - ocasião em que o PP emplacou Paulo Roberto Costa
na Diretoria de Abastecimento da estatal - e funcionou ao menos até março deste
ano, quando a Operação Lava Jato foi deflagrada pela Polícia Federal.
Percorreu, portanto, dois governos e três legislaturas.
Nesse período, o
partido se tornou a quarta maior bancada da Câmara dos Deputados, com 40
representantes, e contou com cinco senadores. Hoje, em bloco com o PROS, é a
terceira maior força do Congresso.
Conforme
revelou o Estado, nos
últimos dias, os investigadores da Lava Jato identificaram um homem apontado
como o segundo operador do PP - além do doleiro Alberto Youssef - no esquema:
Henry Hoyer de Carvalho, que já foi assessor do ex-senador e ex-líder do PMDB
no Senado Ney Suassuna.
No
governo Dilma Rousseff, o PP controla o Ministério das Cidades, uma das pastas
de maior orçamento na Esplanada, responsável por obras de saneamento e pelo
Programa Minha Casa Minha Vida.
O irmão do
ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, Adarico Negromonte, é um dos
investigados na Lava Jato, acusado de transportar dinheiro da propina para
Youssef.
Na sexta-feira, após ter a prisão temporária revogada pela Justiça,
Adarico deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba para responder ao
processo em liberdade.
"O
Congresso todo conhecia o Paulo Roberto (Costa).
As evidências estão surgindo e
ninguém mais pode duvidar disso", disse ao Estado Mário Negromonte, que foi líder do partido na fase pós-Janene.
Neste ano, ele se desfiliou do PP para assumir cargo de conselheiro do Tribunal
de Contas da Bahia.
O
deputado reeleito Esperidião Amim (PP-SC) também avalia que o partido será
atingido, mas os alvos, para ele, devem ser dirigentes antigos e não atuais da
sigla.
'Nada
oficial'.
O
presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), não quis comentar a declaração de
Youssef sobre o envolvimento do partido no esquema.
Nogueira disse que, até o
momento, "não há nada de oficial" que envolva parlamentares da legenda
e que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e
prestar esclarecimentos. /
COLABOROU RICARDO BRITO