Ação foi flagrada durante protesto por falta d'água na quinta-feira (16).
Outro protesto, pacífico, foi realizado nesta sexta-feira (17).
Um flagrante feito durante um protesto contra a falta d’água em Itu (SP), mostra o momento em que manifestantes colocaram fogo em pneus e em contêineres em volta de um caminhão-pipa.
A ocorrência foi na noite de quinta-feira (16), no bairro São Judas.
Imagens publicadas na internet mostram o momento da tentativa de ataque e depredação ao veículo.
O caminhão-pipa estava parado e ia começar a abastecer as casas quando foi atingido por pedras e rojões.
Manifestantes cercaram caminhão-pipa em Itu e
colocam fogo em volta (Foto: Reprodução/Internet)
De acordo com
a Polícia Militar, alguns manifestantes tentaram colocar fogo no
caminhão-pipa, mas foram impedidos pelos próprios moradores.
Como não
conseguiram incendiar o caminhão, os manifestantes abriram a válvula e
deixaram a água escorrer pelo chão.
Um morador do bairro aproveitou a água que jorrava do caminhão para tomar banho.
O local estava sem fornecimento há uma semana de acordo com os manifestantes.
Não há registro de suspeitos presos.
Por causa de ataques a caminhões-pipa, a Guarda Civil Municipal começou a escoltar os veículos
há cerca de duas semanas.
A situação ocorre por causa das abordgens dos
moradores, que tentam pegar água à força dos veículos.
A GCM é avisada
pela manhã quais os bairros que serão percorridos e acompanham o
comboio.
Três a quatro viaturas ficam à disposição para escoltar os
caminhões em alguns bairros.
A concessionária Águas de Itu informou que o bairro está no sistema de
rodízio de abastecimento e que, quando a água não chega, os moradores
pedem caminhões-pipa.
Mais protestos.
Moradores de Itu fizeram outra manifestação nesta sexta-feira
(17) por causa da falta d’água na cidade.
O protesto foi pacífico e
reuniu os manifestantes na praça da matriz.
Uma faixa com pedido de
socorro para resolver o problema da falta de abastecimento foi
estendida.
Quem passava pelo local, podia registrar em cartazes a indignação.
Um drama que se estende há quase nove meses desde que o racionamento foi implantado.
Um abaixo-assinado também circula pelos bairros da cidade.
O documento é endereçado ao Ministério Público e recolhe assinaturas da
população que pede pela intervenção do estado.
Os organizadores
pretendem enviar o documento ao Ministério Público até a próxima
quarta-feira (22).
Moradores se arriscam em fontes de água sem garantia de qualidade (Foto: Reprodução/TV TEM)
Estiagem
A estiagem em Itu (SP) tem feito os moradores enfrentarem um verdadeiro martírio em busca de água.
Como o cronograma de racionamento não é cumprido e as solicitações de caminhão-pipa nem sempre são atendidas, segundo os moradores, poços, bicas, fontes e lagoas se tornaram pontos de peregrinação na cidade.
Com um sol forte
e uma temperatura em torno de 40ºC, o clima em Itu é bem parecido com
lugares onde a escassez de água é mais frequente.
Buscar água em bicas e
córregos se tornou comum para moradores de vários pontos da cidade.
No
bairro Cidade Nova, uma das regiões mais castigadas
com o racionamento, são três bicas.
Canos onde moradores colocam
garrafas e baldes para pegar água.
Durante todo o dia, a cena se repete e
há filas.
O problema é que ninguém sabe a qualidade da água.
O porteiro Jorge da
Silva está há quase duas semanas sem uma gota de água em casa.
Todo dia,
ele segue a mesma rotina, cedo e a tarde, vai até um lago que recebe
água que vem de uma represa.
Com a água que sai da tubulação, Jorge não
sabe se é de boa procedência.
"O que a gente sabe é que a água vem de
uma lagoa, mas não sabemos se é boa.
Se quiser tomar banho tem que fazer esse sacrifício.
Senão, a gente fica sem tomar banho", diz.
Criança toma banho em bica em Itu
(Foto: Reprodução/TV TEM)
Banho e transporte com mala
A água que escorre dia e noite também,
usada por tantos moradores, também abastece a família do ajudante de caminhão
Jorge Henrique da Silva, que está há quase 20 dias sem água.
A situação é
tão crítica que o banho do filho Caio, de 3 anos, tem sido na bica com
frequência.
"Tem que pegar água para lavar louça, lavar roupa.
Inclusive tomar banho aqui."
A bica do meio do barranco até alguns meses atrás vivia esquecida, mas
quando as torneiras começaram a ficar secas por muito tempo, o local
virou o principal ponto do bairro.
Os moradores improvisam com carrinhos de feira e sacolas.
Morador levou uma mala para conseguir
transportar a água (Foto: Reprodução/TV TEM)
Para conseguir levar toda a água que precisa, um eletricista levou uma
mala.
"A mala é a única coisa que eu tenho para transportar a quantidade
de água que eu preciso.
Eu faço de 10 a 12 viagens para as crianças
tomarem banho, a mulher lavar a roupa porque faz dias que não cai uma
gota d'água na torneira", afirma Severino Dias da Silva.
Itu, mas na situação Já a
moradora Maria Eunice da Silva do Nascimento pretende tomar uma atitude
extrema.
Sem saber o que fazer, já que a situação chegou ao limite, ela
pretende se mudar de Itu. "Estou triste porque gosto de que estamos, já
coloquei a casa à venda.
A água é sagrada, e como fazemos para sobreviver em um
lugar sem água?", questiona a doceira.
Protestos em Rodovias
Na segunda-feira (13) moradores de Itu interditaram as rodovias SP-75 e SP-79
para protestar contra a falta d'água.
De acordo com a Polícia Militar,
mais de 250 pessoas participaram das manifestações.
Os manifestantes
queimaram pneus, galhos de árvore e jogaram entulho na pista impedindo o
tráfego no local.
Segundo testemunhas, alguns moradores atiraram pedras contra a polícia.
Alguns atos de vandalismo foram registrados durante o protesto, como
lixeiras e contêineres queimados.
Segundo a Polícia, ninguém foi preso.
Esta é a segunda manifestação: no domingo (12), moradores protestaram na SP-79, onde atearam fogo em materiais e interditaram a rodovia.
Protesto em Itu interditou duas rodovias: a SP-79 e SP-75 (Foto: Ana Carolina Levorato / G1)
'Pontos críticos'
Depois de nove meses de racionamento em Itu, o Comitê de Gestão da
Água, órgão recentemente criado na cidade, ligado à
prefeitura, mapeou 17 pontos críticos onde a
pressurização da rede de abastecimento de água não é suficiente para manter o
rodízio.
Na quinta-feira (9), caminhões-pipa foram encaminhados para bairros
como, Parque Industrial, Jardim Rancho Grande, Jardim São Judas, Alto das
Palmeiras e Bairro Brasil, parte mais alta da cidade.
Reservatórios chegaram a apontar 2% de água
em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)
No início, o rodízio era feito apenas nos bairros mais
altos, onde a distribuição de água é mais difícil.
Nos meses seguintes, o
racionamento foi ampliado pelo menos mais três vezes e atualmente está em vigor
na cidade toda.
Há
moradores que relatam que chegam a ficar 15 dias sem água.
O abastecimento com
caminhões-pipa também é alvo de reclamações.
De acordo com a prefeitura, cerca de 300
idosos e pessoas acamadas foram cadastradas como moradores com prioridade de
abastecimento.
O Comitê informa ainda que escolas, creches, unidades de saúde e
outros prédios públicos são atendidos com caminhões-pipa no período noturno.
Entenda a crise
Apesar do Ministério Público já ter recomendado à prefeitura que reconheça o estado de emergência e calamidade pública,
a prefeitura decidiu não acatar a medida.
Em entrevista, o prefeito
afirmou que o decreto não seria pedido já que não está faltando água
para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas.
O chefe do
executivo afirmou também que foi protocolado um decreto para captação
em 24 poços e reservatórios de uma indústria de bebidas do município.
No entanto, conforme o documento enviado em
julho, o Ministério Público aponta que a precariedade no abastecimento de água
para a população não decorre exclusivamente do período de estiagem, mas sim de
anos de má gestão e falta de investimentos no aumento da armazenagem de
recursos hídricos, além da construção de novas barragens, desassoreamento das
já existentes e modernização dos sistemas de tratamento e distribuição.
Após o Ministério Público reforçar a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam registradas, o
órgão já registrou mais de 1 mil ocorrências em menos de uma semana.
Em
um dia, 400 reclamações de moradores foram protocoladas e anexadas ao
inquérito encaminhado ao Poder Judiciário.
Na ação, o MP apresentou uma
carta de recomendação ao prefeito para que tome previdências no sentido
de tentar amenizar a situação dos reservatórios.
De acordo com a liminar,
caso a água não chegue até o imóvel, a população deve reclamar na
concessionária que terá que resolver o problema em 48 horas e a prefeitura será
multada.
Para o promotor, a intenção do órgão é esclarecer à população
sobre os seus diretos.
“Nós intensificamos a importância dos registros já que
as pessoas não sabiam o que fazer e quem procurar.
Temos outros pontos de
atendimento, mas vários moradores chegam aqui e dizem que estão sem água a
muito mais dias do que o tempo aceito pelo MP”, diz.
O morador também deve
fazer a denúncia no Ministério Público, localizado na Avenida Goiás, 194, no
bairro Brasil.
Represas de Itu estão secas há meses (Foto: Reprodução/TV TEM)