Por Mariana Oliveira e Andréia Sadi
Documentos apreendidos pela Polícia Federal dentro da investigação
sobre o decreto dos portos aprofunda mais uma linha de investigação
sobre suspeitas envolvendo o presidente Michel Temer: a de que o amigo
dele e dono da Argeplan, coronel João Baptista Lima Filho, recebeu R$ 1
milhão ao subcontratar a Engevix para realização de obras da
Eletronuclear, estatal que, segundo investigações da Lava Jato, teria
desviado recursos para políticos do MDB.
Os investigadores também apuram parceria da Argeplan, em 2014, com a
Engevix em contrato da Secretaria de Aviação Civil, então gerida por
Moreira Franco, um dos principais aliados de Temer.
Outra linha de investigação, iniciada a partir da Operação Patmos,
deflagrada no ano passado após as delações da J&F, se volta para
outras duas empresas de coronel Lima: a PDA Administração e a PDA
Projeto e Direção Arquitetônica, que teriam disponibilidade financeira
de R$ 23.667.507,95.
Para a PF, segundo documentos entregues ao Supremo Tribunal Federal
(STF), apreensões realizadas mostram “envio, à margem do sistema
financeiro oficial, de recursos ao exterior por João Baptista Lima
Filho”.
No documento em que aponta a necessidade da realização da Operação Skala,
deflagrada no último dia 29 de março, a procurador-geral da República,
Raquel Dodge, apresentou essas três linhas de investigação.
Dodge diz que, em depoimento, o executivo da Engevix José Antunes
Sobrinho afirmou que “a Argeplan só conseguiu contrato [na
Eletronuclear] por ser ligada a Temer, e precisou subcontratar a Engevix
porque não tinha capacidade para o serviço”.
Sobrinho, que já negociou
delação premiada no começo da Lava Jato, faz atualmente novas
tratativas.
Raquel Dodge também cita um relatório feito este ano pela Polícia
Federal, que apontou crescimento da Argeplan em 20 anos, inclusive no
setor nuclear, depois que a AF Consult, da qual Lima era acionista,
fechou contrato de R$ 160 milhões com a Eletronuclear nas obras de Angra
e subcontratou a Engevix.
As buscas realizadas no fim de março serviram para coletar documentos
para embasar essas linhas de investigação, sobre suspeita de corrupção
envolvendo a Engevix e sobre remessas ilegais ao exterior.
Na sede da PDA Projeto, que pertence ao coronel Lima, agentes localizaram diversos documentos sobre Engevix e Eletronuclear.
A PF relatou que no imóvel da PDA em São Paulo havia no subsolo um cômodo com uma sala trancada com duas portas.
Antonio Carlos, funcionário da Argeplan, disse que empregado Onofre
teria a chave.
Onofre, por sua vez, segundo o relato, disse que aquela
era a única chave que ele não tinha.
A PF acionou chaveiro e na sala
havia quatro cofres.
Nos cofres, documentos sobre Eletrobras,
Eletronuclear, Engevix e AF Consult, ligadas ao contrato de Angra 3.
No gabinete de Coronel Lima, foi localizado um email, enviado por
pessoa de nome André Costa, para o advogado Roberto Gerosa com assunto
"TCU adiantamento", que "contém indicativos de risco de suspensão do
contrato das empresas averiguadas e AF Consult noticiando que o ministro
vincularia sua decisão a um tratamento idêntico caso o pedido fosse
feito pela Engevix ou Eletronuclear".
Agora, a Polícia Federal analisa toda a documentação apreendida sobre a
Eletronuclear e cruza as informações com dados da Operação Patmos, além
de averiguar as quebra de sigilo autorizadas contra os investigados.
O relator da investigação no STF, ministro Luís Roberto Barroso, deu
prazo até início de julho para a PF concluir a análise do material
apreendido.
Versão dos investigados
Procurada pela TV Globo, a assessoria de imprensa do Presidência da República disse que Temer "não tem nada a ver" com a Argeplan.
"O presidente Michel Temer não possui empresas e não tem nada a ver com
a empresa citada.
E os vazamentos de inquérito sigiloso só servem para
impedir o presidente de se defender e assim criar versões falsas,
irresponsáveis e descoladas da realidade", disse o Palácio do Planalto
na nota
O advogado do coronel Lima, Cristiano Benzota, disse que ele afirma
"inexistir a prática ou participação em qualquer conduta ilícita ou de
qualquer irregularidade".
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