A polícia descobriu a situação em que as crianças viviam e a violência de que eram vítimas enquanto investigava o desaparecimento de uma delas, no final de março. Os pais acabaram presos e formalmente acusados de crimes que vão desde abandono a abuso infantil
Corpos queimados com água fervendo, feridos com golpes de bastão,
mordidas e tiros de pistolas de ar comprimido, além de submetidos a
sessões forçadas de afogamento.
Esse foi o quadro que policiais
encontraram em uma casa na cidade de Fairfield, na Califórnia, Estados
Unidos, ao investigar denúncias.
Um casal identificado como Jonathan Allen, de 29 anos, e Ina Rogers, de
30, foi formalmente acusado esta semana de abandono, tortura e de
outros abusos cometidos contra os próprios filhos.
As vítimas eram dez crianças com idades de 4 meses a 12 anos que
viviam, segundo a polícia, em "condições horríveis de miséria" dentro de
casa, em um bairro residencial de Fairfield.
O caso foi descoberto no final de março e tem sido comparado ao da
família Turpin, que ocorreu no mesmo estado e chocou os Estados Unidos
em janeiro deste ano.
Na ocasião, uma adolescente de 17 anos conseguiu fugir e denunciar à
polícia que os pais a mantinham em cativeiro, junto com os 12 irmãos,
muitas vezes acorrentados e alvos de outros abusos cometidos pelos pais.
Como o caso atual foi descoberto?
Allen, que atuava como tatuador, e Rogers, empregada na área de
serviços médicos, negam que tenham cometido qualquer ato de violência
contra os filhos.
A polícia, no entanto, afirma que eles maltratavam as crianças e as
mantinham em uma casa repleta de lixo e fezes - humanas e de animais -
espalhadas por todos os lados.
"A investigação", segundo o Departamento de Polícia, "revelou uma longa
e contínua história de graves abusos físicos e emocionais contra os
menores".
Teria sido, porém, iniciada por acaso, quando uma das crianças sumiu e
teve o desaparecimento registrado pela mãe, em 31 de março.
O menino, o mais velho dos irmãos, foi encontrado dormindo em um parque nas proximidades da casa.
Só quando o levaram de volta aos pais os policiais teriam se deparado com a situação descrita como "desoladora" no local.
O que a investigação mostrou até agora?
Em entrevistas com os investigadores, as crianças teriam descrito
"situações de abuso extremo", disse o tenente da polícia Greg Hurlbut à
imprensa.
"Encontramos queimaduras, hematomas, feridas causadas por perfurações e
outras consistentes com tiros feitos com armas de ar comprimido",
listou Hurlbut.
De acordo com a ação, as crianças foram "socadas, estranguladas, mordidas, baleadas e atingidas com armas como bastões.
Também teriam sido queimadas com água fervendo e submetidas a sessões
de "Waterboarding" - uma forma de simular afogamento derramando líquido
sobre a boca da pessoa amordaçada.
Elas teriam, ainda, tido membros quebrados e apresentavam várias cicatrizes.
"Foram torturadas por motivos sádicos", disse a promotora Sharon Henry.
Não foi especificado, porém, por quanto tempo sofreram abusos nem se os pais em algum momento foram denunciados.
Wanda Rogers, avó materna das crianças, chamou Allen de "monstro", em
entrevista ao canal de TV KNTV, e descreveu o que sabia.
"Ele (Allen)
pegava o bebê, batia na cara dele e colocava fita adesiva em sua boca
para que se calasse", disse ela.
O que aconteceu com as crianças e com os pais após o caso ser revelado?
Após passarem um breve período no departamento de bem-estar infantil da
polícia, as crianças foram levadas para casas de outras famílias.
O pai e a mãe, por sua vez, foram formalmente acusados nesta
quarta-feira de crimes como tortura e abusos infantis.
A mãe também
teria convencido as crianças a não denunciarem os maus tratos.
Rogers, que já havia sido presa mas deixado a prisão após pagar US$ 10
mil de fiança (cerca de R$ 37,8 mil) voltou para a cadeia.
Ela compareceu ao tribunal na quarta-feira e acabou detida sob nove
acusações de abuso.
Sua fiança desta vez foi estimada em US$ 495 mil (R$
1,8 milhão).
Já Jonathan Allen foi preso na sexta-feira, 11 de maio, alvo de nove
acusações de tortura e seis de abuso infantil.
Sua fiança foi fixada em
US$ 5,2 milhões (R$ 19,6 milhões).
Em uma entrevista da prisão, publicada no YouTube, Allen se descreve
como um homem pacífico e o "Indiana Jones da espiritualidade".
"Eu amo meus filhos"
"Eu amo meus filhos com todo o meu coração", disse ele.
"Ninguém é
perfeito.
Mas eu não sou um animal.
Eu não sou um torturador e não sou
um monstro."
Em breve entrevista a uma TV local, ele negou categoricamente todas as acusações.
Rogers, por sua vez, descreveu o marido como uma "pessoa incrível".
"Meu marido tem muitas tatuagens.
Ele parece um indivíduo assustador, e
é por isso que as pessoas são tão rápidas em julgá-lo", disse ela.
O casal também afirma que educou seus filhos em casa, embora sua
propriedade supostamente não estivesse registrada como escola, conforme
exigido por lei.
O caso se assemelha ao de David Allen e Louise Anna Turpin, que
mantinham os 13 filhos em cativeiro e submetidos a maus-tratos, diz a
correspondente da BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Beatriz Díez.
O casal está agora à espera de julgamento.
"Tanto Turpin quanto Allen e Rogers mantiveram seus filhos isolados do
mundo exterior, os educavam em casa e, de acordo com as evidências, os
submeteram a diferentes situações de abuso sem levantar suspeitas", diz
ela.
"Em ambos, os adultos também afirmam ter feito o melhor pelos seus filhos".
Nenhum comentário:
Postar um comentário