Três homens acusados de extorquir religioso de Matão (SP) por causa de vídeo de sexo estão presos. Eles foram até casa do padre e encontraram quatro policiais, um deles foi morto a tiros.
Por G1 São Carlos e Araraquara
Gravações de voz trocadas entre o padre Edson Maurício e o garagista
Cristiano Rumaquelli mostram os dois combinando como deveria ser o
encontro do religioso com os três homens que o extorquiam por conta de
um vídeo de sexo e que resultou na morte do sargento da Polícia Militar (PM) Paulo Sérgio de Arruda, em 19 de fevereiro deste ano, em Matão (SP).
Arruda foi morto com dois tiros quando ele e outros três policiais
militares de Araraquara (SP) - todos de folga - foram até a casa do
padre no dia em que o religioso combinou entregar R$ 80 mil para Diego
Afonso Siqueira Santos, de 22 anos, Edson Ricardo da Silva, de 32 anos,
conhecido como "Banana", e Luiz Antônio Carlos Venção, de 28 anos.
O trio chantageava o padre por causa de um vídeo com imagens do religioso mantendo relações sexuais com "Banana".
O garagista Rumaquelli foi o responsável por combinar com os policiais
para que eles fossem até a casa do padre no dia do encontro.
Ele disse
que o PM se sensibilizou com a situação do padre e se dispôs a ajudar.
Os três acusados da extorsão se entregaram à policia dias após o crime, mas negam ter atirado no sargento.
Segundo o advogado de defesa de um dos acusados, Wesley Felipe Martins
dos Santos Rodrigues, os áudios, divulgados na última semana, são de
mensagens de voz de Whatsapp, que foram enviadas alguns dias antes da
morte do sargento.
Os arquivos foram retirados do celular do padre, que foi apreendido pela polícia, e que consta como prova no processo.
O G1
teve acesso a quatro áudios, mas não é possível determinar a sequência
deles, nem se esses são os únicos áudios da conversa.
A reportagem tentou contato com o delegado responsável pelo caso, Marlos Marcuzzo, mas não conseguiu localizá-lo para comentar o conteúdo dos áudios.
Conteúdo das mensagens
Em um dos áudios, o garagista orienta o padre sobre como deve chamar os homens até sua casa.
Rumaquelli:
Fala pra eles que você fez um empréstimo, que provavelmente vai liberar
segunda-feira [20 de fevereiro, dia em que o sargento foi assassinado].
Que segunda à noite você conversa com eles.
Aí, você chama eles lá pra você conversar com eles, mas pede pra eles, pelo amor de Deus, pra eles não comentar (sic) com ninguém, para eles não fazer (sic) nada, pra eles ficar quieto (sic), pra eles não fazer (sic) nada.
Em outro áudio, o garagista diz para o padre que irá resolver a situação.
Rumaquelli:
Fica tranquilo, viu?
Não fica preocupado que nós vamos resolver isso daí, isso aí é ‘nóia’, não tem nada de profissional não, deixa esses daí pra mim, vou dar um pau neles que eles vão ver.
Não fica preocupado que nós vamos resolver isso daí, isso aí é ‘nóia’, não tem nada de profissional não, deixa esses daí pra mim, vou dar um pau neles que eles vão ver.
Fica tranquilo, não precisa ficar preocupado não que nós vamos dar um jeito nesses cara (sic) aí”.
Após aceitar as instruções, o padre pede cuidado na ação.
Padre:
Tá bom, entendi, mas tudo com muito cuidado para não sobrar nada para
ninguém, para vocês também.
Toma cuidado com a questão de armamento, a gente nunca sabe se eles estão armados ou não, eu creio que não, mas a gente nunca sabe, muito cuidado tá?
Obrigado.
Toma cuidado com a questão de armamento, a gente nunca sabe se eles estão armados ou não, eu creio que não, mas a gente nunca sabe, muito cuidado tá?
Obrigado.
Versões
Para o advogado de defesa, o áudio mostra que o padre sabia dos riscos
do encontro.
“Nós vamos mostrar para o Ministério Público que o padre teve uma participação efetiva no acontecimento da morte do sargento.
Tem que ver até que ponto ele está envolvido e o que ele queria realmente com aquilo”, afirmou Rodrigues.
Já Arlindo Basílio, advogado do padre Edson Maurício, disse que não
tinha conhecimento da gravação e que ela nada interfere no rumo do
processo.
"A análise da gravação mostra apenas o Cristiano preparando uma forma de ajudar.
Poderia ser, no máximo, uma flagrante preparado", afirmou.
Basílio disse que terá que verificar a autenticidade da gravação.
"O advogado de defesa está fazendo um show na mídia na tentativa de transformar o padre de vítima em réu.
Mas está claro que os três [suspeitos] estavam praticando extorsão.
A única coisa que precisa ser esclarecida é quem matou o policial", concluiu o advogado.
O garagista Cristiano Rumaqueli disse que fez as ameaças que constam nas gravações na tentativa de tranquilizar, que estaria muito assustado e desorientado.
"Jamais ia fazer uma coisa dessas.
Eu ia ter uma conversa com eles para
eles pararem de fazer aquilo e ameaçar de que se eles não parassem, a
gente ia tomar providências, ia chamar a polícia", afirmou.
O comerciante disse que não havia intenção de armar uma emboscada para
os homens que estavam extorquindo o padre.
Rumaqueli disse também que não era para o encontro do padre com o trio ter acontecido na segunda-feira, conforme sua orientação na gravação.
"Era só para enrolar eles, isso já estava acontecendo há mais de uma semana", afirmou.
Segundo o garagista, o encontro só aconteceu na segunda-feira porque
ele acabou encontrando o sargento Arruda.
"Isso só aconteceu porque eu estava conversando com o sargento Arruda quando o padre me ligou e ele quis saber o que estava acontecendo e se sensibilizou com a situação", disse.
O crime.
O sargento Paulo Arruda da Força Tática da Polícia Militar de
Araraquara morreu após ser baleado com dois tiros no peito na casa do
padre Edson Maurício, em Matão.
O padre era extorquido pelos três acusados e buscou a ajuda do
garagista Cristiano Rumaquelli, que por sua vez tratou do caso com
Arruda.
Mesmo de folga, ele e outros três policiais foram com padre até a casa dele em Matão no bairro Residencial Olivio Benassi.
Quando os acusados chegaram na casa do padre houve troca de tiros e
Arruda foi atingido duas vezes no peito.
O sargento chegou a ser socorrido pelos outros policiais, mas não resistiu aos ferimentos.
Relembre o caso no vídeo abaixo:
Diego Afonso Siqueira Santos, Edson Ricardo da Silva e Luiz Antônio
Carlos Venção foram acusados pelo crime e estão presos na cadeia de
Santa Ernestina (SP) aguardando o julgamento.
A Polícia Militar abriu uma sindicância para apurar a atuação dos PMs durante o horário de folga e transferiu os envolvidos de Araraquara para outras unidades.
O padre Edson Maurício foi afastado pela Diocese de São Carlos até o encerramento do processo.
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