Foram encontrados 565 trabalhadores em condições de trabalho análogo ao de escravo, 438 sem registro em carteira e ainda 32 menores em atividade proibida em fazendas de MG, BA e SP.
Por Alexandro Martello, G1, Brasília
O Ministério do Trabalho informou nesta quinta-feira (15) que a
fiscalização da pasta autuou proprietários de três fazendas nos estados
de Minas Gerais, Bahia e São Paulo por uso de mão de obra escrava.
A operação, batizada de " Canaã –
A Colheita Final", encontrou nessas fazendas 565 trabalhadores em condições análogas às de escravo, 438 sem registro em carteira e ainda 32 menores em atividade proibida.
A Colheita Final", encontrou nessas fazendas 565 trabalhadores em condições análogas às de escravo, 438 sem registro em carteira e ainda 32 menores em atividade proibida.
Foram cumpridos, nessa operação, 22 mandados de prisão preventiva, 17
interdições de estabelecimentos comerciais e 42 mandados de busca e
apreensão.
Segundo a fiscalização do Ministério do Trabalho, 13 dirigentes da seita foram presos preventivamente e o resto está foragido.
Segundo a fiscalização do Ministério do Trabalho, 13 dirigentes da seita foram presos preventivamente e o resto está foragido.
Seita religiosa
De acordo com o governo, os trabalhadores prestavam serviço a uma seita
religiosa conhecida como Comunidade Evangélica Jesus, a Verdade que
Marca.
Eles trabalhavam em fazendas de cultivo de hortifrutigranjeiros, além de postos de gasolina, restaurantes e cafés do grupo.
Eles trabalhavam em fazendas de cultivo de hortifrutigranjeiros, além de postos de gasolina, restaurantes e cafés do grupo.
Ainda segundo o ministério, uma investigação apontou que os
trabalhadores teriam sido "aliciados" por dirigentes da seita religiosa,
em São Paulo, e convencidos a doar os bens para as associações
controladas pela organização, tendo de mudar-se para uma comunidade,
onde todos os bens móveis e imóveis seriam compartilhados.
Após entrar na seita religiosa, continua o ministério, as pessoas eram
levadas para zonas rurais e urbanas em Minas Gerais (Contagem, Caxambu,
Betim, Andrelândia, Minduri, Madre de Deus, São Vicente de Minas, Pouso
Alegre e Poços de Caldas), na Bahia (Ibotirama, Luiz Eduardo Magalhães,
Wanderley e Barra) e na capital paulista, para trabalhar em lavouras e
em estabelecimentos comerciais como oficinas mecânicas, postos de
gasolina, pastelarias, confecções e restaurantes, todos comandados pelos
líderes da seita.
Esse é o desenrolar de uma operação deflagrada em 2013 contra a mesma
seita religiosa, que, naquela época, já se utilizava de mão de obra
escrava, com a identificação de 348 vítimas.
Neste ano, segundo o Ministério do Trabalho, a justiça determinou que a fiscalização retornasse aos locais para atualizar informações.
Foi quando se verificou que a prática continuava.
Neste ano, segundo o Ministério do Trabalho, a justiça determinou que a fiscalização retornasse aos locais para atualizar informações.
Foi quando se verificou que a prática continuava.
"Em todas ações de combate ao trabalho escravo, quando chega Polícia
Federal, o Ministério Público Federal e do Trabalho as vítimas aderem e
querem ser retiradas dessa situação.
O caso da seita é incomum, porque as pessoas eram doutrinadas por aspectos religiosos e nos receberam como se fôssemos o demônio", afirmou o auditor-fiscal do Trabalho Marcelo Campos, que coordenou a operação.
O caso da seita é incomum, porque as pessoas eram doutrinadas por aspectos religiosos e nos receberam como se fôssemos o demônio", afirmou o auditor-fiscal do Trabalho Marcelo Campos, que coordenou a operação.
De acordo com ele, as vítimas, neste caso, acham que estão protegidas
do fim do mundo nestas fazendas e que vivem em uma "comunidade santa".
"O que só agrava e torna mais aviltante a situação em que estão.
Além de serem suprimidos direitos laborais, estão sendo iludidos.
Não querem sair.
Dizem que é uma maravilha, que é o sonho da vida deles", declarou.
"O que só agrava e torna mais aviltante a situação em que estão.
Além de serem suprimidos direitos laborais, estão sendo iludidos.
Não querem sair.
Dizem que é uma maravilha, que é o sonho da vida deles", declarou.
Ele explicou que, nessa operação, os estabelecimentos comerciais foram
fechados, mas acrescentou que as pessoas não podem ser retiradas a força
das fazendas.
"O resgate precisa de um mínimo de aceitação.
Não temos governabilidade para retirá-las a força.
Todos estabelecimentos econômicos urbanos foram interditados, todos foram paralisados.
Medidas estão inviabilizando as atividades econômicas, mas as fazendas não foram interditadas", afirmou.
"O resgate precisa de um mínimo de aceitação.
Não temos governabilidade para retirá-las a força.
Todos estabelecimentos econômicos urbanos foram interditados, todos foram paralisados.
Medidas estão inviabilizando as atividades econômicas, mas as fazendas não foram interditadas", afirmou.
Mesmo assim, segundo o auditor Marcelo Campos, a fiscalização do
Ministério do Trabalho preparou todos os cálculos de direitos devidos
aos trabalhadores (décimo terceiro salário, FGTS, férias e salários, por
exemplo) para realizar o pagamento às vítimas.
"Mesmo não querendo, vão receber.
Pode ser que no futuro essa situação mude [e que as pessoas queiram os recursos]", explicou.
"Mesmo não querendo, vão receber.
Pode ser que no futuro essa situação mude [e que as pessoas queiram os recursos]", explicou.
Crescimento patrimonial
O Ministério do Trabalho informou que chamou a atenção, durante a
investigação, o crescimento do patrimônio pessoal dos líderes da seita e
um "grande aumento" de fiéis nos últimos cinco anos.
"Nessa fase, autuamos as empresas do grupo criadas pela seita a pagar
os direitos trabalhistas retroativamente, desde a data em que os
trabalhadores começaram a prestar os serviços, e vamos disponibilizar a
todos aqueles encontrados em situação de trabalho escravo as guias para
acesso ao seguro-desemprego", disse Campos na nota.
Fiscalização do trabalho escravo
Em outubro do ano passado, o Ministério do Trabalho foi alvo de duras críticas ao editar portaria que tornou mais difícil caracterizar o trabalho escravo.
No final de 2017, porém, o governo recuou e tornou mais rigorosas
as definições de jornada exaustiva e condição degradante do
trabalhador, além de ter ampliado outros conceitos para a configuração
desse tipo de mão de obra.
Com isso, o governo deixou em vigor no país as regras que já estavam valendo há 14 anos.
Com isso, o governo deixou em vigor no país as regras que já estavam valendo há 14 anos.
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