Líderes são investigados por manter fiéis em situação análoga à escravidão em propriedades rurais e empresas.
Por Fernanda Rodrigues e João Daniel Alves/EPTV
A Polícia Federal realiza na manhã desta terça-feira (6) uma nova
operação contra uma seita religiosa investigada desde 2011.
A
organização "Traduzindo o verbo: a verdade que marca", antes conhecida
como "Comunidade Evangélica Jesus, a verdade que marca", é suspeita de manter fiéis em situação análoga à escravidão
em propriedades rurais e empresas em Minas Gerais e Bahia, e ainda se
apoderar de todos os bens das vítimas.
Pelo menos 13 pessoas foram
presas em Minas Gerais, Bahia e São Paulo, sendo oito apenas no Sul de
Minas.
Nove pessoas ainda estão foragidas, entre elas "Pastor Cícero",
considerado o líder do grupo.
Dezessete estabelecimentos foram pré-interditados.
A Operação "Canaã – A
Colheita Final" acontece com apoio do Ministério do Trabalho e também
cumpre 42 mandados de busca e apreensão.
Entre os alvos da operação estão investigados em pelo menos quatro
cidades do Sul de Minas – Poços de Caldas, Pouso Alegre, Minduri e São
Vicente de Minas.
Em Poços de Caldas, o restaurante "Poços Grill" foi
interditado pela Polícia Federal durante a manhã.
A gerente do
estabelecimento foi presa no local.
Ela seria a responsável pela seita
na cidade.
Além dela, foram presas duas pessoas em Pouso Alegre, Três em
São Vicente de Minas e duas em Minduri.
Em Pouso Alegre, foram interditados os restaurantes "Circuito das
Águas" e "Café Bombom".
Todos esses estabelecimentos seriam comandados
pela seita religiosa.
Conforme as investigações, os funcionários desses
estabelecimentos eram fiéis que não recebiam pelo trabalho.
Segundo as investigações da Polícia Federal, mesmo após duas outras
operações realizadas em 2013 e 2015, os líderes da seita continuaram a
cometer crimes de exploração.
A seita estaria em plena expansão, com
novas fazendas sendo adquiridas em vários estados.
A promessa do grupo,
conforme a PF, é que a "besta" estaria vindo e dentro das comunidades,
todos estariam protegidos no dia do apocalipse.
Os trabalhos também acontecem nas cidades de Contagem, Betim, Madre de
Deus e Andrelândia (MG), além do estado da Bahia, em Ibotirama, Luiz
Eduardo Magalhães, Wanderley e Barra, e São Paulo (SP).
Além de manter trabalhadores em condições de escravos, os líderes da
seita religiosa são investigados por tráfico de pessoas, estelionato,
organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Os líderes teriam aliciado pessoas na sede de uma igreja em São Paulo
(SP).
As vítimas foram induzidas a doarem todos os bens para a
organização criminosa.
Depois de trabalhos psicológicos e de doutrina,
as pessoas eram levadas para centros de convivência em zonas rurais e
urbanas de Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
Nos locais, eram submetidos a trabalhos em estabelecimentos comerciais e lavouras sem remuneração.
Com o trabalho escravo e a apropriação de bens das vítimas, os líderes viviam de patrimônios luxuosos e altos faturamentos.
As investigações apontaram que o grupo também conseguiu expandir
investimentos para o estado do Tocantins, com exploração ilegal.
Com a terceira frase da operação nesta terça-feira, os investigados
podem cumprir até 42 anos de prisão, em caso de condenação.
Segundo a
polícia, a operação é uma referência bíblica à terra prometida.
O G1 tenta contato com os advogados da seita religiosa, mas até a publicação desta reportagem, ainda não tinha conseguido retorno.
Operação "Canaã" em 2013
A seita começou a ser investigada em 2011, e os trabalhos resultaram na deflagração da "Operação Canaã" em 2013,
quando a Polícia Federal, o Ministério do Trabalho e Emprego e o
Ministério Público do Trabalho fizeram inspeções em propriedades rurais.
As precárias condições de alojamento e trabalho foram denunciadas aos
órgãos.
Na época, cerca de 800 integrantes da organização moravam em cinco
fazendas em São Vicente de Minas e Minduri.
Conforme as investigações da
época, foi identificado um sofisticado esquema de exploração do
trabalho humano e lavagem de dinheiro levado a cabo por dirigentes e
líderes religiosos.
Dois membros da seita religiosa "Jesus a verdade que marca" foram
presos por apropriação indébita de cartões do programa "Bolsa Família" e
de aposentadoria durante a operação.
Operação “De Volta para Canaã” em 2015
Segundo a PF, o pastor que é um dos principais líderes da organização
foi preso em Pouso Alegre (MG), e outras cinco pessoas, que formariam a
cúpula da seita religiosa, foram detidas em Minas Gerais e Bahia.
Além disso, foram bloqueados bens que pertencem aos líderes da seita,
entre eles 39 imóveis rurais em Minas Gerais e Bahia, além das contas
físicas e jurídicas dos envolvidos.
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