Documento foiredigido após entrevista do diretor-geral da corporação, que repercutiu negativamente. Fontes ouvidas pela TV Globo dizem que delegados não confiam mais em Segovia.
Por Vladimir Netto, TV Globo, Brasília
Delegados da Polícia Federal integrantes do Grupo de Inquéritos do
Supremo Tribunal Federal, responsáveis pela investigação de pessoas com
foro privilegiado, entregaram memorando ao diretor de combate ao crime
organizado da Polícia Federal, Eugenio Ricas, afirmando que "não
admitirão" qualquer interferência em seu trabalho.
O documento foi elaborado após recente declaração do diretor-geral da
Polícia Federal, Fernando Segovia, sobre uma investigação que envolve o
presidente Michel Temer.
Na última sexta (10), a agência Reuters publicou entrevista com Segovia, na qual o diretor da PF declarou que não há indício de crime na investigação sobre Temer e que as investigações até o momento não comprovaram ter havido pagamento de propina no caso.
A declaração causou intensa repercussão política e motivou o relator do
inquérito que investiga Temer no Supremo Tribunal Federal, ministro
Luís Roberto Barroso, a intimar Segovia a dar explicações.
No memorando, os delegados dizem, sem citar nomes, que não permitirão
interferência nos autos do inquérito contra Temer ou em qualquer outro
procedimento de investigação em trâmite na unidade.
"Em face dos recentes acontecimentos amplamente divulgados pela
imprensa, os delegados integrantes deste Grupo de Inquéritos junto ao
STF vêm a Vossa Excelência dar conhecimento de que, no exercício das
atividades da Polícia Judiciária naquela Suprema Corte [...], não
admitirão, nos autos do inquérito 4621/STF ou em outro procedimento em
trâmite nesta unidade, qualquer ato que atente contra a autonomia
técnica e funcional de seus integrantes, assim como atos que
descaracterizem a neutralidade político-partidária de nossas atuações",
dizem os delegados no documento.
Eles também afirmam no memorando que, se perceberem qualquer ato que atente contra as investigações, irão reagir.
"Nesse sentido, uma vez concretizadas ações que configurem tipos
previstos no ordenamento penal - como prevaricação, advocacia
administrativa, coação no curso do processo e obstrução de investigação
de organização criminosa -, os fatos serão devidamente apresentados ao
ministro relator, e pleiteadas as medidas cabíveis no código de processo
penal", afirmam.
De acordo com fontes ouvidas pela TV Globo, a mensagem que os delegados
quiseram passar é a de que não confiam mais no diretor-geral da PF.
À TV Globo, Fernando Segovia afirmou que o memorando é a "prova cabal
de que não interferiu nem tentou influenciar a investigação" de Temer.
Segundo o diretor-geral da PF, se tivesse tentado interferir, ele já teria sido alvo de uma representação dos delegados junto ao Supremo.
Segundo o diretor-geral da PF, se tivesse tentado interferir, ele já teria sido alvo de uma representação dos delegados junto ao Supremo.
Mais tarde, o diretor de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Eugenio Ricas, respondeu ao memorando e afirmou que reportar qualquer tipo de pressão é dever do policial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário