Deusdina Pereira é suspeita de negociar a liberação de um crédito do banco em troca de um cargo na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Por G1 e TV Globo, Brasília
A vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica
Federal, Deusdina dos Reis Pereira, é suspeita de “troca de interesses”
na concessão de um empréstimo de R$ 200 milhões do banco à Cemig,
segundo reportagem do jornal “Folha de São Paulo”.
O caso chegou à Comissão de Ética da Presidência da República no dia 16
de novembro do ano passado, e ao Ministério Público Federal.
Foi
encaminhado pelo próprio Conselho de Administração da Caixa Econômica
Federal que, por unanimidade, pediu análise da Comissão.
Deusdina Pereira é suspeita de negociar a liberação de um crédito do
banco em troca de um cargo para ela própria na Companhia Energética de
Minas Gerais (Cemig).
A suspeita motivou o Ministério Público Federal a pedir o seu
afastamento, e também de outros 11 dirigentes do banco estatal,
investigados em um esquema de desvio de recursos de fundos de pensão de
bancos públicos e de empresas estatais.
Entre os documentos da investigação da própria Caixa Econômica Federal,
está um ofício encaminhado pelos procuradores ao chefe da Casa Civil,
ministro Eliseu Padilha.
O ofício cita uma troca de e-mails cujo assunto era o pedido de
Deusdina para "um posto no Conselho de Administração da Companhia
Energética de Minas Gerais, mediante a insinuação de troca de interesses
diante da operação finaneira da Companhia na Caixa Econômica".
Segundo a reportagem do jornal "Folha de São Paulo", em um email
corporativo, enviado em 2015 ao então presidente da Cemig, Mauro Borges,
Deusdina avisa:
"Amanhã apreciaremos no Conselho Diretor uma operação de crédito para a
empresa no valor de R$ 200 milhões".
Na sequência, ainda segundo o
joranl, ela escreve: "Continuo aguardando seu retorno quanto à minha
indicação para o Conselho".
Recomendação do Ministério Público
Em dezembro, os procuradores recomendaram a Caixa a troca imediata de
seus 12 vice-presidentes, entre os quais Deusdina, e a adoção pelo banco
de forma de seleção para altos funcionários que "maior independência e
transparência nas decisões estratégicas".
Na recomendação, o MPF citou que Deusdina afirmou aos investigadores de
uma comissão independente que possui "suporte político do PR para
manter-se no cargo".
Conforme o MPF, Deusdina chegou ao posto depois de trabalhar com Fábio
Cleto, ex-vice-presidente da Caixa e que fechou acordo de colaboração
premiada.
Ele é um dos alvos da Operação Sépsis, que investiga esquema
de propinas envolvendo financiamentos do FI-FGTS, administrado pelo
banco público.
O pedido de afastamento dos dirigentes da Caixa Econômica Federal foi
negado pelo presidente da República, Michel Temer, no início desta
semana.
A Caixa considerou que não existe fato concreto para o afastamento e
que os nomes de todos vice-presidentes foram aprovados pelo Conselho de
Administração, como prevê o estatuto do banco.
Comissão de Ética.
Mas a suspeita envolvendo Deusdina dos Reis Pereira teve prosseguimento
na Comissão de Ética da Presidência da República.
A vice-presidente tem
até a próxima terça-feira (16) para apresentar defesa na Comissão, que
voltará a se reunir em 29 de janeiro.
Ao G1,
o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência, Mauro
Menezes, disse que o caso de Deusdina poderá ser levado a julgamento
pelo órgão no próximo dia 29 de janeiro.
Isso só ocorrerá, no entanto,
se o relator do processo, o conselheiro Marcello Alencar concluir seu
voto sobre a troca de e-mails até o fim deste mês.
“Como trata-se de autoridade que está no cargo, comissão zela por
rapidez, seja para que em não havendo qualquer infração ética, possamos
proclamar a idoneidade da conduta, para dar condições de que o exercício
do cargo se desenvolva, seja em que havendo infração, possamos
declarar, para mudança de conduta ou até mesmo recomendação de
exoneração”, disse, acrescentando que em todo o processo é assegurado
amplo direito de defesa.
O órgão é composto por sete membros e analisa infrações éticas
cometidas no âmbito do Executivo.
A comissão não tem poder de punir
eventuais atos considerados antiéticos, mas pode advertir o servidor ou
mesmo recomendar sua exoneração a seu superior.
A Comissão de Ética do Palácio do Planalto pode recomendar uma
advertência ou até mesmo exoneração dela do cargo.
Quem tomará a decisão
sobre o assunto é o presidente Michel Temer.
Na época, segundo fontes da Caixa Econômica Federal, Deusdina não tinha poder para liberar o crédito mencionado no e-mail.
Outro lado.
Em nota, a Caixa, também em nome da vice-presidente, informou que não vai se manifestar sobre o assunto.
A Cemig informou que Deusdina não foi indicada para qualquer função na empresa.
Tanto a Caixa quanto a Cemig se recusaram a informar se o crédito citado por Deusdina foi concedido ou não.
A defesa de Mauro Borges, que era presidente da Cemig na época, disse
que o pedido de Deusdina foi educadamente recusado e que não há nenhuma
relação entre a operação de crédito e o pedido feito por ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário