O ex-governador também disse que não participou da organização da licitação da reforma do Maracanã. Ele falou que Pezão 'teve autonomia' na questão, como secretário de obras
Por Gabriel Barreira e Carlos Brito, G1 Rio
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho (PMDB)
classificou como "presente de puxa-saco" o anel de 220 mil euros dado
pelo ex-dono da Delta, Fernando Cavendish, para sua esposa, Adriana
Ancelmo, em 2009.
A declaração foi dada nesta terça-feira (5), durante audiência na 7ª
Vara Federal Criminal.
O ex-governador também disse que não atuou na
escolha das empresas que participaram da licitação para a reforma do
Maracanã e deu a entender que o atual governador, Luiz Fernando Pezão
(PMDB), então secretário de obras, teve autonomia no processo.
"Presente de puxa-saco para me agradar, para minha mulher, que foi
devolvido e ele assumiu", disse Cabral, questionado sobre o anel.
"Chega a ser risível, um ano depois da obra do Maracanã.
Um empreiteiro
encalacrado, um réu, que lavou mais de R$ 300 milhões.
Devolvi para ele
em 2012 [o anel] e não quis mais conversa, rompemos relações", afirmou.
Em depoimento na mesma vara na segunda-feira, Cavendish disse que o anel foi uma contrapartida para a construtora Delta participar da licitação da reforma do estádio do Maracanã para
a Copa de 2014, com 30% da obra.
Também na segunda, o ex-executivo da
Odebrecht Benedicto Barbosa havia afirmado que a Delta foi imposta no
convênio do Maracanã por Cabral.
No depoimento desta terça, Cabral afirmou que recebeu dinheiro da Delta
para campanha política, admitiu o uso irregular do que chama de "sobra
de campanha", mas negou qualquer vício na licitação.
"Não é factível que eu possa organizar quem vai ganhar, sobretudo numa
licitação que o brasileiro e o mundo inteiro tinham interesse.
Não podia
combinar resultados", afirmou.
"Sobre escolhas da empresa [na licitação], não participei.
Não indiquei
nenhum membro da comissão.
Meu então vice, Pezão, foi meu secretário de
obras.
Dei autonomia ao então secretário de obras e assim ele fez",
disse Cabral.
O ex-governador também aproveitou a audiência para fazer críticas ao seu sucessor.
"Infelizmente esse governo atual foi incapaz de manter o Teleférico do
Alemão funcionando.
Fico triste.
Hoje saí da cadeia e vi carros da PM
caindo aos pedaços.
A crise não é minha não.
Saí em abril de 14 com
dinheiro em caixa, pagava em dia servidor."
Cabral disserta sobre realizações no cargo e é interrompido.
Durante a audiência desta terça, o ex-governador tentou dissertar sobre
suas realizações no cargo, mas foi interrompido pelo juiz Marcelo
Bretas, que afirmou que o julgamento não é sobre ter sido ou não um bom
governador.
"Não estamos aqui para avaliá-lo como o governador", disse Bretas.
"O
senhor concorda que um governante que tenha feito tudo isso, mas que se
corrompeu nessa tarefa, terá perdido todo o louro dessa execução?",
questionou o juiz.
"Não estou dizendo que foi o que aconteceu",
completou.
"Concordo.
Não sou Adhemar de Barros: 'Rouba, mas faz'.
Eu realizo.
Realizei.
Não pedi propina para nenhum construtor, nenhuma prestadora de
serviços'.
Nego 100 milhões de dólares (em propina).
São valores
absurdos.
Fui candidato a governador em 2006.
Houve eleições em 2008, em
2010, 2012 e 2014.
Me envolvi em todas elas", disse Cabral,
referindo-se ao ex-prefeito e governador de São Paulo, entre as décadas
de 1940 e 1960.
Nesse momento ele foi novamente interrompido pelo juiz, que lembrou
depoimentos de segunda-feira, que afirmaram que os pagamentos foram para
'azeitar' relações.
"O senhor não vê um vínculo entre essas
contribuições oficiais - não estou falando das oficiosas - e logo depois
a proximidade que se criou?", questionou novamente o juiz.
O senhor Benedicto Junior (delator da Odebrecht)
mente a respeito desse valor porque nunca pedi propina às
empreiteiras", sustentou Cabral, acrescentando que políticos e
empresários o chamavam de "chefe".
"Puxa-sacos", ironizou.
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