Traficante repassava papéis para cela ao lado e mulher de outro detento levava para digitação fora de presídio. Lucro mensal de criminoso chegava a R$ 1 milhão por mês.
Através de bilhetes, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho
Beira-Mar, enviava ordens do presídio federal de Porto Velho, em
Rondônia, para advogados e integrantes de sua família, segundo a Polícia
Federal.
Dessa forma gerenciou, pelo menos durante o último ano e meio,
a diversificação de seus negócios.
Agora, além do tráfico de drogas, o
criminoso lucra com a exploração de serviços como a venda de botijões de
gás até um percentual nas máquinas de caça-níqueis instaladas em três
comunidades de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de
Janeiro.
Os lucros, de acordo com os investigadores, chegam a R$ 1
milhão por mês.
Cinco filhos dele foram presos nesta quarta-feira (24), além de um
homem considerado seu braço-direito no Ceará.
A PF ainda prendeu
Alessandra da Costa, irmã de Beira-Mar e apontada como sua conselheira e
uma de suas advogadas.
Outros dois advogados também foram presos.
Débora da Costa, outra irmã, moradora da Ilha do Governador, vai ser
conduzida para prestar depoimento na Polícia Federal.
A mulher do
traficante, Jacqueline Alcântara, já presa, será transferida nesta
quarta para Porto Velho, em Rondônia.
Os policiais cumprem 35 mandados de prisão, 27 de condução coercitiva e
86 de busca e apreensão nos estados do Rio, Rondônia, Mato Grosso do
Sul, Paraíba, Ceará e no Distrito Federal.
As principais áreas de
atuação de Fernandinho Beira-mar são três comunidades de Duque de
Caxias, na Baixada Fluminense: favela Beira-Mar, Parque das Missões e
Parque Boavista.
Após um ano e dois meses de investigações, a PF descobriu que o
gerenciamento de Beira-mar levou sua organização a atuar como uma
milícia.
Os rendimentos são obtidos com a venda de botijões de gás,
cesta básica, mototáxi, venda de cigarros e até com o abastecimento de
água.
O traficante é acusado de organização criminosa, lavagem de
dinheiro e tráfico de drogas.
Nas investigações, a PF descobriu que, para fazer o esquema funcionar, o
criminoso contava com a colaboração de presos da penitenciária federal
onde cumpre pena.
Beira-Mar repassava bilhetes o vizinho de cela que
entregava para a mulher durante a visita íntima.
A companheira do
detento Cleverson Santos levava para uma digitadora, em Porto Velho.
Em
troca, a mulher do preso tinha estadia e transporte pagos pela quadrilha
de Fernandinho Beira-Mar.
Após a digitação da ordem, a digitadora enviava por e-mail ou por
mensagens de telefones celulares para integrantes da quadrilha do
traficante.
A cada semana, em média, um novo e-mail era criado.
Assim,
Beira-Mar tentou evitar o flagrante de ter algum bilhete apreendido com a
sua caligrafia.
Em 2010, vários bilhetes escritos pelo criminoso foram
apreendidos pela polícia.
Essa digitadora, que teve a prisão decretada
pela Justiça, também cuidava da compra de passagens aéreas para que
parentes viajassem do Rio a Porto Velho para visitar o traficante.
Por
semana, Beira-mar gastava R$ 20 mil em passagens aéreas.
Nas investigações da PF não se encontrou nenhum indício de participação
de agentes do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Foi um grupo
de agentes que encontrou em 2 de julho de 2015 um bilhete rasgado,
escrito por Beira-Mar, nos fundos da marmita de refeição servida na
unidade.
O primeiro bilhete foi transcrito pelos policiais federais:
“Segundo o Dr. Lopes me passou, esses telefones são criptografados e
funcionam como se fossem uma central e que é impossível grampeá-lo,
paguei US$ 3.000,00 (três mil dólares) em cada um.
Eu não acredito que
sejam 100% seguros.
Vocês têm que tomar muito cuidado.
Para que vocês
possam ficar em perfeita sintonia, um ficará com os amigos que vão morar
no Paraguai, outro com os que vão morar na Bolívia, outro com o Dr.
Lopes, outro com o Dr. Queiros, que vai ficar responsável por levar esse
aparelho ao Dr. Cury e a quem mais for preciso.
Outro com o Dr. Jaime.
Todas as mensagens que qualquer um desses aparelhos enviar ou receber
chegará aos demais, com exceção do que vai ficar com os Drs. Jaime e
Queirós.
Dessa forma, tudo (...) 100 % transparente”.
Os textos eram escritos em códigos pelo traficante.
Os policiais
descobriram que toda vez que Beira-Mar queria se referir a Brasília ele
escrevia "Bolívia".
Os doutores Lopes e Queiroz são apelidos,
respectivamente, do filho Marcelo e do sobrinho David.
A PF confirmou que dias depois Luan Medeiros da Costa foi até um
shopping de Porto Velho comprar telefones celulares.
Além de orientar
investimentos, o traficante dá broncas na postura dos filhos e chega a
afirmar que se não fossem "parentes já estariam mortos há muito tempo.
Por muito menos, o Alan morreu".
A frase levantou a suspeita de que a
quadrilha é responsável por mortes.
Os laudos periciais mostram que os bilhetes apreendidos na cela de Beira-mar foram escritos pelo traficante.
Alguns “bilhetes” encontrados pela Polícia Federal descrevem com
riqueza de detalhes a forma de atuação e a estrutura da quadrilha.
Eles
demonstram que o grupo criminoso utiliza aviões (e/ou hidroaviões),
helicópteros e caminhões para o transporte de drogas adquiridas na
Bolívia, Paraguai e Peru.
Os policiais suspeitam que a quadrilha possui membros que residem na
Bolívia e no Paraguai para facilitar a aquisição e o preparo das drogas.
A droga é adquirida, em regra, nesses países e depois distribuída nas
chamadas “firmas” dentro de comunidades no Rio de Janeiro.
Em setembro de 2016, a PF apreendeu no notebook de Francisca Vanesa dos
Santos um bilhete chamado de "Livro".
Nele, Fernandinho Beira-Mar dá
direcionamentos para a quadrilha.
Beira-Mar pede explicação sobre os
ganhos de cada boca-de-fumo, quanto cada arrecada e quanto custa uma
arma, que ele chama de "brinquedo".
Em outro trecho do mesmo “bilhete” denominado “livro”, o traficante
estipula os valores que devem ser repassados a ele pela venda de drogas
em suas “firmas”.
Ele destaca valores: R$ 25 mil da “3 Maria” (uma
comunidade), R$ 15 mil da comunidade Barro Velho, R$ 5 mil da comunidade
Ana Clara, R$ 5 mil da comunidade Danon e R$ 20 mil da comunidade Santa
Lúcia"
Lavagem de dinheiro
As investigações mostraram que pelo menos 11 empresas foram usadas pela
quadrilha para lavar dinheiro.
Nesta manhã de quarta, a Polícia Federal
fez buscas em uma casa de shows, em um lava-jato e em lojas criadas
pela quadrilha.
A polícia suspeita de que esses locais foram adquiridos
com dinheiro do tráfico de drogas ou de outros negócios de Fernandinho
Beira-Mar.
Criminoso atua mesmo preso
Desde 2006, Fernandinho Beira-Mar está preso em uma penitenciária
federal.
Em 2007, a Polícia Federal investigou o criminoso e descobriu
que, apesar da vigilância, ele manteve o fornecimento de drogas (maconha
e cocaína) para a maior facção de drogas do Rio.
A investigação da PF
na ocasião levou 19 pessoas para a prisão.
A operação Fênix, como foi chamada, descobriu que Beira-mar escolheu a
mulher, Jacqueline Alcântara de Morais, para sucedê-lo no comando da
quadrilha.
Na ocasião, 19 pessoas foram presas e condenadas pela Justiça
Federal do Paraná.
Em condenações, o traficante acumula penas que somam quase 320 anos de
prisão em crimes como tráfico de drogas, formação de quadrilha, lavagem
de dinheiro e homicídios.
Em 2015, o criminoso foi condenado a 120 anos de prisão apontado como
responsável liderar uma guerra de facções, em 2002, dentro do presídio
de segurança máxima Bangu I, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na
Zona Oeste do Rio, quando quatro rivais foram assassinados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário