A filha da presidente Dilma Rousseff, Paula, ajeita a faixa presidencial às costas da mãe no Palácio do Planalto


O Brasil descobrirá a partir de amanhã, com o quase certo afastamento da presidente Dilma Rousseff pelo Senado, que o impeachment não resolveu seus problemas. 

A saída do PT do poder não tem, por si só, o condão de encerrar a maior recessão da nossa história. 

O desemprego continuará a subir, a Operação Lava Jato continuará a investigar, e o governo Michel Temer enfrentará uma oposição renhida daqueles que deixarão o poder após 13 anos.

Lembro exatamente o dia em Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente, um domingo, em que a avenida Paulista se encheu de cores vermelhas para celebrar a ascensão ao poder do primeiro operário na história do Brasil. 


Sempre eficazes na oposição, as hostes petistas eram tão ignorantes a respeito de como o Estado funcionava que perguntávamos quanto tempo duraria aquele governo.

Quatro anos? 


Seria bom para a democracia, acabaria com o bicho-papão da esquerda, ao obrigá-la a enfrentar a realidade do poder. 

Oito? 

Haveria sequelas inevitáveis, sobretudo na visão tacanha e equivocada da economia. 

Treze? 

Ninguém poderia imaginar que os petistas aprenderiam rápido as artimanhas do poder, fariam tanto estrago – e sairiam pela porta dos fundos.

Os anos de PT são cercados de superlativos. 


O pior escândalo de corrupção na história da humanidade, segundo historiadores. 

A pior crise já registrada na economia brasileira, segundo as estatísticas. 

O pior governo na história do Brasil, segundo as pesquisas de popularidade.

As sequelas são evidentes. 


O desequilíbrio nas contas públicas. 

As fraudes orçamentárias após anos de Lei de Responsabilidade FIscal. 

O aparelhamento político do Estado por quadros partidários. 

A promiscuidade com empresas de todos os setores da economia em que o Estado poderia intervir. 

O uso das estatais para fins políticos. 

O capitalismo de compadrio como combustível propulsor de um projeto de poder. 

O inchaço da máquina pública e a recusa tacanha em aceitar a realidade econômica. 

A mistificação equivocada, propagada por artistas e intelectuais cegos para os fatos, além do exército de propagandistas remunerados com dinheiro público.

Leitores sempre reclamam que me esqueço de mencionar as conquistas petistas. 


Citam como exemplo os programas sociais, o ProUni, o Fies, o Minha Casa Minha Vida e o resgate de milhões da miséria com o Bolsa Família (alguém ainda lembra o Fome Zero?). 

Que fiquem então registrados. 

Ao lado das estatísticas deploráveis de saneamento básico, de um sistema de saúde público que funciona como um show de horrores e da vergonha nacional que passamos em todas as avaliações internacionais da nossa educação. 

Eis, aí, o saldo social dos 13 anos de PT.

Começa amanhã a tentativa de recolocar o país no prumo. 


Confesso não ter a menor esperança de que o governo Temer seja capaz disso. 

Comecei este texto escrevendo que os problemas brasileiros não se resumem ao PT. 

É fato. 

Brasília funciona numa atmosfera rarefeita, distante da realidade nacional. 

Nossos políticos, em especial os do PMDB que assumirão o poder, estão por demais habituados às regras tácitas que regem esse teatro, para que seja crível qualquer promessa de mudança real. 

E a Lava Jato não vai parar de desmascará-los.

Há alguma esperança? No curto prazo, nenhuma. 


O máximo a que podemos almejar é algum tipo de resgate da sensatez na economia, o início de algum projeto de reforma do Estado e o desaparelhamento de agências reguladoras e ministérios hoje ocupados por interesses partidários. 

Isso é o possível. 

Mas é pouco, muito pouco, para um país que precisa se recuperar de 13 anos andando na direção errada e ainda terá pela frente no mínimo uma década perdida, de investimentos necessários nos setores mais básicos.

O cenário internacional não é mais favorável a países com as características do Brasil. 


Pioraram as condições para atrair o capital que não temos. 

Os mercados maduros estão mais preocupados em manter os próprios empregos e afastar as ameaças do terrorismo islâmico, da guerra e da China. 

Já vivemos um período de fechamento de fronteiras, o populismo nacionalista emerge por toda parte, e o movimento anti-globalização tende a se acirrar.

Nossas instituições têm resistido ao longo do processo de impeachment. 


Mas também têm demonstrado quão frágil a democracia ainda é no Brasil. 

A falta de compostura de diversos atores – sobretudo o atual presidente da Câmara e seu antecessor – esgarçou as relações entre os três poderes. 

A queda de Dilma lança na oposição um partido de ressentidos, incapazes de reconhecer as próprias deficiências, mas capazes de fazer muito barulho e gerar muita confusão.

O PT não deixará nenhuma saudade, é verdade, exceto nos iludidos por sua mistificação ou naqueles que dependem do partido para viver. 


Mas deixará incerteza. 

Um país conflagrado, uma classe política desacreditada e o caldo de cultura perfeito para a ascensão de demagogos e oportunistas. 

Teremos tempos turbulentos pela frente. 

O vermelho não será substituído pelo verde-e-amarelo, mas pelo cinza sombrio. 

O próprio otimismo é um luxo que pode nos custar caro.

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