Jurema Aprile
A contaminação da água
doce que circula pelo planeta é cada vez maior, seja causada por
agrotóxicos e fertilizantes químicos usados na agricultura, por resíduos
de processos industriais, por esgotos domésticos e por lixões, sem
esquecer dos dejetos químicos de produtos empregados na mineração.
Dia Mundial da Água: sabe o que é boçoroca?
Não
há como negar: a Terra é mesmo um planeta-água, como se vê na foto.
Note que a água não é apenas o que se vê aqui em azul.
As grandes massas
brancas são nuvens (água em estado gasoso) e o gelo da Antártida
(estado sólido). Que tal mergulhar no assunto e descobrir por que a água
é essencial para a vida?
Com a poluição das águas de superfície, a humanidade passou a se
abastecer em grande parte das águas subterrâneas.
Um bilhão e meio de
habitantes de centros urbanos do mundo dependem totalmente delas para
sobreviver.
No Brasil, 80% das cidades do Centro-Sul já são abastecidas pelas águas tiradas das profundezas subterrâneas.
Mas essas as reservas estão diminuindo em todo o planeta de forma impressionante, em especial no Oriente Médio e na África.
Elas não se renovam com a velocidade da extração feita pelo ser humano. Na Europa,
50% das cidades convivem com a ameaça, num futuro próximo, de falta de
água.
Elas precisam dos depósitos sob a terra e os exploram acima da
capacidade de reposição natural que eles têm.
O que são os aquíferos
Por esse cenário, crescem em importância os aqüíferos. Eles são grandes
depósitos subterrâneos de água alimentados pelas chuvas que se
infiltram no subsolo.
Por sua vez, alimentam mananciais de água na
superfície e formam lagoas, rios ou pântanos.
Não custa recapitular: só cerca de 3% de toda a água do planeta é doce.
Mais ou menos a terça parte disso (30,1%) existe em reservatórios no subsolo.
Muitas pessoas pensam que os aqüíferos são grandes bolsões subterrâneos
encapados em rocha e cheios de água. Não é assim na maioria das vezes.
A
água costuma preencher os espaços entre os sedimentos arenosos, como se
fosse em uma tigela com com areia e água misturados, ou se infiltra
pelas fraturas, ou rachaduras, das rochas - pense em uma imensa esponja
que absorve a água e você vai ter a idéia mais próxima do que é um
aqüífero.
Apenas em alguns casos a água fica armazenada em bolsões,
quando ela dissolve as rochas.
O Guarani
O aquífero
Guarani é o principal manancial de água doce da América do Sul, formado
entre 200 milhões e 132 milhões de anos atrás, nos períodos Triássico,
Jurássico e Cretáceo Inferior . Imagine só: oito estados brasileiros,
mais o Norte da Argentina e do Uruguai, e parte do Paraguai
se assentam sobre esse oceano de água doce, numa área de 1,2 milhão de
quilômetros quadrados - o que faz dele o maior reservatório de água
subterrânea transnacional do mundo.
E a maior parte dele fica em território brasileiro - são dois terços da área total, nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Só em um desses estados, São Paulo, o Guarani é explorado em mais de
mil poços - e a maioria deles fica numa área de recarga do aquífero,
isto é, na região de 17 mil quilômetros quadrados em que ele se
recarrega com a infiltração das águas das chuvas.
Prevenção e cuidados
Especialistas alertam que essa área é a mais vulnerável e precisa ter
sua exploração supervisionada por programas ambientais que previnam a
poluição da água subterrânea e também seu esgotamento.
Outro
cuidado necessário por parte de uma política governamental é evitar que
fertilizantes químicos e pesticidas utilizados na agricultura dessa
região contaminem os lençóis freáticos.
Só para recordar: lençol
freático é a parte superior de um depósito subterrâneo de água.
De acordo com estudos da Universidade da Água, a poluição
dos aquíferos superiores que ocorre, no Brasil, Paraguai, Uruguai ou
Argentina, poderá contaminar a água que é extraída dos poços profundos,
"até mesmo quando estão localizados nos seus setores confinados".
Mas nem só de subsolo vive um aquífero: embora tenha camadas com
profundidades que variam entre 50 metros e 1.800 metros, ele também
surge na superfície, em afloramentos - e nesses locais o risco de
contaminação com agrotóxicos é muito maior.
Uma das propostas
apresentadas no Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável do Aquífero Guarani - organizado pelas nações em que ele
está presente - proíbe a agricultura que usa fertilizantes e pesticidas,
como a da cana-de-açúcar, nos locais de afloramentos, como na região de
Botucatu, em São Paulo. Podem ainda ser criadas áreas de restrição para
novas perfurações.
Diamantes não são vitais
O canadense Marq Villiers, autor
de "Água: Como o Uso do Precioso Recurso Natural Poderá Acarretar a Mais
Séria Crise do Século 21 (Ediouro, 2002), calcula que - se todos os
recursos hídricos disponíveis para consumo fossem espalhados sobre o
globo - formariam uma piscina em que uma pessoa com 1,82 m de altura
poderia caminhar sem se afogar.
"O esgotamento dos lençóis freáticos é uma das grandes crises invisíveis mas ameaçadoras que o planeta enfrenta, com todas as suas implicações de queda na oferta de alimentos, miséria humana, fome, conflitos e guerra", alerta.
Adam Smith, economista escocês autor de "Riqueza das Nações" (1776) e considerado pai do liberalismo econômico, criticava o fato de diamantes valerem tanto e a água - tão essencial para a vida no planeta como o ar que respiramos - não valer coisa alguma.
Quase três séculos depois, algo
está mudando: os diamantes ainda custam fortunas, mas a água de
qualidade - ou o acesso a ela - já está em vias de valer muito mais.
Exploração irresponsável
Entre outros exemplos da irresponsabilidade humana em relação aos cada vez mais escassos recursos hídricos, podem ser citados os que seguem:
O aqüífero de Ogallala, no Arizona, nos Estados Unidos, pode desaparecer: já perdeu o equivalente a 18 vezes o volume do rio Colorado por causa da irrigação de áreas extensas na agricultura da região das Grandes Planícies;
Na Líbia, a exploração dos lençóis subterrâneos para irrigar as plantações já secou muitos dos poços de onde se extrai a água;
Na Tailândia, a retirada da água subterrânea faz algumas áreas da capital, Bangcoc, afundarem cerca de 14 centímetros por ano.
É que as
rochas do subsolo que servem de sustentação diminuem de tamanho quando
ficam secas, e o solo cede.
Para piorar, como a região é de litoral, o
espaço deixado pela água doce retirada é preenchido por água salgada,
inutilizando os lençóis subterrâneos para o consumo;
Na Indonésia, a exploração desenfreada dos aqüíferos fez o mar avançar cerca de 15 quilômetros para o interior.
Na Indonésia, a exploração desenfreada dos aqüíferos fez o mar avançar cerca de 15 quilômetros para o interior.
Fonte : UOL Educação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário