Vaticano divulgou encíclica sobre o meio ambiente nesta quinta.
Francisco pediu mudanças em estilo de vida e acusou potências.
"É previsível que o controle da água por parte de grandes empresas mundiais se converta em uma das principais fontes de conflitos deste século", escreveu o pontífice, que viveu na Argentina, sua terra natal, as tensões sociais pela privatização da água.
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Francisco pediu na encíclica "mudanças do estilo de vida", e acusa as potências e suas indústrias de fazer um "uso irresponsável" dos recursos.
"A humanidade está convocada a tomar consciência da necessidade de realizar mudanças de estilo de vida, de produção e de consumo", escreveu o Papa, que acusa a "política e as empresas de não estarem à altura dos desafios mundiais", depois de terem feito um "uso irresponsável dos bens que Deus colocou na Terra".
O Papa também denunciou "a submissão da política à tecnologia e às finanças" como causa dos fracassos nas reuniões mundiais para conter o aquecimento global e a deterioração do planeta.
Ele ainda denunciou o atual sistema econômico mundial que usa a "dívida externa como instrumento de controle" e os países ricos por não reconhecerem a "dívida ecológica" que têm com os países em desenvolvimento.
"A submissão da política ante a tecnologia e as finanças se mostra no fracasso das reuniões mundiais", escreveu o papa em um texto que acusa os "poderosos" de não querer encontrar soluções.
"A dívida externa dos países pobres se transformou em um instrumento de controle, mas não acontece o mesmo com a dívida ecológica (...) com os povos em desenvolvimento, onde se encontram as mais importantes reservas da biosfera e que seguem alimentando o desenvolvimento dos países mais ricos ao custo de seu presente e de seu futuro", afirma o documento apresentado nesta quinta-feira no Vaticano.
Francisco também pediu aos países ricos que aceitem um "certo decrescimento" para conter o consumismo e a pobreza.
"Chegou o momento de aceitar um certo decrescimento em algumas partes do mundo aportando recursos para que seja possível crescer de maneira saudável em outras partes", escreve o pontífice, que pede "limites" por que é "insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem mais e mais, enquanto outros não podem viver de acordo com sua dignidade humana".
Veja quais são os 20 pontos mais importantes da encíclica.
1 - O papa pede "mudanças profundas" nos estilos de vida, nos modelos de produção e consumo e nas estruturas de poder.
2 - Critica "a rejeição dos poderosos" e "a falta de interesse dos demais" pelo meio ambiente.
3 - Afirma que a Terra "parece se transformar cada vez mais em um imenso depósito de lixo".
4 - O papa pede para "limitar ao máximo o uso de recursos não renováveis, moderar o consumo, maximizar a eficiência do aproveitamento, reutilizar e reciclar".
5 - Se refere a "uma indiferença geral diante do trágico aumento de migrantes fugindo da miséria, piorada pela degradação ambiental".
6 - Critica a privatização de água, um direito "humano básico, fundamental e universal que determina a sobrevivência das pessoas".
7 - Assegura que "os mais graves efeitos de todas as agressões ambientais são sofridos pelo povo mais pobre" e fala de "uma verdadeira dívida ecológica" entre o Norte e o Sul".
8 - Se refere ao "fracasso" das cúpulas mundiais sobre meio ambiente, nas quais "o interesse econômico prevalece sobre o bem comum".
9 - Aponta para o "poder conectado com as finanças" como o responsável de não prevenir e resolver as causas que originam novos conflitos.
10 - O papa acredita que é necessário "recuperar os valores e os grandes fins arrasados por um desenfreamento megalômano".
11 - "Quando não se reconhece (...) o valor de um pobre, de um embrião humano, de uma pessoa com incapacidade, dificilmente se escutarão os gritos da própria natureza".
12 - Para o papa, "é uma prioridade o acesso ao trabalho por parte de todos".
13 - Entende que "às vezes pode ser necessário colocar limites a quem têm maiores recursos e poder financeiro".
14 - Pede que as comunidades aborígines se transformem "nos principais interlocutores" do diálogo sobre meio ambiente.
15. Critica a "lentidão" da política e das empresas, que situa "longe de estarem à altura dos desafios mundiais".
16 - O papa acredita que a "salvação dos bancos a todo custo (...) só poderá gerar novas crises".
17 - Critica que a crise financeira de 2007-2008 não tenha criado uma nova regulação que "levasse a repensar os critérios obsoletos que continuam regendo o mundo".
18 - Assegura que as empresas "se desesperam com o lucro econômico" e os políticos "por conservar ou acrescentar o poder" e não para preservar o meio ambiente e cuidar dos mais frágeis.
19 - Acredita que a solução requer "educação na responsabilidade ambiental, na escola, na família, os meios de comunicação, na catequese".
20 - O papa encoraja os cristãos a "ser protetores da obra de Deus porque é parte essencial de uma existência virtuosa".
Cópias
da encíclica sobre o meio ambiente escrita pelo Papa Francisco são
vistas nesta quinta-feira (18) no Vaticano (Foto: Andrew Medichini/AP)
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