Ele foi eleito com 36 dos 37 votos para suceder Ivan Junqueira.
Maranhense de 84 anos se disse feliz e honrado ao se tornar imortal.
Ferreira Gullar toma posse na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (5). (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo)
Ele passou a ocupar a Cadeira 37, que pertencia ao poeta e tradutor Ivan Junqueira, que morreu em julho deste ano.
O salão Petit Trianon da ABL ficou lotado para a posse do novo imortal.
Entre os presentes estavam Cecília Costa Junqueira, viúva de Ivan Junqueira, Claúdia Ahimsa e Luciana Aragão Ferreira Gullar, esposa e filha do poeta.
Em seu discurso de posse, Gullar reverenciou a memória de seus antecessores na cadeira 37.
Em tom muito emotivo, enalteceu principalmente o amigo Ivan Junqueira "a quem tenho a dor e a honra de substituir nesta cadeira", disse.
Gullar afirmou que Junqueira foi "um verdadeiro homem de letras" e declamou os versos de um poema do amigo para encerrar o seu discurso.
"Não sou eu quem escreve o meu poema.
É ele que se escreve e que se pensa.
É ele que se escreve com a pena da memória, do amor e do tormento, de tudo que aos poucos se relembra: um rosto, uma paisagem, a intensa pulsação da luz manhã adentro".
Salão ficou lotado para a posse de Ferreira Gullar (Foto: Daniel Silveira/ G1)
Ele concorreu à vaga com Ademir Barbosa Júnior, José Roberto Guedes de Oliveira e José William Vavruk.
Ao ser eleito imortal, Ferreira Gullar disse que foi convencido por amigos a se candidatar.
"Vários acadêmicos amigos meus me ligavam pra dizer que eu tinha que entrar, para me convencer.
O fato de substituir o Junqueira, que é meu grande amigo, pesou muito.
Foi uma coisa muito comovente, eu não sabia que ele estava doente", declarou ao G1 à época.
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Biografia
Ferreira Gullar, um dos mais aclamados autores brasileiros vivos, é o pseudônimo José Ribamar Ferreira.
Ele nasceu em São Luís, no Maranhão, em 10 de setembro de 1930.
Publicou seu primeiro livro, "Um pouco acima do chão", aos 19 anos de idade.
Dentre suas principais obras, estão "A luta corporal" (1954), "Dentro da noite veloz" (1975), "Poema sujo" (1976) e "Na vertigem do dia" (1980).
Seu mais recente é "Em alguma parte alguma", que ganhou o prêmio Jabuti de livro do ano em 2011.
Ao subir no palco para agradecer pelo reconhecimento, afirmou: "Eu só vou dizer: não sei se poesia é literatura.
Fora isso, a gente faz poesia porque a vida não basta".
Academia Brasileira de Letras
Academia Brasileira de Letras (ABL - é uma instituição literária brasileira fundada
na cidade do Rio de Janeiro em 20 de julho de 1897 por
escritores como Machado de Assis, Lúcio de Mendonça, Inglês
de Sousa, Olavo Bilac, Afonso
Celso, Graça Aranha, Medeiros e Albuquerque, Joaquim
Nabuco, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay e Rui Barbosa.
Composta por
quarenta membros efetivos e perpétuos e por vinte sócios estrangeiros.
Tem por fim
o cultivo da língua portuguesa, comum a Portugal e ao Brasil, e da literatura brasileira.
É-lhe
reconhecida como tendo desenvolvido esforços em prol da unificação do idioma, do português brasileiro e do português europeu, nomeadamente teve um papel
importante no Acordo Ortográfico de 1945, conseguido
em conjunto com a Academia das Ciências de Lisboa.
Assim como
foi de novo um interlocutor fundamental no ainda "polêmico" Acordo Ortográfico de 1990.
É
responsável pela edição de obras de grande valor histórico e literário, e
atribui diversos prémios literários.
História
A instituição remonta ao final do século XIX, quando escritores e intelectuais brasileiros desejaram criar uma academia nacional nos moldes da Academia Francesa.
Esta tem quarenta cadeiras, ocupadas por quarenta membros efetivos perpétuos (no mínimo vinte e cinco devem morar na cidade que sedia a Academia, o Rio de Janeiro), sendo cada novo membro eleito pelos acadêmicos para ocupar uma cadeira vazia devido ao falecimento do último titular.
Há ainda vinte membros estrangeiros correspondentes.
A iniciativa foi tomada por Lúcio de Mendonça, concretizada em reuniões preparatórias que se iniciaram em 15 de dezembro de 1896 sob a presidência de Machado de Assis (eleito por aclamação) na redação da Revista Brasileira.
Nessas reuniões, foram aprovados os estatutos da Academia Brasileira de Letras a 28 de janeiro de 1897, compondo-se o seu quadro de quarenta membros fundadores.
A 20 de julho desse ano, era realizada a sessão inaugural, nas instalações do Pedagogium, prédio fronteiro ao Passeio Público, no centro do Rio.
Sem possuir sede própria nem recursos financeiros, as reuniões da Academia foram realizadas nas dependências do antigo Ginásio Nacional, no Salão Nobre do Ministério do Interior, no salão do Real Gabinete Português de Leitura, sobretudo para as sessões solenes.
As sessões comuns sucediam-se no escritório de advocacia do Primeiro Secretário, Rodrigo Octávio, à rua da Quitanda, 47.
A partir de 1904, a Academia obteve a ala esquerda do Silogeu Brasileiro, um prédio governamental que abrigava outras instituições culturais, onde se manteve até a conquista da sua sede própria.
Características:
A Academia tem por fim, segundo os seus estatutos, a "cultura da língua nacional", sendo composta por quarenta membros efetivos e perpétuos, conhecidos como "imortais", escolhidos entre os cidadãos brasileiros que tenham publicado obras de reconhecido mérito ou livros de valor literário, e vinte sócios correspondentes estrangeiros.
À semelhança da Academia francesa, o cargo de "imortal" é vitalício, o que é expresso pelo lema "Ad immortalitem", e a sucessão dá-se apenas pela morte do ocupante da cadeira.
Formalizadas as candidaturas, os acadêmicos, em sessão ordinária, manifestam a vontade de receber o novo confrade, através do voto secreto.
Os eleitos tomam posse em sessão solene, nas quais todos os membros vestem o fardão da Academia, de cor verde-escura com bordados de ouro que representam os louros, complementado por chapéu de veludo preto com plumas brancas.
Nesse momento, o novo membro pronuncia um discurso, onde tradicionalmente se evoca o seu antecessor e os demais ocupantes da cadeira para a qual foi eleito.
Em seguida, assina o livro de posse e recebe das mãos de dois outros imortais o colar e o diploma; a espada é entregue pelo decano, o acadêmico mais antigo.
A cerimônia prossegue com um discurso de recepção, proferido por um confrade, referindo os méritos do novo membro.
Instituição tradicionalmente masculina, a partir de 4 de novembro de 1977, aceitou como membro Rachel de Queiroz, para quem foi desenhada uma versão feminina do tradicional fardão: um vestido longo de crepe francês verde-escuro, com folhas de louro bordadas em fio de ouro.
Presidentes da ABL
Ver artigo principal: Anexo:Lista
de presidentes da Academia Brasileira de Letras
O
primeiro presidente da ABL foi Machado
de Assis, eleito por aclamação e também seu "presidente
perpétuo". Durante quase 34 anos consecutivos, Austregésilo de Athayde presidiu o Silogeu (1959-1993), imprimindo, na sua gestão, um caráter de vitaliciedade ao cargo que fugia aos princípios originais - e que foi abandonado por seus sucessores.
Ana Maria Machado, foi eleita para presidir a academia no biênio 2012/2013. Foi a segunda mulher a ocupar o cargo.
Sucedida por Geraldo Holanda Cavalcanti.
Membros
Ver artigo principal: Anexo:Lista de
membros da Academia Brasileira de Letras
No
quadro atual da Academia, o mais
antigo dos Imortais é José Sarney, eleito em 17 de
julho de 1980, e o mais novo é Ferreira
Gullar, eleito para a cadeira de número 37 em 9
de outubro de 2014.Patronos das cadeiras
Para cada uma das quarenta cadeiras, os fundadores escolheram os respectivos patronos, homenageando personalidades que marcaram as letras e a cultura brasileira, antes da fundação da Academia.
Foi uma inovação.
A Academia Francesa, que servira de modelo, instituíra as cadeiras, mas atendendo apenas a uma numeração de um até quarenta.
A escolha desses patronos deu-se de forma um tanto aleatória, com sugestões sendo feitas pelos próprios imortais.
Historiando esta escolha, em discurso proferido na casa, no ano de 1923, Afrânio Peixoto (que dela foi presidente), deixou registrado:
“Novidade de nossa Academia foi, em
falta de antecedentes, criarem-nos, espiritualmente, nos patronos.
Machado de
Assis, o primeiro da companhia, por vários títulos, quis dar a José de Alencar
a primazia que tem, e deve ter, na literatura nacional.
A justiça não guiou a vários dos seus
companheiros.
Luís Murat, por sentimento
exclusivamente, entendeu honrar um amigo morto, infeliz poeta, menos poeta que
infeliz, Adelino Fontoura.
O mesmo, Pedro Rabelo e Pardal
Mallet.
A Silva Ramos, que lembrara Gonçalves
Crespo, nascido no Brasil, não o permitiram, por «português», aceitando,
entretanto, Gonzaga, que nascera em Portugal…
Faltavam poucos acadêmicos à escolha
e sobravam grandes patronos nacionais.
Nabuco que, para não sair de
Pernambuco, e não ter sombra, escolhera o medíocre Maciel Monteiro, lembrou aos
que faltavam, a escolha justa de grandes nomes restantes.
Ruy ocorreu logo como seu patrono,
que não estava na lista: era Evaristo da Veiga.
Ficaram muitas clamorosas
exclusões, entretanto.
É exato que a maioria é de baianos, o que trai a origem, mas, agora, já não se dirá que os sessenta patronos não incluem os mais consagráveis dos brasileiros escritores.
A exclusão desses vinte seriam
escandalosa e certamente eles valem mais que vinte dos outros quarenta,
escolhidos sem unidade de critério, ou, como devera ser apenas, critério de
justiça.”
Sócios correspondentes
Ver artigo principal: Anexo:Lista
de sócios correspondentes da Academia Brasileira de Letras.
Críticas
A Academia Brasileira de Letras já foi criticada por nunca ter se aberto para aclamados escritores da literatura brasileira, tais como Lima Barreto, Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Graciliano Ramos, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Erico Verissimo e Mário Quintana, bem como por ter tornado "imortais" os políticos Getúlio Vargas, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, ex-presidentes da República; o político catarinense Lauro Müller; o médico Ivo Pitanguy, cirurgião plástico; o inventor Santos Dumont, que apesar de suas grandes contribuições científicas, não se dedicava à produção literária; Assis Chateaubriand, magnata das comunicações no Brasil entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1960; Roberto Marinho, fundador do maior império de mídia do país; Merval Pereira, jornalista colaborador da Rede Globo; e Paulo Coelho.
Também não participaram da Academia os escritores Jorge de Lima e Gerardo Melo Mourão, indicados ao Prêmio Nobel de Literatura.
António Cândido de Mello e Sousa, Autran Dourado, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan, vencedores do Prêmio Camões, são outros nomes importantes que não figuram entre os membros da instituição.
O mérito dos patronos das cadeiras também é bastante debatido, conforme pode ser visto no trecho do discurso proferido por Afrânio Peixoto, registrado acima.
O jornalista Fernando Jorge em "A Academia do Fardão e da Confusão: a Academia Brasileira de Letras e os seus 'Imortais' mortais" critica a eleição de "personalidades" para a ABL, ou seja, pessoas influentes na sociedade, mas cuja principal ocupação não era a literatura e que, muitas vezes, produziam materiais apenas para que pudessem ser eleitos, nunca mais voltando a produzir qualquer obra de valor literário.
O pesquisador também critica o processo eleitoral, pois este não seria feito com base nos méritos literários dos candidatos.
Jorge também afirma que a Academia também não empreende projetos em favor da cultura da língua portuguesa, apesar de dispor de capital para, por exemplo, relançar edições esgotadas e promover campanhas de alfabetização e incentivo a leitura.
Além disso, para o escritor, a instituição permaneceu calada diante das pesadas censuras do Governo Vargas e do Regime Militar brasileiro.
Hoje, aconselha-se que os fundadores de academias de letras, não tomem posse nas mesmas como acadêmicos, para não deixar transparecer, que estão legislando em causa própria, até que seu quadro de sócios acadêmicos seja formado por escritores que atendam as exigências do estatuto, que deve seguir sempre o modelo da ABL, para que não seja vulgarizada a verdadeira origem da fundação de academias de letras, como já está acontecendo em várias cidades do Brasil, que se criam academias de letras, apenas para atender a vaidade pessoal e o ego de indivíduos que escrevem qualquer coisa, e já se acham credenciados a se tornarem membros de uma academia de letras sem atender as exigências de ingresso nessas entidades.
Fonte: Portal Literatura.
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