Elio Gaspari |
Nosso Guia
quer confundir a Petrobras com a gestão do comissariado petista com que
aparelhou a empresa
Lula fez uma involuntária defesa do voto útil, aquele que vai para
qualquer lugar, desde que o PT vá embora.
Foi para a frente do prédio da
Petrobras e disse o seguinte:
“Já houve três pedidos de CPI só na Petrobras.
Eu tenho a impressão de
que essas pessoas pedem CPI para, depois, os empresários correrem atrás delas e
achacarem esses empresários para ganhar dinheiro.
(...) Se alguém roubou, esse
alguém tem mais é que ser investigado, ser julgado.
Se for culpado, tem que ir
para a cadeia.”
A Petrobras petista apareceu em várias CPIs.
A primeira, de 2005, foi a
do mensalão. Duas outras foram específicas e, com a ajuda do comissariado,
deram em nada.
Se Nosso Guia acha (e tem motivos para isso) que,
incentivando-as, há “pessoas” achacando empresários que correm “atrás delas”,
não se conhece uma só fala de petista denunciando achacados ou achacadores.
O
relator da comissão que está funcionando é o petista Marco Maia.
O primeiro comissário apanhado em malfeitorias relacionadas com a
Petrobras foi o secretário-geral do PT, Silvio Pereira.
“Silvinho” fez um
acordo com Ministério Público e trocou o risco de uma condenação por 750 horas
de trabalho comunitário.
Ele ganhara um reles Land Rover de um fornecedor da Petrobras.
Nem Lula nem o PT condenaram-no publicamente.
Se o tivessem feito, teriam
emitido um sinal.
Afinal, dissera o seguinte: “Há cem Marcos Valérios por trás
do Marcos Valério.” Ele está na cadeia.
Salvo a bancada da Papuda, os demais
estão soltos.
Em 2009, quando foi instalada a primeira CPI para tratar exclusivamente
da Petrobras, o comissariado disse que a iniciativa tentava tisnar a imagem da
empresa.
Resultou que ela tisnou a imagem do instituto da CPI e os
petrocomissários continuaram nos seus afazeres.
Paulo Roberto Costa estava na
diretoria da Petrobras desde 2004.
Em oito anos, amealhou pelo menos US$ 23
milhões.
A CPI de hoje é abrilhantada também pelos petistas Humberto Costa, José
Pimentel e Sibá Machado.
Nenhum deles, nem Marco Maia, deve vestir a carapuça
da fala de Lula, mas jamais apontaram um achacador.
“Paulinho” foi preso em
abril pela Polícia Federal e em seu escritório foram recolhidas abundantes
provas de seus malfeitos.
Ele prestou um depoimento à CPI em junho e o senador
Humberto Costa considerou-o “satisfatório”.
“Paulinho” disse o seguinte: “A
Petrobras não é uma empresa bandida nem tem bandidos em seus quadros.”
Tinha
pelo menos um, hoje confesso: ele próprio.
Nessa comissão, como na anterior, a bancada governista não se deu conta
do risco que corria.
Descobriu-o há poucas semanas, quando “Paulinho” começou a
colaborar com a Viúva.
De saída, devolverá os US$ 23 milhões guardados em sua
conta suíça, revelação ocorrida no dia seguinte ao seu depoimento.
Nessa faxina
não houve a colaboração do PT.
Durante a campanha eleitoral de 2006, o comissariado encurralou o
tucanato, acusando-o de ter tentado privatizar a Petrobras.
Era mentira, mas
deu certo.
Passados oito anos, Lula requentou o truque, mas há uma diferença:
uma pessoa de boa-fé podia acreditar que os tucanos quisessem privatizar a
Petrobras, mas fica-lhe difícil achar que falar em petrorroubalheiras possa
prejudicar a empresa.
Elio Gaspari é jornalista
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