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quarta-feira, maio 21, 2014

Idoso fica cego após trabalhar, sem salário, durante 30 anos em fazenda do interior do Rio


Cego, Manoel Pereira Ferreira ainda mora no imóvel vizinho ao cativeiro em que três homens viveram durante mais de dez anos
Cego, Manoel Pereira Ferreira ainda mora no imóvel vizinho ao cativeiro em que três homens viveram durante mais de dez anos Foto: Rafael Moraes / Extra / Agência O Globo
 
 
Roberta Hoertel
 

Beco Isadir, bairro Angelim. 

Quinze quilômetros do Centro de São Fidélis, no Norte Fluminense. 

Entre o canavial e a fazenda explorados por Paulo Cesar Azevedo Girão, uma construção esconde um pequeno cômodo sem janelas e com telha de amianto. 

Do lado de fora da porta, um cadeado. 

Dentro, o cheiro forte de mofo. 

A alguns passos, um chiqueiro. 

Em frente ao quarto, Manoel Pereira Ferreira, de 75 anos — os últimos 30 dedicados à família Girão — segura seu bastão. 

Quase faz parte do cenário, como uma sombra dos anos em que ele e outros roceiros eram mantidos em cativeiro e tinham sua mão de obra explorada em condição que seria análoga à de escravo. 

Três foram libertados no último dia 26 de abril. 

A polícia agora apura a morte de pelo menos outros dois em 13 anos. 

Preso, o fazendeiro nega as acusações.

Manoel chegou às terras de Paulo Girão aos 45 anos e passou a trabalhar de sol a sol no canavial e na fazenda. 

Em três décadas, nunca recebeu um centavo. 

Perdeu os laços com os três filhos. 

A boca quase não tem dentes. 

Aos 69 anos, perdeu também a visão. 

Dois anos depois, parou de trabalhar, mas continua rendendo benefícios à fazenda: é o capataz do fazendeiro que recebe a pequena aposentadoria de Manoel. 

A exploração da mão de obra do canavieiro é considerada, pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Civil, situação análoga à escravidão. 

Para ele, é a única vida que conhece.

— Quando eu trabalhava, também não recebia. 

Só a comida só. 

Também não botei questão pra ninguém. 

Ele (Paulo Girão) me ajudou, me colocou no carro para operar a vista. 

Me davam o quarto pra dormir. 

Não faço questão de salário. 

Só saio daqui morto. 

Eu gosto deles. 

Me dão arroz, feijão, canjica e até carne. 

Segundo o Código Penal, o crime (de redução à condição análoga à de escravo), entretanto, independe da consciência da vítima. 

— O sucesso do trabalho escravo depende de o trabalhador não ter a noção da escravização. 

O trabalhador pode ser convencido de que está recebendo um ato generoso e bondoso — explica Ricardo Rezende, coordenador do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo (GPTEC) da UFRJ.

Mãos calejadas são marcas do trabalho pesado nos canaviais de São Fidélis
Mãos calejadas são marcas do trabalho pesado nos canaviais de São Fidélis Foto: Rafael Moraes / Extra
 
 
Presos em flagrante com versões contraditórias

Presos em flagrante, o fazendeiro Paulo Girão, seu filho Marcelo Conceição Azevedo Girão, de 32 anos, e Roberto Melo de Araújo, o encarregado, de 38, se contradisseram nos depoimentos à polícia. 

Paulo negou que os três trabalhadores libertados e Roberto Melo trabalhassem para ele. 

Já o capataz admitiu que era funcionário de Paulo Girão, assim como os três canavieiros. 

Contou que recebia R$ 500 por semana, mas nunca viu qualquer pagamento para os outros. 

Segundo o depoimento, de segunda a sexta-feira, o capataz levava o trio para o local de trabalho em terras de terceiros, e retornavam depois de oito horas de serviço. 

Tudo sempre a mando de Girão. Segundo os trabalhadores, Marcelo por vezes ocupava o papel do pai.

Carlos Eduardo Mota Ferraz, advogado de Girão, afirmou que não havia vínculo empregatício entre os canavieiros e seu cliente. 

Ele alegou que o contrato dos funcionários era eventual e o pagamento, por diária. 

Sobre as mortes na fazenda, disse que não foi informado oficialmente e, por isso, não comentaria.

O capataz afirmou que nenhum deles tinha carteira de trabalho assinada, férias ou qualquer benefício. 


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