Por Fabio Campos
Estamos vivendo tempos difíceis no campo doutrinário
dentro das igrejas evangélicas.
O mérito legalista pregado por alguns líderes tem
“ofuscado” a doutrina da graça e o favor imerecido de Deus.
A pregação não vem mais pela exposição do texto
bíblico, agora trata de normas de “boas-condutas” moralista - rudimentos do
mundo, baseados em regras como - “não manuseia”; “não prove”; “não toque” –
ensinos humanos ascéticos com o intuito de refrear os desejos pecaminosos da
carne.
Tudo isso tem uma aparência de piedade e humildade,
contudo, não tem valor nenhum para domar o coração que é corrupto e enganoso.
Para onde vai à graça? Para o mérito! Se for por
mérito, já não é pela graça. Nisto se forma cristãos que estão seguros em seu
próprio desempenho ao invés no de Cristo.
Resultado? Culpa! Se apoiar na culpa é viver na
possibilidade da carne ao invés da do Espírito.
Não é a culpa que nos leva ao arrependimento.
O que
nos leva ao arrependimento é a bondade de Cristo.
Todo cristão precisa ter a certeza da sua salvação!
Entretanto, por “cristão”, o “título”, passou a ser genérico socialmente
falando.
No âmbito social cristão enquadram-se os protestantes,
católicos, espíritas e as vertentes destas religiões.
Contudo, ser cristão conforme ensina a Escritura está
além de um rótulo.
Segundo o teólogo Wayne Grudem a fé cristã consiste em
“ouvir o evangelho [genuíno], a regeneração do Espírito Santo, a resposta com
fé e arrependimento, o consequente perdão e a adoção como filhos da família de
Deus”. Todas coisas essas produzidas pelo o Espírito Santo no coração do
pecador.
Você pode estar pensando -, “mas continuo a pecar” –
sim! e vou além... Você não é pecador porque peca - você peca porque é pecador,
e disto ninguém se atreve a levantar suspeita, pois quem assim faz, diz de Deus
um mentiroso (1 Jo 1.10).
Todos somos pecadores (Rm 3.10), porém, existem duas
classes de pecadores: os regenerados e os não regenerados!
Os “regenerados” se entristecem com o pecado; os “não
regenerados” se alegram com o pecado.
Pecar é uma coisa, porém, viver na prática deliberada
é outra, o que demonstra que ainda não houve o novo nascimento-, pois o homem
carnal deseja as coisas da carne - o espiritual deseja as coisas do Espírito.
Tudo é uma questão de onde está o seu coração
concernente ao pecado: na alegria ou na tristeza!
Pois bem, suponhamos que você é um cristão de fato,
nascido de novo e tem grande desejo em agradar a Deus [mesmo falhando].
Acerca de ti a Escritura diz: “Agora, pois, já nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).
O Senhor é por nós!
Ele é quem nos ajuda! Então, quem poderá nos condenar (Is 50.9)?
Para que possa haver condenação se faz necessário um
“julgamento”. Contudo, “quem nEle crer não será julgado” (Jo 3.18).
A fé vem pelo ouvir, e crendo no Filho, este [que
ouvir e praticar] é porque já tem a vida eterna em si.
Ele “não entra em juízo, mas passou da morte para a
vida” (Jo 5.24). Deus não brinca de “morto” “vivo”. Quem “passou da morte para
a vida”, não “morre” mais.
Quem então condenará os escolhidos de Deus? É Deus
quem os justifica. E não somente isso, mas Cristo morreu por eles, e
ressuscitou; se fez Advogado ao lado direito do Pai para ser a propiciação dos
nossos pecados quando praticados (1 Jo 2.1-2).
O mandamento principal é “amar a Deus acima de todas
as coisas”. O nascido de Deus não se esforça para amar o Senhor. Ele se esforça
em agradá-lo.
Mas amar a Deus é uma consequência do novo nascimento,
pois o amor procede de Deus, e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece
a Deus (1 Jo 4.7).
A Bíblia nos ensina que aquele que se apegou a Deus em
amor, é livre, e por conhecer Seu nome, prova que é um salvo (Sl 91.14).
Ainda que na angústia, por amor a Deus, ele invocará o
Senhor e terá sua resposta, e com ele Deus estará (Sl 91.15-16). Precisamos
apenas permanecer no seu amor, pois no amor não existe medo, antes lança fora
todo o temor.
Muitos não amam a Deus, mas temem a Ele: “Ora, o medo
produz tormento; logo aquele que teme não é aperfeiçoado no amor” (1 Jo 4.18).
Muitos irmãos vivem uma vida “raquítica” pelo fato de
não terem certeza de sua salvação. De fato, não há felicidade no medo.
Mas quando a certeza do amor de Deus invade nosso
coração, o que é atribulação virá perseverança; a perseverança gera a
experiência; a experiência nos traz esperança, e a esperança não nos traz medo,
pois ela não confunde, porque o amor de Deus foi derramado em nosso coração
pelo o Espírito Santo.
Tudo isso foi pelo seu grande amor, ao ponto de sermos
chamados “filhos de Deus” (1 Jo 3.1).
Você pode dizer: “Como sei então que sou filho de
Deus?” A Bíblia nos ensina que o “Espírito testifica com o nosso espírito que
somos filhos (Rm 8.15). Isso vai além da capacidade cognitiva racional do
homem.
O Espírito é quem diz direto a nossa consciência e
atesta esta certeza em nossa alma tendo por consequência a paz e a alegria que
excede todo o entendimento.
O processo é o mesmo que houve na vida de Pedro. Ao
confessar que “Jesus era o filho de Deus” (Mt 16.17) – isso que ele disse não
foi revelado por homem algum, mas pelo “Pai que está nos céus” (Mt16.18).
O Salvador não precisa do salvo. Para ser salvo, o
perdido precisa de um salvador.
O homem só chegará à perfeição “quando Cristo se
manifestar, pois o veremos assim como Ele é” (1 Jo 3.2).
Entretanto, o verdadeiro cristão geme pela redenção do
corpo e nesta esperança purifica a si mesmo (1 Jo 3.3).
Martinho Lutero disse que “o pecado é como a barba;
cresceu, tem que raspar”. Nesta condição o sangue de Jesus nos purifica de todo
o pecado.
O crente não apenas precisa ter a certeza da sua
salvação, mas também que, em momento algum, pode perdê-la, pois o nascido de
Deus conserva a si mesmo e o maligno não o toca (1 Jo 5.18).
Tenho que concordar com a piada feita por um pastor
calvinista.
Ele disse que alguns crentes [principalmente os
arminianos] fazem de Deus a brincadeira do “bem-me-quer”, e do “mal-me-quer”.
“Estou salvo no domingo - na segunda-feira pequei - na quarta me arrependi -
voltei a ser salvo na quinta”.
Este não é o Deus da Bíblia e nem o Salvador dos
homens, Jesus Cristo. O Senhor conhece nossa estrutura e sabe que, se a
salvação dependesse de nós pela consequência do nosso desempenho, certamente,
perderíamos. Acerca disso diz Martinho Lutero:
“Se a minha salvação fosse deixada ao meu encargo, eu
não conseguiria enfrentar vitoriosamente todos os perigos, dificuldades e
demônios contra os quais teria que lutar.
Porém, mesmo que não houvesse inimigos a combater, eu
jamais poderia ter a certeza do sucesso”.
O bom pastor dá a vida pelas ovelhas e não cobram
delas.
A ovelha verdadeira ouve a voz do seu pastor (Jo 10.
3-5) e mesmo que num momento de loucura, ela se desgarre, o bom pastor deixará
as noventa e nove para buscar a que se perdeu.
É muita segurança!
As ovelhas conhecem o Pastor e o
Pastor conhece as suas ovelhas.
O Pastor deu a vida por elas!
A segurança é tanta que
o Filho diz “nenhuma delas [ovelhas] perecerão, e ninguém, absolutamente
ninguém, nem você mesmo, poderá fugir das mãos do Pai e do Filho, pois os Dois
são Um” (Jo 10.27-30). Warren Wiersbe ilustra bem a dinâmica desta segurança:
“Deus é por nós e provou isto, dando-nos seu
Filho (Rm 8.32). O Filho é por nós e prova isto, intercedendo por nós junto ao
Pai (Rm 8.34).
O Espírito Santo é por nós, assistindo-nos em nossa
fraqueza e intercedendo por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26).
Deus está trabalhando para que todas as coisas
contribuam para o nosso bem (Rm 8.28). Em sua pessoa e em sua providencia, Deus
é por nós”.
A garantia perpétua da salvação não se encontra em
nós, mas na fidelidade do Senhor.
A aliança foi feita pelo sangue de Cristo e por um
alto preço fomos comprados.
Tanto o querer como o efetuar esta no Senhor: ”Por
isso Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a IMUTABILIDADE do seu propósito, se interpôs com juramento” (Hb 6.17).
Segundo o comentário bíblico WIERSBE, “quando Deus fez
aquela promessa a Abraão, ele a endossou, pondo a própria reputação em jogo.
Ele disse: ‘Prometo que o abençoarei com tudo que tenho; bênção, bênção e
bênção’.
Abraão se agarrou a isso e recebeu tudo que lhe fora
prometido.
Quando alguém faz uma promessa, oferece também uma
garantia, apelando para alguma autoridade acima dele.
Assim, se houver alguma dúvida a respeito da promessa,
a autoridade entra em ação, decidindo qualquer questionamento.
Deus, como garantia de suas promessas, deu sua palavra
– uma garantia sólida como rocha.
Deus não pode quebrar sua própria palavra, e,
como sua palavra não pode mudar, sua promessa é também imutável”.
O texto [Hebreus 6.17-19] traz o sentido de “um
fundamento firme, forte, estável e seguro; aquilo que não falha ou oscila,
imóvel e no que se pode confiar”.
Fomos justificados pelo sangue de Cristo, e
justificação nas palavras do Rev. Hernandes Dias Lopes, “trata do ato forense,
legal e final.
Ela jamais pode ser alterada, cancelada ou diminuída
em seus efeitos. A justificação é irrepetível”.
Em segurança o Senhor nos selou por sua propriedade:
“... o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados
com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança,
até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef
1.13-14).
Esse selo tem por conotação “estampar”,
“marcar” (com um sinete ou uma marca particular) para segurança ou preservação
(literal ou figurado).
O penhor trata de “um calção”; uma garantia
oferecida como forma de ratificação de um contrato (LXX: Gn 38.17,18,20).
É usado metaforicamente referindo-se aos privilégios
dos cristãos nesta vida, especialmente ao dom do Espírito Santo, como sendo uma
garantia, uma bem-aventurança futura no reino do Messias.
Tudo isso foi pelo
Senhor para sermos sua propriedade.
Quando você compra um imóvel é necessário que haja uma
averbação na matrícula da transferência da propriedade do antigo para o novo
dono, aquele que a comprou. Tudo isso é lavrado em cartório.
Uma vez que esse procedimento é feito dentro da lei, o
antigo dono não poderá “reclamar” pela propriedade que um dia lhe pertenceu.
Foi exatamente isso que o Senhor fez conosco.
Nos comprou por um alto preço [a saber, o sangue de
Cristo] e nos transferiu do reino das travas para o reino da luz.
O Espírito Santo é o selo e a garantia desta compra
– e o dom dado por Deus é irrevogável (Rm 11.29).
A reflexão que fica: “se você não tem certeza da sua
salvação, então o que falta fazer para tê-la”? Existe alguma coisa que você
possa fazer [mesmo confessando ser um cristão verdadeiro] para ter a certeza da
salvação?
Se for assim já não é pela fé, mas por obras; porém,
as Escrituras nos ensina que é “pela fé e não por obras, para que ninguém se
glorie diante de Deus” (Ef 2.8-9).
No dia que tivermos a certeza de nossa salvação em decorrência
das nossas obras, diante de Deus, seremos pobre, cego e nu, pensando estar
ricos e com falta de nada.
A prepotência diante de Deus e dos homens tomará conta
de nosso coração para nossa própria ruína. Por isso que graça nos faz humildes
para com Deus e para com homens; ela confronta nossa limitação com infinitude
de Deus.
O teólogo Wayne Grudem diz que “se pensássemos na
justificação como baseada em algo que somos internamente, nunca teríamos a
confiança de dizer com Paulo: ‘Portanto, agora já não há condenação para os que
estão em Cristo Jesus’ (Rm 8.1)”.
Muitos irmãos tem dúvida acerca da sua salvação porque
olham para si ao invés de olharem para Cristo.
Não há nada que possamos fazer, ou deixar de fazer,
para que Deus nos ame mais ou menos quando estamos em Cristo. “Não vem de nós,
é presente de Deus, para que ninguém se glorie”.
Muitos pensam que ter a certeza da salvação é um ato
arrogante. Pelo contrário! Ela não depende do que faço, mas do que Cristo fez,
e isso exige uma submissão.
O contrário é que é orgulhoso! “Ainda não tenho a
certeza, mas um dia, pela minha conduta, vou ter”.
Não! Tudo é por meio dEle e para Ele. Paulo sabia que
não tinha a perfeição, mas prosseguindo para o alvo, a dúvida nunca o assolou.
Como sabia em quem cria e que Jesus era [e é] poderoso
para guardar sua fé até o dia final, não hesitou em escrever: “Pois estou
certo” (Rm 8.38). Repare que ele não tinha dúvida, ele não disse: “Ainda não
tenho certeza”.
Não! É certeza absoluta; não por ele, mas pelo amor de
Deus que está em Cristo Jesus, o Senhor.
Você que está em Cristo e tem dúvida da sua salvação,
convido a meditar nesta passagem:
“Quem nos separará do amor de Cristo? Será atribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez,
ou perigo, ou espada?
Como está escrito: "Por amor de ti enfrentamos a
morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao
matadouro".
Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores,
por meio daquele que nos amou.
Pois estou convencido de que nem
morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem
o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nemprofundidade, NEM QUALQUER OUTRA COISA NA CRIAÇÃO SERÁ CAPAZ DE NOS SEPARAR DO
AMOR DE DEUS QUE ESTÁ EM CRISTO JESUS, nosso Senhor”. – Romanos 8. 35-39.
É muita segurança para que possamos ter uma única
dúvida ainda que seja do tamanho de um grão de mostarda. Em Cristo “temos esta
esperança como âncora da alma, firme e segura” (Hb 6.19).
Ainda que o diabo e os homens nos acusem, Deus jamais
aceitará acusação contra nós que fomos justificados pelo Nosso Senhor Jesus
Cristo - ainda que nosso coração nos acuse, Deus é maior que nosso coração,
pois Ele sabe de todas as coisas.
“Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é
Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas”. – 1 João 3.20.
Que Deus ponha em nós através de Jesus Cristo a
certeza de nossa salvação - assim desfrutaremos pela paz que excede todo o
entendimento da comunhão e da alegria que há em Nosso Senhor.
Só assim teremos vida, e esta, em abundância.
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
fabio.solafide@mail.com
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário