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segunda-feira, junho 18, 2012

Meninas são obrigadas a engordar em país africano para conseguir se casar


Ritual para engordar começa a partir dos 5 anos de idade. Mulheres confessam que, mesmo com dificuldades para andar e dores nas articulações, fazem de tudo para ganhar peso.
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Para as mulheres que vivem de regime e não conseguem emagrecer, a ideia a principio pode parecer tentadora: morar em um lugar onde só as mulheres gordas são consideradas bonitas. Pois esse lugar existe. Aliás, quanto mais gorda, maior a chance de uma moça conseguir um casamento por lá. Por trás de uma cultura ancestral, existe uma prática cruel que tortura gerações e gerações de meninas.

O paraíso da gordura localizada, localizada em todo o corpo. Quanto mais pneuzinhos, estrias e celulite, mais desejada é a mulher. "É um sinal de que a família dela tem dinheiro", diz o rapaz. "As magras não são boas pra namorar", afirma o mais velho.

Na Mauritânia, um país do noroeste da África, fincado no meio do deserto do Saara, uma das regiões mais pobres do mundo, se esconde um segredo chocante: uma geração de mulheres incapacitadas por serem gordas demais. E isso porque, na infância, elas foram obrigadas a comer muito além do que seus corpos poderiam suportar. Tudo pra conseguir um casamento.

Meima não anda há pelo menos três anos. Ela conta que apanhou muito quando era criança. E não foi a única. Muitas meninas tiveram pernas e braços quebrados enquanto eram forçadas a comer quantidades imensas de leite e cuscuz.

De uns tempos para cá, Meima passou a sentir dores nos ossos e não conseguiu mais ficar em pé. Os hospitais da Mauritânia estão cheios de casos parecidos. Uma paciente foi engordada à força dos 7 aos 14 anos e hoje pesa 113 quilos. Um médico diz que é muito difícil encontrar na Mauritania uma mulher com mais de 30 anos que não sofra com as consequências da obesidade: diabetes, pressão alta, artrite nos joelhos, além de problemas na vesícula e nos rins. Elas começam com dificuldades pra andar e aos 50 anos já estão completamente incapacitadas.

Longe da cidade, no deserto dominado pelas secas e pela fome, a tradição resiste com força. As famílias aguardam ansiosas pela chuva. Com ela, as vacas vão ter o leite necessário para engordar as meninas. E o ritual começa cedo, a partir dos 5 anos de idade. Quanto mais leite elas tomam, mais cedo entram na puberdade e então ficam prontas para casar.

A família de Zena é muito pobre e por isso, aos 17 anos, ela é magra. E tem vergonha de ser assim. “Todo mundo sabe que a mulher gorda é muito mais bonita. Só as gordas conseguem marido”, diz a adolescente.

A vida dos nômades mudou muito nas últimas décadas. Antigamente, tribos inteiras atravessavam o deserto atrás de pasto para os animais. Hoje, as crianças vão pra escola. E as mães ficam nas tendas enquanto os maridos alimentam os rebanhos. Mas a cultura da obesidade persiste entre as mulheres como uma obsessão. Elas confessam que mesmo com dificuldades para andar e dores nas articulações, fazem de tudo para ganhar peso. Quando falta comida, todas vão atrás de remédios, pílulas que fazem engordar.

Com uma câmera escondida, uma produtora da rede de TV britânica BBC mostra como é fácil conseguir esses medicamentos sem prescrição alguma. No hospital, o medico se espanta com o que vê. São caixas de corticóides, hormônios sintéticos que, se usados de forma errada, podem causar diabetes, pressão alta, insuficiência renal e até morte. Quem toma estes medicamentos engorda logo, porque os remédios aumentam muito o apetite.

Com a chegada da chuva, só os meninos são vistos brincando. As meninas ficam em casa. É hora de engordar. A família desta menina sorridente mostra com orgulho o ritual para a televisão. Souadu tem 10 anos, e há pelo menos dois vem sendo engordada à força pela avó.

Entre as mulheres da Mauritânia, o ritual é visto como uma prova de amor. A garantia de um futuro melhor. “A mulher gorda é linda”, diz a avó. Longe da família, Soadu confessa: ela não quer ser gorda. Tem medo de ficar incapaz. Por isso, várias vezes ao dia, a menina coloca o dedo na garganta e bota tudo para fora.

Nos últimos anos, entidades de direitos humanos vêm brigando para acabar a tradição que tortura meninas em pleno século 21. Campanhas alertam para os perigos da obesidade. E a pratica de exercícios é incentivada. Mas acabar com a ditadura da beleza na Mauritânia - assim como em qualquer parte do mundo - depende mesmo é das mulheres.

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